domingo, 31 de maio de 2009

Além.

Para M. M
e o que é que vais dizer
vou dizer apenas algo
e o que é que vais fazer
vou ocultar-me na linguagem
e porquê tenho medo
(Alejandra Pizarnik)




Os meus olhos não se fecham além do que devem & meus sonhos alcançam a altura das estrelas que vão além do céu
(Os teus olhos derrubam brasas que os meus desejos tornam cinzas)
Um século de incompreensão na minha cabeça
e todas as respostas escondidas nas poucas lembranças que tenho & que a sua voz vem brindar com a noite que me traz a sensação de quebrar um pouco mais esses muros
que a gente carrega dentro do peito.
(e o medo de saber o que há além dos muros)

Te encontro na estação seguinte
por favor, esteja na estação seguinte.

Mas enquanto eu caminho em direção ao inverno
você já colhe os frutos da primavera.

(o que vai além, muito além disso)

.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A que nunca chega ao final.

Para Leandro.
(na esperança de um abraço sufocante)




Estou rindo para enganar a morte.
Não quero parecer patética, tudo bem? Espero que esteja tudo bem e que eu não esteja rindo demais. Não há graça alguma no meu riso e não te peço para retribuí-lo. Seríamos dois patéticos que sorriem para o nada, esperando por um nada.
Mariana, um orgasmo conhecê-lo.
Quero todos os amores do mundo e não conhecer nenhum deles. Gosto de me deitar ao chão e fazer amor com a voz do Belchior bem suave ao pé do ouvido, suave como o toque dos meus dedos sobre todos os meus lábios. Suspiro com a cidade e me abro em caminhos a serem percorridos, todos os sinais abertos, na velocidade do coração.
Claro que choro ao desespero vingado, rasgo-me em rascunhos, míseras tentativas de algum romance vindouro. Próxima página baby, em branco. Escrevo THE END, mas apenas para ocupar o espaço vazio onde ninguém consegue mais escrever. Adoro finais, quando existem. Eu nunca tive final algum.
Nenhum final é mais desesperador do que todos os finais juntos, misturados, suco dos sonhos se for por você. Nunca mais espero os finais, vou logo para os capítulos mais interessantes.Pulo de um para o outro, leitora ávida que sou. Personagem eternamente secundária. A que, no final, sempre é esquecida. A que nunca chega ao final.
Prefiro as reticências do que as coincidências. Me perco onde me encontro e nunca me encontro onde me perco, pode rir, ria assim como eu estou sempre rindo, eu não entendo isso e é claro que você, absolutamente normal, com sua vidinha de personagem central da trama toda, jamais entenderia o que eu estou falando. Todos os dias, eu acordo e começo a chorar desesperadamente. Foi mais um dia que eu acordei viva. Mais um dia em que eu não terei coragem de me matar. Não me olhe assim, você também deve acordar com aquele gosto nos lábios, daquelas palavras que você não disse ontem e que não vai ter culhões para dizer hoje. Pois é, eu já tentei cordas, de violão mesmo, que dedilharam um sambinha cafajeste antes de irem pro meu pescoço. Já tentei veneno, mas envenenei outros com essa minha amargura.Caramba, já tentei até me arremessar, mas estive muito mais leve do que a minha consciência. E ela não pesa ou vale muita coisa nessas horas.
Assim, te passo meu endereço e o meu telefone. Pode ligar a hora que quiser, não nesse horário. Estarei em algum lugar como esse, ou vou estar tentando me matar. Relaxe, ponha mais gelo nisso. Somos dois covardes. Me encontrará sempre honey, eu sou aquela que jamais conseguirá ter um final digno. Pode me chamar de Mariana, mas se alguma Ana atender, também sou eu. Claro que poderá ser Madalena, poderá ser Helena, poderá ser qualquer mulher. Sou uma qualquer, acredite.
E

terça-feira, 19 de maio de 2009

Resquício

Todo amanhã é o quadro onde te invento e te desenho, disposto a te apagar, assim não és, muito menos com esse cabelo liso, esse sorriso.
(Julio Cortázar)




