terça-feira, 26 de abril de 2011

O lapso incalculável




Durante um lapsto incalculável, a que nenhuma medida se adequaria, tudo permanece, subsiste, isolado e simultâneo, o pelo suave e suado, a mão, a confiança, o alívio, o olhar, o gosto do café, o café, a transparência cinza do ar que envolve, quase que resplendorosamente, apesar do céu baixo e negro, os corpos que latejam monótonos e o vazio que os separa, riscado pelas gotas intermitentes e oblíquas, cada vez mais numerosas, que vêm estatelar-se no chão. Quando as palmas batem, por fim, uma na outra, ecoando, o salva-vidas se vira e começa a descer na direção da praia, o Gato levanta a cabeça, olhando para o portão, o segundo gole de café cobre o primeiro na garganta de Elisa, o baio amarelo começa a sacudir a cabeça sob a pancada de chuva, e o lapso incalculável, tão vasto quanto longa é a totalidade do tempo, que teria parecido querer, à sua maneira, persistir, submerge, ao mesmo tempo, paradoxal, no passado e no futuro, e naufraga, como o resto, ou o arrasta consigo, inenarrável, no nada universal.










Trecho de Ninguém, nada, nunca, de Juan José Saer.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Antigamente as canetas não falhavam

Saudades dos papéis
e da caneta que falha
os pensamentos
e aquele verso perfeito
em azul escuro azul claro azul nada
ou do barulho do papel
ao ser amassado
rasgando o ar em frações de segundo
ao ser arremessado contra um cesto
e não o acertar.


Eu pensava que que não se faziam canetas
como antigamente
mas na verdade
o que não se fazem mais
são poetas.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Pelo coração da galinha

No sábado a tarde era a mãe que apontava para o Alambrado: quero aquela ali, e o pai entrava no galinheiro, pisava na merda e nos restos de comida, encurralava a ave e ali mesmo torcia-lhe o pescoço. Ele já saía com a galinha presa pelos pés, de ponta cabeça, os pequenos olhos perdidos em meio ás que deixava, vivas ali, ciscando o destino que lhes esperavam.
A irmã mais velha avisava que a água estava fervendo e a mãe trazia o caldeirão fumegante para o quintal. Ali, a família se juntava, queimava a mão no caldo quente e depenava a galinha. A caçula sempre lembrava: "o coração é meu". A do meio retrucava: "não, ele é meu porque eu vi primeiro!". A mãe lamentava a desgraça das galinhas de possuir apenas um coração, também queria ter mais de um, ela própria e por isso não conseguia lamentar como convém. A mais velha limitava-se a arrancar as penas em silêncio antes que a água esfriasse e os pensamentos escapassem.
O pai trazia algodão embebido em álcool, colocava fogo e passava a galinha de leve na chama para acabar de tirar as penugens. Ficava no ar o cheiro de pena queimada e pele tostada, enquanto o sol caminhava a lentos passos para o meio do céu.
As galinhas sobreviventes continuavam ciscando monótonas, olhavam umas paras as outras, tentando descobrir quem iria para a panela na proxima semana, apostando com isso os últimos grãos que o saco caído, ao longe no chão, possuía. A ave de pescoço quebrado e depenada era colocada em cima do mármore frio e aberta na ponta da faca pela mãe. Conforme limpava, ela ia mostrando para as filhas, exímia cirurgiã doméstica, a anatomia da galinha. Não muito diferente da anatomia das meninas.
A manteiga estavalava na panela a espera dos temperos. A caçula preparava o suco de limão enquanto a do meio preparava o forno. A mais velha arrumava a mesa, pondo os talheres e pratos, sorrindo discretamente com a certeza de que o coração seria seu, escondido secretamente entre as pernas da ave. Um dia descobriria, com pesar, que o coração das mulheres também se refugia entre as pernas ocasionalmente.
Posta a mesa o pai puxava uma oração, seguida de uma bronca pela discussão à mesa sobre o maldito coração da galinha, que havia sumido e ninguém, nem mesmo a seqüestradora, sabia onde estaria. Após muita briga e a ameaça crescente de birra da caçula, a mãe descobre que o coração havia caído das pernas da ave sobre o fogo alto do forno. Só restava cinzas e mágoas.


