quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Dançando Descalço

Em comemoração à 1 ano da minha primeira publicação na mojobooks
http://www.mojobooks.com.br/





Estamos dançando descalços esta noite e você põe os seus pés sobre os meus talvez para não sentir frio ou apenas para ficar no meu tamanho, enquanto essa estranha música se desenha no ar. Eu te conduzo entre velas espalhadas pelo chão e taças com restos de vinho mesmo sem saber os passos, e você apenas confia em mim com este seu olhar fixo no além desta sala e esse seu sorriso tão espalhado por todos os cantos da minha vida. Eu tenho a pesada sensação de que estamos flutuando em nossa última canção, nesta última dança onde tocarei o seu corpo pela última vez com minhas últimas lágrimas, essas que você não poderá sentir e devolver. E eu estou com medo desta música terminar, de você se despedir e por algum motivo que eu jamais saberei, nunca mais voltar. E eu te quero, meu deus, como eu te quero para sempre sobre os meus pés dançando entre essas taças e velas, flutuando. Te abraço e te deito delicadamente no chão mas você não parece se importar. Ainda dança e flutua pelo ar em sua ilusão de felicidade, que afinal eu nunca lhe proporcionei. Teus olhos inundados de vinho me fazem acreditar na mentira de que nada será mais pela última vez.

Eu vejo morrer o outono em seus olhos da cor da minha morte e incertos como a minha vida, e uma rosa cárnea desabrochar em primavera entre suas pernas embebidas em fel e que eu não posso tocar ou colher. Tentativas inúteis entre seus movimentos delicados conforme a canção que ainda preenche o ar durante nossa última noite. É fácil pensar em suícidio quando não estou com você e é melhor manter-se ébrio quando você está longe e eu sei que mesmo que volte, ainda estará longe dos meus braços e do meu amor. Minha benção e minha maldição e toda a desgraça da minha felicidade incompleta. Entre cigarros e papéis nunca surgiram poesias à você por mais sujas e líricas que fossem minhas inspirações noturnas após o sexo, quando eu me sentia sozinho em seu corpo vagando pelo vazio do seu amor.

E você continua pura entre meus braços que se confundem entre os seus, nessa dança frenética sobre o carpete onde você não quer mais ser conduzida e quer que troque a canção, mas eu quero que seja esta e pego suas mãos que antes já foram minhas com tanta calma e as faço percorrer pelo meu corpo em febre. Seus gritos me soam como uma oração a algum Deus muito bom. Gozo sentindo suas lágrimas misturadas a todos os meus fluídos, enquanto você se afasta de mim procurando mudar a canção.

Agora ela é triste, assim como os seus olhos.

Agora ela é desesperada, assim como o seu adeus entre gritos de ódio e taças quebradas de vinho e sangue pelo carpete.

Agora ela termina, como em breve farei com a minha vida.

Estou dançando descalço mas ainda sinto o peso dos seus pés sobre os meus.



27 comentários:

Julia disse...

"Eu vejo morrer o outono em seus olhos da cor da minha morte e incertos como a minha vida"

Preciso dizer que isso foi uma das coisas mais incríveis que eu já li?

E casou tão bem com a música, eu sempre ouvia e pensava em uma mulher forte e não em um homem assim, tão fragilizado.
Aliás, eu já devo ter lido algo seu por lá e não faz tanto tempo.

Emocionante mesmo, e lindo e mágico.

Marcelo Mayer disse...

coloque um sapato, vá numa sala revestida de madeira e dance com raiva!

Heloísa Vilela disse...

Eu não sei o que devo comentar, acho que não caberiam comentários meus aqui. Esses homens, são no fundo, muito mais fragilizados do que as mulheres.

Ah, cara, assim que eu comecei a ler, lembrei de "Dançando com a Lua" do Capital Inicial.
Não sei se por causa do título do post, ou porque eu achei a letra meio parecida com o que eu entendi desse seu texto. Mas enfim, o fato é que eu gostei muito.

Beijos

Solange Maia disse...

Belo texto....

Dançar sem os sapatos, um pé sobre o outro... isto sim é nudez !!!

Belo sim...
Belíssimo.


Beijo

Unknown disse...

Em meio a tantas coisas dispensáveis, a web traz boas surpresas. Além da sua bela e intensa (re)criação, descubro aqui a Mojo Books, que, como mais recente lançamento, apresenta o conto de uma escritora da terrinha (Passo Fundo), Jana Lauxen. Felizes acasos...

Parabéns pelos escritos e gracias pela gentileza do comentário!

Juliano disse...

Prendia o choro e aguava o bom do amor..♫
Cazuza

Beijooooos

A nossa música nunca mais tocou...♫

Anônimo disse...

Agradecendo e retribuindo o carinho da visita ... adorando tudo isto aqui ... seguindo ...

Parabéns ... 1 ano ... já tem história ...

Ah! Dancar! ... dance dance dance ... algo de inebriante ... adoro ...