Você

incêndeia as horas incêndeia esta noite vazia & incêndeia os meus lábios secos que essa bebida aqui do meu lado não molha que não sacia qualquer sede que não sacia qualquer solidão que não embriaga este meu coração que pulsa
como o teu corpo que pulsa
aí sozinho como o meu corpo que
pulsa pelo o seu
mas eu estou aqui largada em algum subúrbio do universo entre catarses e tão poucas aleluias
algum inferno
mas a tua lembrança adoça até as chamas
mas não é assim tão doce
tua ausência esvazia até o céu

E eu não sei, deste resquício de lembranças não resultará em nada
destas cinzas deixadas por mim não nascerá fênix alguma que voe até
não, eu sei
mas você se desenha na esperança de alcançar os céus
(todos os céus)
como um sonho
em um verso
que me percorre
como o teu sorriso
que me desperta
como o teu olhar
que me penetra
como a tua voz


(os meus olhos estão sujos de noite & rímel & medo e você não os reconheceria, certamente)

...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Não tenho fome de brioches
minha fome
é de liberdade

E não há Bastilhas suficientes
que possam
aprisionar minh'alma

Paris em chamas
o coração
de Maria Antonieta
em teus olhos
Inflama.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Último tango.

Y todo a media luz...
que es un brujo el amor,
A media luz los besos,
a media luz los dos.
Y todo a media luz,
crepusculo interior,
Que suave terciopelo
la media luz de amor

(Carlos Gardel- A media luz)
Acordei com um gosto de saudades por entre os lábios.
Sabor de tango a dois, de passos que sempre nos levavam ao quarto no final do último verso de Gardel, que quase sempre já ouviámos embriagados de amor sob os lençois. O vinho que escorria como mel, no paraíso do céu de nossas bocas, se transformando em pequenas declarações de amor tão grandes que mal cabiam em nossa memória, mas cabiam em nossos peitos arfantes.
Fecho meus olhos, lembro-me
Gardel calou-se para que nós ouvíssimos a composição de nossa música,
dos corações sobrepostos, dos sonhos mais rápidos que as emoções, a realidade tão próxima da loucura que escorria de nossos olhares
as pernas que se entrelaçavam, as mãos que se encontravam e se conduziam para além dos lençois, os corpos já tão envoltos de desejo
naquele último tango que dançamos a meia luz
antes que todas as luzes iluminassem e que
você me visse como sou, antes que lhe visse como era.
Acordei, com esse gosto de saudades, amargo, nos lábios
andando por todos os lugares dessa casa onde
Gardel ainda embala os meus fantasmas com seu tango.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Muito bem vestida, miseravelmente

Abriu o portão e pegou as ruas, pegou como se fossem maleáveis, tal como se moldasse um caminho por entre elas com a ponta dos seus pés de falsa bailarina na corda bamba do desespero. Não olhou muito para a frente nem para os lados. Queria apenas olhar para a calçada, pular os quadrados em preto e branco, sim e não. Ainda restava um pouco do dia, o sol quase morrendo sobre sua cabeça, pesada de preocupações. Estava assim, e não estava. Uma sombra deslizando pelas paredes, quase escorrendo pelas calçadas até os bueiros.

Riu, riu um pouco da própria imagem que se imaginava ser. Algo como uma mulher muito bem vestida e muito bem maquiada mas com os saltos gastos e quase quebrados, indo em linha reta a qualquer lugar em que a vejam não como uma mulher muito bem vestida e muito bem maquiada mas com os saltos gastos e quase quebrados, mas como uma mulher miserável em trajes patéticos e com o rosto numa caricatura circense que precisava de ajuda para carregar o peso das lágrimas que, inutilmente, segurava em seus olhos. Mas ainda seria para todos os que passavam ao seu lado a mulher muito bem vestida e muito bem maquiada mas com os saltos gastos e quase quebrados que, sem motivo nenhum, se jogara na frente do primeiro carro que vira.


Mas a tristeza, ah, ela é invisível a olhos que não sejam os que a carregam.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Girassol de teu sorriso

Te encontro, viro a esquina, atropelo emoções, seco as lágrimas, sinto saudades.
Te trago, guardo, aguardo.
Que me vejas no céu nublado de outono, o sorriso se tranformando em sol que eu girassol irei seguir e girar por toda a minha vida.