Muito tempo se passou desde então. As meninas cresceram e cada uma freqüenta o restaurante que lhe convém, e os corações agora vem aos montes, em espetos. Menos a caçula, que traumatizada, virou vegetariana.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

02:24

Preso
em fotos que não foram tiradas por mim
em eternas poses
das quais jamais haverá um espaço
para esse abraço
esquecido em bancos de praças
das igrejas que nos casaríamos
depois das trocas de bilhetes de ônibus
amassados.

Você se esqueceu de mim
em alguma rodoviária
onde eu sempre perco
todos os itinerários
de volta para casa.





quarta-feira, 13 de abril de 2011

Merda é tudo que não seja a morte



"O dia mais feliz da minha vida foi o dia em que escrevi minha primeira palavra feia no muro alto do colégio - exatamente essa bela palavra MERDA que agora me fita do outro lado da rua, como um desafio. MERDA é tudo que não seja a morte, que talvez também o seja, e disso sempre tiveram consciência os homens menos mentecaptos em seus momentos de maior lucidez, e que são poucos. Merda é a própria vida, mero eufemismo para uso dos salões elegantes e dos tratados diplomáticos, que também são uma merda como tudo mais, como sempre o foram e o serão até o fim dos tempos. Proponho mesmo que, em lugar dos nomes dos países, se diga simplesmente: Merda n.º 1, Merda n.º 2, e assim por diante, chamando-se aos Estados Unidos a capital de todas as merdas, como de fato eles o são."


Trecho de A lua vem da Ásia, de Campos de Carvalho.

domingo, 10 de abril de 2011

Paulistanagens #2


Otto Lara Rezende



"Tem isqueiro?"

"Tenho, só um instante"

"Que horas são moça?"

"8:40. Vem cá, deixo acender para você o cigarro"

"Engraçado né, os fumantes são um povo unido. A gente nega tudo, menos isqueiro e fósforo pro próximo"

"É coisa de paulista, você viaja prá outros estados e não rola isso naturalmente, isso de você pedir e eu te oferecer com um sorriso, sem ser cantada ou coisa do tipo. Eu morei um tempo no Rio Grande do Sul, eram poucos os que cediam o isqueiro sem te olhar com a cara feia, como se fumar fosse errado"

"Coisa de paulista"

"É, por isso acho que o Otto Lara Rezende disse besteira"

"Esse Otto aí disse o quê?"

"Ah, ele disse que o mineiro só é solidário no câncer. Mas é porque ele nunca pediu um isqueiro prá um paulista"

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Paulistanagens #1



Dublinenses



[Presente]


Ele já me esperava sentado dentro do Ibotirama, mesa ao fundo perto da escada, bebiricando uma cachaça, olhando prá janela ao lado, observando o movimento da Fernando de Albuquerque (e também dos grupos animados de hypes, fumando ao lado de fora do bar e aparentando uma felicidade incomum, um misto de conformismo com satisfação). Havia me atrasado, 10 minutos precisos no celular mas que no relógio de parede indicavam uma longa espera por ele, que tentava esconder num sorriso forçado a impaciência. Me aproximava esgueirando dos garçons, que equilibravam fritas em uma das mãos enquanto na outra seguravam firmemente as garrafas de cerveja. Pelo trajeto (não mais que 10 passos, desviar de uma garçon, dar um olá para um outro, desviar do cara que se levanta de uma cadeira da qual passei rente) pensei se deveria o cumprimentar com um beijo nos lábios (um selinho, boca semi aberta esperando que ele enfiasse a lingua, que a movimentasse com ternura enquanto os seus lábios engoliam delicadamente os meus) ou um abraço meio requentado (meu braço esquerdo pendendo de lado enquanto o braço direito envolve rapidamente suas costas, um beijo no rosto e um sorriso seguido de "como vai você?"). No fim, quando estávamos frente a frente, apenas nos olhamos sem nenhum sorriso, nenhum cavalheirismo da parte dele que deveria ter se levantado, puxado a minha cadeira e só voltasse a se sentar assim que eu me sentasse. Puxei qualquer assunto depois do "nossa, faz tempo que a gente não se vê né?", comentei como a Augusta havia perdido a sua graça, e que o Ibotirama era uns dos poucos lugares dos quais eu ainda me sentia a vontade para me sentar e beber uma cerveja, sozinha, sem ser pressionada pela cidade a estar com alguém ou estar aberta a conhecer qualquer pessoa. Ele também havia comentado algo do gênero, mas da maneira estúpida e rabugenta dele, que nem parecia ter 26 anos. Algo como estar cansado das convenções sociais que somos obrigados a desempenhar, e qual era o problema de gostar de ser e estar sozinho em São Paulo? Suspirei quando disse que São Paulo destruía até a solidão que nos presenteia.
Brinquei repetindo o que um amigo havia me dito, um boato que despediram um dos cozinheiros do bar para que pudessem ter as famosas luzes verdes. Ele não riu, mas proferiu um discurso politizado sobre o capitalismo e todo o blá blá blá marxista do qual ele era contra em partes, mas por algum motivo, gostava de defender como método para irritar as pessoas e extrair delas o que elas realmente achavam. Eu não achava nada, nem os meus óculos dentro da bolsa. Estava quase dormindo naquela mesa com a terceira cerveja. Mas de tédio.