Cerveja de graça? onde? onde? ops ...

bjux

;-)

Rene Serafim - "Juninho" disse...

Sentir... e sentir novamente!

Jaya Magalhães disse...

Katrina,

Fui lendo e querendo recortar melhores trechos, pra expor aqui e comentar em cima. Mas daí, quando vi, notei que não dava pra selecionar o texto inteiro.

Tua escrita foi puro filme, aos meus olhos. Fiz a cena comigo sendo personagem. Senti tudo o que ardeu, que foi doce, que foi pancada, que foi sonho e (des)ilusão.

Dançar sem pisar o chão, quando o outro é um pouco céu, é a coisa mais linda.

Um beijo, moça.

HugoCrema disse...

E houve um período genial no texto que descreve minha atualidade:
"É fácil pensar em suícidio quando não estou com você e é melhor manter-se ébrio quando você está longe e eu sei que mesmo que volte, ainda estará longe dos meus braços e do meu amor"

Gostei muito, falar de frustração de um jeito tão lírico, desvairado e sem resignação, embora, sem condescendência é para poucos. Parabéns.

.maria. disse...

depois do seu poema de terça-feira, pensei que nada mais poderia me surpreender.

gabi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
gabi disse...

ahh, não posso ouvir falar em Mojo Books!!
ano passado, criei um do Lights Grenades - Incubus e enviei.
depos de um ano veio a resposta : RECUSADO. ARQUIVO NÃO CHEGOU.
quase chorei.
um ano inteeiiirooo esperando e no final não fui nem avaliada.

tô pensando em fazer do Chinese Democracy do Guns, mas quando eu penso na demora..

.maria. disse...

a liberdade é azul

Claudia F. disse...

Minha opinião sincera do que deverias fazer com este texto seria redundante, pois já fizestes: compartilhar.

Sinto ainda um aperto no peito e a soma das tuas palavras me fazem querer ouvir esta música, chorar, escrever.

estou ainda passeando por aqui, por teus 'sons e fúrias' e e me pergunto: se teu lixeiro é assim o que estará sobre a mesa?

adorei te conhecer e te ler. O que deves fazer? continue escrevendo!

Obrigada pela visita, especialmente por que assim conheci você!

Bjs de uma pequena ilha ao sul

Claudia Félix

wcastanheira disse...

Belo, profundo, instigante, parabéns adorei seu texto, uma beleza navegar no seu conteúdo, uma delicia esta viagem maravilhosa uma mistura de aventura com amor, é mto bom estar na sua página, mto bom mesmo, parabéns, bjos, bjos, bjosss

Wilson Torres Nanini disse...

Vc dança delicadamente descalça sobre cacos de vidro ao relento de um vinho tinto. Abraços!

Erica Vittorazzi disse...

Dançar já é bom, descalço então...

seria ótimo que algumas músicas não acabassem...


lindíssimo texto, Katrina!
Parabéns!!!

CL disse...

Creio que não será tão bom pra ela dançar sobre o chão como era dançar sobre os pés dele, apesar de tudo...

Conheço a Mojo Books e já me disseram para publicar alguma coisa lá, mas ainda não me decidi.

Márcia disse...

sinto inveja da sua intimidade com as palavras, o texto ficou muito bom mesmo '-' estou pasma, não há o que comentar, você já falou tudo .

Jaya Magalhães disse...

Katrina.

Vim só dizer teu nome, já que não tem letra nova.

KATRINA.

Gritado é mais legal.

KATRINAAAAAAAAAAAAAAAAA,

BEIJOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!

Daiana Costa disse...

Amor e dor. É Sobre o que deveras sente. Mais o cuidado para não pisar nos cacos de vidros, que talvez sobrassem destas taças.

DBorges disse...

Incrível.
Foi o melhor que já li aqui.

Nathália Monte ;D disse...

Poxaa.que texto bem escritO.

beijO ;D

Eri disse...

quem tem talento tem talento

Mariana Andrade. disse...

"Eu tenho a pesada sensação de que estamos flutuando em nossa última canção, nesta última dança onde tocarei o seu corpo pela última vez com minhas últimas lágrimas, essas que você não poderá sentir e devolver."

dentre muitos e muitos textos que já li, ou até mesmo dos que costumo escrever, esse foi o mais bonito de todos. JURO, JURO MESMO. não costumo ler textos tão grandes com tanta intensidade, mas devorei o teu, e estou sendo sincera ao dizer que meus olhos emocionaram-se no final.
LINDO, somente.

virei seguidora, com toda a certeza!

bjão ;*

Anônimo disse...

Que foda. Caramba.
Me lembrou "eu sei que vou te amar" que coincidentemente dei uma folheada hoje e ao ler, fiquei tão impressionada e tão envolvida com que fiquei até com medo de continuar lendo. Era capaz de cair nesse fundo poço que é a saudade, misturada a solidão e ao grande e maior segredo da humanidade: o amor.

O seu texto me fez me sentir assim. Foda. Amei, demais, mesmo!

;**