quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Cinzas,quarta feira.

É isso, tentando me revirar nessas cinzas, quarta feira 25 de fevereiro de 2009.
Sobrou algumas tintas, alguns sorrisos. Procuro te encontrar enquanto vou esbarrando nas pessoas e as marcando e as deixando me marcar. Não te encontro, é claro. E talvez por isso vou me deixando ser levada pelas marchinhas, por aquela falsa alegria que não existe no dia a dia, pelos abraços, pelos beijos incrivelmente insensatos e impensados.
E tudo queima e vira isso
resto do resto que está sobre um rg de 18 anos, que está numa calçada, que amigos repartem e não se importam se são as cinzas ou se é poeira disso que a gente deixou para trás nesses últimos 4 dias. Ninguém se importa se você vai sair correndo e gritando e falando o quanto está viva e tudo o que viveu valeu a pena e que, você se abriu para a primeira pessoa que viu e se abriu tanto que foi invadida e você gostou, não deveria, mas e aí é carnaval, você não é mais você mesmo, e ninguém vai te avisar que amanhã vai acordar, o ar vai incomodar o seu nariz, sua cabeça vai estar mais pesada que o céu e você vai se sentir muito mais do que cinzas.
E eu vou lembrar, eu vou saber muito mais do que deveria e queria saber sobre mim.
Eu não te encontrei, mesmo sabendo que você estava ali em todos os lugares, até entre os meus dedos e nos dedos de outros que te roubavam de mim
que te colocam na boca, então aí eu percebo que é apenas mais um cigarro (que eu mal sei tragar)
E tudo vai queimar novamente e virar cinzas.
Mas você não.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A que nunca chega ao final

Estou rindo para enganar a morte.
Não quero parecer patética, tudo bem? Espero que esteja tudo bem e que eu não esteja rindo demais. Não há graça alguma no meu riso e não te peço para retribuí-lo. Seríamos dois patéticos que sorriem para o nada, esperando por um nada.
Natália, um orgasmo conhecê-lo.
Quero todos os amores do mundo e não conhecer nenhum deles.
Gosto de me deitar ao chão e fazer amor com a voz do Belchior bem suave ao pé do ouvido, suave como o toque dos meus dedos sobre todos os meus lábios. Suspiro com a cidade e me abro em caminhos a serem percorridos, todos os sinais abertos, na velocidade do coração. Claro que choro ao desespero vingado, rasgo-me em rascunhos, míseras tentativas de algum romance vindouro. Próxima página baby, em branco. Escrevo THE END, mas apenas para ocupar o espaço vazio onde ninguém consegue mais escrever. Adoro finais, quando existem. Eu nunca tive final algum. Nenhum final é mais desesperador do que todos os finais juntos, misturados, suco dos sonhos se for por você. Nunca mais espero os finais, vou logo para os capítulos mais interessantes.Pulo de um para o outro, leitora ávida que sou. Personagem eternamente secundária. A que, no final, sempre é esquecida. A que nunca chega ao final.
Prefiro as reticências do que as coincidências.Me perco onde me encontro e nunca me encontro onde me perco, pode rir, ria assim como eu estou sempre rindo, eu não entendo isso e é claro que você, absolutamente normal, com sua vidinha de personagem central da trama toda, jamais entenderia o que eu estou falando.Todos os dias, eu acordo e começo a chorar desesperadamente. Foi mais um dia que eu acordei viva. Mais um dia em que eu não terei coragem de me matar. Não me olhe assim, você também deve acordar com aquele gosto nos lábios, daquelas palavras que você não disse ontem e que não vai ter culhões para dizer hoje. Pois é, eu já tentei cordas, de violão mesmo, que dedilharam um sambinha cafajeste antes de irem pro meu pescoço. Já tentei veneno,mas envenenei outros com essa minha amargura.Caramba, já tentei até me arremessar, mas estive muito mais leve do que a minha consciência. E ela não pesa ou vale muita coisa nessas horas.
Assim, te passo meu endereço e o meu telefone. Pode ligar a hora que quiser, não nesse horário. Estarei em algum lugar como esse, ou vou estar tentando me matar. Relaxe,ponha mais gelo nisso. Somos dois covardes. Me encontrará sempre honey, eu sou aquela que jamais conseguirá ter um final digno. Pode me chamar de Natália, mas se alguma Ana atender, também sou eu. Claro que poderá ser Madalena, poderá ser Helena, poderá ser qualquer mulher. Sou uma qualquer, acredite.
E