[Passado]


Nos emails, um dele. Sem assunto.

Pensei que fosse algum spam, mas por garantia abri. Dizia que ainda me amava, e que sentia muito pelo fim que havíamos tido. Ele trancado num hospício, eu procurando em cada homem alguma coisa dele para me abandonar. Tanto tempo que não pensava nele, nem com as menções encontradas nas músicas dos Beatles as quais embalaram por muitas noites as minhas recordações de tudo o que vivemos. Ou de nada, um encontro na casa de um amigo, um esbarrão no dia dos namorados, uma tarde entre as árvores no interior. Um amor inventado e alimentado com desespero de quem necessita encontrar alguém. Mas ninguém se encontra em São Paulo, todos se trombam e se machucam.

Respondi que também sentia saudades e que sentia igualmente pelo nosso fim (fim do quê mesmo? De um cigarro que eu roubei dele? De um baseado que compartilhamos? De um boquete feito ás pressas?) e que por mim tudo bem, vamos nos encontrar e reviver os velhos tempos (mas reviver o quê meu Deus?)

Ele só queria transar, mesmo sem ter mencionado isso em uma única linha do email e em nenhuma palavra pelo telefone. Eu já sabia pelo tom de sua voz ou com o cuidado que escolhera as palavras no que ele me escrevera, disfarçando todo o desejo que ele ainda possuia (e que eu desconfiava que estava guardado em alguma pasta do seu computador, com todas as minhas fotos nua, que enviara certa vez, querendo que ele batesse uma punheta pela web cam para mim). Ele não sabia o que era amor, mesmo que fosse o tema principal de suas poesias, que eram fracas, tijolos que se desmanchavam numa parede mal rebocada.
Eu o amava, mas apenas porque eu o havia inventado.



[Presente]


Disse que iria para Dublin, quando já estávamos deitados numa cama desconfortável de um dos motéis da Augusta, logo após ter gozado. Um amigo iria o hospedar e tocariam juntos em alguns pubs, era algo realmente lucrativo e ele realmente precisava de novos ares, desaparecer dos problemas e das lembranças (de pessoas como eu). O incentivei, dizendo que era tudo o que ele mais precisava no momento: começar algo do zero (porque não, pensei, começar um romance do zero, agora nessa cama? Mas me calei, ele não precisava de pressões além da que eu fazia com a minha cabeça em seu peito). Perguntei o que o seu analista havia dito a respeito da viagem, ao que ele coçou a barba e me olhou com olhos úmidos e cansados. "Vamos falar de outra coisa, pode ser?"

