quinta-feira, 22 de julho de 2010

Rascunho de babel.

da mentira do não
a verdade do sim
( só ela mesma e quem
é ilimitadamente )

para que um tolo entenda
( como triste eu ) que nem
mil meandros da mente
valem uma violeta


E.E Cummings




Tínhamos nossas obras completas futurísticas
guardadas com todo o esmero por todos os bibliotecários de Babel que se comoviam com nossos planos de alçar vôos mais altos como um dia quis Ícaro,
inocente
prepotente demais para suas asas de cera.

O que eu pensara ser definitivo
era apenas um rascunho
que aos poucos meus dedos
e os seus
vão borrando com mágoas
até que sejam
indecifráveis
todas essas lembranças
que a minha juventude
insiste em dizer
que foram as melhores.

domingo, 18 de julho de 2010

Confissão

tenho perdido a mão para a poesia
mas confesso que
a muito mais tempo
já havia perdido o coração.

domingo, 11 de julho de 2010

Just let me say who am I *





Caetano me espera eufórico na cama
lençol branco de 1969
esparramado em alguma lembrança em 2010
amor envelhecido nos nossos corpos
como vinho tinto suave.
É tão lírico
pensar assim em nós
em nós
que não se desatam
em promessas.
Perdidos no paraíso
que termina
talvez na próxima canção
linha tênue
entre o seu sorriso e o meu
faixa riscada que se repete
enquanto sabemos que o mundo
é o nosso nome.


* Just let me say who am I - Caetano Veloso em Lost in paradise

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Ao perder a cabeça em algum lugar muito distante onde não se lembrará, talvez

A cabeça pende para algum lugar distante do corpo, distante de qualquer razão conhecida por você então que não se conhecia entre se debater contra uma parede ou um enxame de vespas dentro disso que se perde
a cabeça
em algum lugar muito distante onde os seus dedos possam digitar qualquer desculpa aceitável, qualquer verdade que desce queimando pela garganta como aquele conhaque você não teve coragem de comprar
como aquela briga por algo do qual você realmente acreditava, mas seus ideais são tão baratos e ninguém os compra mesmo em liquidação.

Se é fúria que corre em minhas veias, é veneno que respinga em minhas palavras quando eu perco a cabeça em algum lugar muito distante do seu colo

domingo, 4 de julho de 2010

In memorian, abro as asas e digo ah!

Só com os mortos o universo é um espirro
(Roberto Piva)


Você que desenhou
uma São Paulo
feita de caos
sob loucura
espalhada
em versos
freneticamente
assombrados por Pessoa e Whitman
xamânicos
provavelmente no olho em que tudo vê Mairiporã
Atibaia, Jarinu
te saúdo aqui na praça da república
dos teus sonhos.

Te encontrar em alguma outra visão
que não seja 4 de julho de 2010
um corpo a se tornar cinzas que não aspiraremos
em carreiras tão explêndidas como a tua
encontrar em alguma
1961
e não ter piedade
dos menininhos que humildemente lhe ofereciam cu
metáfora perfeita para o amor
concebido entre as coxas.

Invocar os anjos
orgia assexuada
transe morfológico
anárquia transcendental
Orpheu e Hermes
numa luta corporal
um dos dois
estará a sua espera
fixo na fonte do paraíso

A pior foda
ainda será
a politicamente correta
contagem de votos nulos em vão
patriotismo popular de merda
conservadorismo
(conserva estragada, botulismo social)
rendidos, sem admitir
ao Totem Kapitalista
E março não seria o mês
mais terível
se não fosse julho
o mais vazio.


O que fica
sob a terra
é apenas um corpo
Sua vida
violenta ainda
cada palavra
que nasce
Tua voz é eterna
e sua alma
delira.

Vá em paz meu caro
mas deixe sua paranóia sobre todos nós.