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

II - Saudade dada


Em horas inda louras, lindas
Colorindas e Belindas, brandas
Brincam no tempo das berlindas
As vindas vendo das varandas
De onde ouvem vir e rir as vindas
Fitam a fio as frias bandas

Mas em torno à tarde se entorna
A atordoar o ar que arde
Que a eterna tarde já não torna!
E em tom de atoarda todo o alarde
Do adornado ardor transtorna
No ar de torpor da tarda tarde

E há nevoentos desencantos
Dos encantos dos pensamentos
Nos santos lentos dos recantos
Dos bentos cantos dos conventos...
Prantos de intentos, lentos, tantos
Que encantam os atentos ventos.

(Fernando Pessoa - Ficções do Interlúdio)






Colore em tons carmins os meus olhos com os teus lábios entrabertos em breves sorrisos que arrastam essa tarde e trazem tão logo a branda lua que se espelha em teu corpo. Você leve como qualquer coisa que deixa-se levar pelo simples movimento do vento, tão leve como a nossa infância que se esconde nos rabiscos pelas ruas, das berlindas e das amarelinhas, onde eu não sabia que o inferno era jamais ter conhecido ou jogado a pedrinha no céu. O inferno era sentir aquelas tardes se evaporarem, agora somente a neblina sobre nossas cabeças, inalcansável, da qual eu respiro e sinto arder longamente em minha memória em preto e branco, tons de poeira em sépia(e porque não se pode voltar a saborear a felicidade?). E em algum devaneio que assombra meus torpes olhos, estes meus ouvidos surdos de santidades, você vem flutuando e dançando dentro e muito mais além dos meus sonhos, em algo que parece e talvez seja uma oração a um Deus muito maior do que se é trancafiado dentro de todos os templos do Universo.
Mas ele cabe exatamente dentro do nosso peito.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

I - Plenilúnio

As horas pela alameda
Arrastam vestes de seda

Vestes de seda sonhadas
Pela alameda alongada

Sob o azular do luar...
E ouve-se o ar a expirar-

A expirar mas nunca expira
Uma flauta que delira

Que é mais a idéia de ouvi-la
Que ouvi-la quase tranqüila

Pelo ar a ondear e a ir...
Silêncio a tremeluzir
(Ficções do interlúdio ~ Fernando Pessoa)

Eu quase não vejo os meus passos, eu mal vejo o caminho esparramado à minha frente de rosas e asfalto em brasa que os meus pés sentem como se o fosse tua pele em seda. Eu vejo muita coisa ao longe, porque longe elas devem estar de mim, coisas que os meus olhos mal podem saber se são reais e os meus dedos mal podem sonhar em tocar. A minha vida é feita de todos os quases e de tudo que não posso ter, sob o signo de uma lua tão branca que quase é azul, que quase inspira esse ar que esmaga meus pulmões acinzentados como os teus olhos perdidos por aí e dentro de mim, que tudo vê sentir as incertezas que carrego comigo aonde quer que eu vá, mas prefere cegar-se com a noite que trago junto com os meus cigarros e com todos os grande amiúdes amores. A tua voz que cala a minha e todas as outras num silêncio atormentado que ecoa no ar que expiro.

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*Então, estou de certa maneira tentando realizar uma antiga vontade que tive, que era de transformar alguns poemas de Fernando Pessoa em prosa, ao meu ponto de vista, claro. Talvez soe pretencioso, talvez soe até um pouco patético. Enfim, é claro que nada do que eu escrever de fato vá se comparar à minha inspiração, é impossível. Vou a partir de hoje, postar algumas prosas inspiradas nos poemas que compõe a série "Ficções do Interlúdio"