"Quando for, você me manda um souvenir da viagem?"
"Tudo bem, o que você quer? Não vale cd do U2"
"Ah não, eu só queria um Joyce ou um Shaw prá ler no original, impresso na Irlanda mesmo"
"Shaw? Joyce?"
"É, são escritores irlandeses. Bem conhecidos por sinal. Conhecidos prá caralho, não me leve a mal"
"Pensei que você lesse Crepúsculo, essas coisas"


Me levantei daquele corpo desconhecido sobre a cama, coberto com um lençol poído (de vergonha) e o olhei como se tivesse acabado de adentrar aquele quarto na ponta dos pés, e me deparasse com aquele estranho, que em alguns momentos recitava um amor que ele não possuía por alguém que agora, se revelou, não conhecia. Pedi que fôssemos embora (ou ele que havia feito o pedido?) o quanto antes, eu ainda tinha que pegar o último ônibus para casa e precisava dormir, meu corpo estava moído (quase acrescentei, da cerveja, não se vanglorie).

Nos despedimos dentro de um vagão do metrô, ao desembarcar na estação Sé, com um abraço carinhoso e um beijo no rosto, muito tímido, muito carregado de qualquer coisa estranha que precisava ser repelida dos corpos.

Ele partiu para Dublin, mas o que eu não sabia, é que São Paulo possui sua própria geografia a parte do mapa mundi.

Dublin era uma das esquinas da Rua Augusta.



quarta-feira, 6 de abril de 2011

Homem de Papel.


Não vou escrever uma resenha para Paper Man (2010) nem pretendo falar da sua simplicidade excêntrica e encantadora ou de como a solidão ás vezes pode ser engraçada e de como ela nem sempre é uma escolha, ou meramente um destino já traçado. Ela existe, respira, tem sentimentos, sabor e cheiro. Nasce, sem planejamento, se acolhe no peito e o suga, necessitando sobreviver. Ela sou eu, ela é você. É algo da qual não se pode fugir ou fingir que não está lá, que não pôs as mãos sobre seus ombros ou tentou conversar com você sobre qualquer coisa absolutamente normal. Ou que no final, é a única coisa que nunca vai te abandonar. Independentemente se você é um escritor que fracassou por acreditar em suas histórias que não convenceram ou tocaram ninguém, ou se você é uma garota que poderia ser a garota da vida de qualquer homem, mas mesmo jovem, insiste em se culpar por um passado que lhe deram de presente, sem aquele papel colorido o embrulhando, retinindo surpresas agradáveis. Ela estará lá sempre ao seu lado (a solidão, não se esqueçam), da forma como você melhor desejar. Talvez como o Capitão Excellent, um herói sempre disposto a te proteger do mundo, ou como seu melhor amigo, daqueles que são para sempre e que não querem te perder.


Um dia escrevo uma resenha para Paper Man, mas assistam, se essa fosse a intenção de uma resenha técnica, valorizando a atuação e direção do filme. Infelizmente meu foco será sempre a emoção causada de impacto, carro em alta velocidade sem freio prá cima do pedestre desavisado e distraído olhando o céu.

terça-feira, 5 de abril de 2011

A fisiologia do amor




Não tenho dinheiro, nem recursos, nem esperanças. Sou o mais feliz dos homens vivos. Há um ano, há seis meses, eu pensava ser um artista. Não penso mais nisso. Eu sou. Tudo quanto era literatura se desprendeu de mim. Não há mais livros a escrever, graças a Deus. E isto então? Isto não é um livro. Isto é injúria, calúnia, difamação de caráter. Isto não é um livro, no sentido comum da palavra. Não, isto é um prolongado insulto, uma cusparada na cara da Arte, um pontapé no traseiro de Deus, do Homem, do Destino, do Tempo, do Amor, da Beleza.... e do que mais quiserem. Vou cantar para você, um pouco desafinado talvez, mas vou cantar. Cantarei enquanto você coaxa, dançarei sobre seu cadáver sujo... Para cantar é preciso primeiro abrir a boca. É preciso ter um par de pulmões e um pouco de conhecimento de música. Não é necessário ter harmônica ou violão. O essencial é querer cantar. Isto é, portanto, uma canção. Eu estou cantando. [...] Estamos em vinte e tantos de outubro. Não acompanho mais as datas. Que diz você? Meu sonho de 14 de novembro do ano passado? Há intervalos, mas ficam entre sonhos e deles não resta consciência alguma. O mundo ao meu redor está se dissolvendo, deixando aqui e acolá manchas de tempo. O mundo é um câncer que está comendo a si próprio... Estou pensando que, quando o grande silêncio descer sobre tudo e todos, a música triunfará por fim. Quando tudo se retirar de novo para o útero do tempo, o caos será restabelecido, e o caos é a página sobre a qual a realidade está escrita. Você, Tânia, é o meu caos. É por isso que canto. Não sou nem eu, é o mundo morrendo, deixando cair a pele do tempo. Eu ainda estou vivo, dando pontapés em seu útero, uma realidade sobre a qual escrever.


