sexta-feira, 6 de maio de 2011

Excerto.

Simétricos, digo que são os dias em que se erguer das próprias cinzas já não pode ser considerado força de vontade ou persistência, mas insuficiência de provas de que nada vale a pena (e provavelmente posso estar errado também em relação a isso) e não há mais nada a se perder além dos anos, já perdidos, que se reservam ao direito se serem lembrados com amargura, num café muito forte e sem açúcar ao acordar & também se lembrar (são tantas coisas!) de que é necessário encarar o frio das 7 da manhã num ponto de ônibus, ao lado de pessoas que não se conhecem o suficiente para insistirem em conversas redundantes até que qualquer cordialidade é dissipada (não, talvez extirpada cairia melhor) quando as leis da física precisam ser postas em prova, vários corpos num mesmo espaço onde qualquer ação sempre será sujeita as piores reações possíveis e a inércia não existe a partir do momento em que o ônibus faz uma curva e 5 corpos jogam meu corpo contra a janela poluída com a vida do lado de lá. Então estou aqui reconstruindo tudo o que destruí, com os materiais mais em conta do mercado e com mão de obra desqualificada. E se um dia ela me perguntar o que é esta construção tão miserável, onde até os observadores se intimidam com tamanha humildade e falta de qualquer projeto assinado por um técnico, terei de lhe dizer (quase soluçando) de que se trata do meu caráter.









(Capítulo 8 do romancemprocessodegenerativo)