(Trópico de Câncer - Henry Miller, 1934)





Há cinismo no que me refiro ao amor que possuo por este escritor, tanto que este velho simpático no banner do blog nada mais é do que o próprio Miller, desenhado pelo amigo desde sempre Junker.

Trópico de Câncer está longe de ser meramente um romance. É um marco, é a poesia desenfreada das ruas boêmias de Paris encontrando o duro concreto da prosa moderna, requintada, moça de anáguas e cinta liga que não sabe como controlar toda a sua sexualidade ao mostrar os joelhos delicados ao cruzar as pernas perante a sociedade. Expõe, sem ser vulgar, e se o é, é da maneira mais sutil e perdoável. E ali, entre as pernas, que se encontra o melhor de Miller. Não é o sexo, que move Paris, que move Miller. É o amor, por algo que ele precisa justificar para que seus pecados sejam absorvidos, o fazendo assim, encontrar a paz em algum paraíso artificial que explode a cada capítulo com a força de um orgasmo, destruidor como um câncer.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Boa noite, e boa sorte.



"A nossa história é o resultado do que fazemos. Se continuarmos como estamos, a História se vingará e nos fará pagar. Às vezes, exaltemos a importância das idéias e da informação. Vamos sonhar com a possibilidade de um domingo à noite, no horário ocupado por Ed Sullivan, se faça um estudo clínico da educação. E que uma semana depois, o horário usado por Steve Allen, sirva para uma análise da política americana no Oriente Médio. Será que a imagem de nossos patrocinadores saíria arranhada? Será que os acionistas ficariam revoltados e reclamariam? O que aconteceria? A não ser que alguns milhões de pessoas se informassem mais sobre assuntos que determinam o futuro do país, e portanto, o futuro de nossas empresas. Áqueles que dizem que as pessoas não se interessam, que são complacentes, indiferentes e alienadas, eu apenas respondo que na minha opinião de repórter, há provas concretas de que essa afirmação é incorreta. Mas mesmo que não o seja, o que eles tem a perder? Se estiverem certos e nosso veículo (a televisão) só servir para divertir e alienar, a televisão está em perigo e logo veremos que nossa luta foi em vão. Este veículo pode esclarecer, pode ensinar e até inspirar, mas só pode fazer isso se as pessoas o usarem com esse objetivo. Senão, será apenas um monte de cabos e luzes dentro de uma caixa"

(Edward R. Murrow - Discurso proferido em 1964. Coletado do filme "Boa noite, e boa sorte")




O discurso, lido hoje, se tornou universal e por fim, atravessou gerações que se mantiveram sentadas frente à televisão, acompanhando a vida em intervalos preenchidos por comerciais da Coca- Cola. Nada mudou desde então, a não ser os métodos para calar os fatos e manipular a população. Talvez novos comerciais.





A pequenez das coisas amiúdes.

Você: senta em algum lugar e diz que vai escrever um poema. Tem que ter cama desarrumada, pensa: e tem que ter cigarros não posso esquecer de me referir a rima (vagabunda como você) e nem de fazer um trocadilho com Deus e bar (como se fosse ele que pagasse suas contas que correm com juros monstruosos e se acumulam sobre suas rugas de homem problemático e bipolar). Ao terminar sua poesia será igual as outras poesias arquivadas em suspiros de quem nem sabe o que é poesia de verdade. Suas linhas serão sempre de quem dirá muita coisa que se resume a nada. A pequenez das coisas amiúdes como você voam pelo chão de um outono que insiste em morrer sempre nas próximas estações (e que sempre será esquecida em guardanapos que gentilmente nos são oferecidos para limpar o canto da boca das migalhas que sobraram). Você é a maior mentira e por isso é a maior verdade.