terça-feira, 30 de março de 2010

Cortizol

Para Guga Detoni, do Maldita Palavra que me ajudou a escrever, a sua maneira


Resto de cafeína na ponta dos dedos
não sofro de insônia, eu sofro de noite.
A inutilidade tira o sono das pessoas & também sua inteligência em troca do assunto da manhã seguinte, que com o pesar das 8 horas diárias sobre os ombros
e muito mais sobre a vida
não valerá as horas perdidas.

Isso é só o azeite da engrenagem, meu caro
à noite
vamos assistir ás azeitonas no conforto de nosso lares.

sexta-feira, 26 de março de 2010

In a sentimental mood

Para aquele com quem dancei numa noite qualquer.



Encontro em minhas peças o seu sorriso espalhado, fragmentos de uma história descrita em um único suspiro de tantos outros a preencher minhas linhas. Meus dedos invadem cada nota doce vinda dos seus movimentos, uma valsa a dois em uma estação onde o destino poderia ser o paraíso ou poderia ser somente a eternidade daquele exato momento,onde suas mãos arrancavam minha cintura e seu coração explodia no meu peito. Se o meu olhar estaria encontrando o meu olhar perdido ali entre o seu, ou se os seus lábios encontravam o seu sorriso perdido no meu rosto, nunca saberemos.
Mas Coltrane gentilmente nos cedeu uma canção
para que embalasse nossa saudade.

terça-feira, 23 de março de 2010

Sísifo

O amor é um trabalho sem esperança
na dúvida
páro no meio do caminho para descansar.

(Por hoje, desafio os deuses
Não o levo mais ao topo, estanco o sangue dos dedos
escrevo
em relevo
nunca mais)

Mas amanhã
tudo volta
ao seu lugar.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Pombo Correio.

Para Hugo, Leandro e Jamess




Temos a fúria de quem morre todos os dias e renasce uma vez por mês. Contas a pagar com Deus e os homens, parcelas de culpas cobradas a juros. Arranhamos as paredes a procura de ar & de um desentupidor para as palavras entupidas num ralo de peito desolado.
Nossos romances não saem dos livros, as minhas poesias jamais estariam em algum. Me conformo em estarem em vocês, em cada linha de expressão que meus dedos rascunham. A dor é a mesma, só muda a posição das peças, já diria um de vocês, a minha imagem e semelhança. Eu deixei um cavalete deixado em algum lugar dos meus sonhos, com um amor esboçado em cinza escuro no peito daquele me esqueceu em algum vagão por ordem minha. Por ordem de outro, jamais deixarei de escrever mesmo que meus braços e pernas sejam amputados pelo tédio e pela desventura do mais do mesmo dos meus dias.
O meu corpo uma palavra mal escrita à vocês.

(Mas enquanto outros permanecem em videiras, já estamos nas garrafas & vomitamos sangue)

Obs: É falta de educação devolver um presente. Mas vou devolver o de vocês. E com a minha letra

segunda-feira, 15 de março de 2010

Amarelinha.

Chuto as pedras do caminho
na esperança de que elas cheguem até o céu.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Consolação, Domingo.

17 horas, uma avenida nos espera sem horário marcado, sinal vermelho para todos menos você, que atravessa todos os sinais fechados para me encontrar do outro lado, mesmo que eu jamais soubesse que estive ali, exatamente te esperando como espero pela certeza entre uma estação e outra.

Não sabia por onde me perder, na ponta dos pés escolhia entre a Jaú e a sua voz ou entre seus olhos e a Handock Lobo, mas preferi que fosse no Paraíso entre o seu sorriso e o vão da Plataforma.

Ainda estarei por lá, próxima esquina entre um sonho e outro, de mãos dadas com com qualquer destino. Esperando que me encontre novamente.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Tentativa do homem infinito

Aos meus primos chilenos.


Mais fácil acertar os números da mega sena do que lembrar dos seus telefones, a distância afeta a memória & afeta a sensibilidade também. 8,8 nota qualquer de apuração do carnaval, mal sabia que seus pés sambariam involuntariamente sob um chão que se abria. Limpamos os caminhos dos nossos carros alegóricos para que os seus carros fúnebres passeiem entre o Atacama e os Andes.
1,26 microssegundos não mudou nada na minha vida
Mas mudou tudo nas suas.

Neruda estremece sobre os vestígios de seus versos & Allende aposta mais uma vez sua vida contra Pinochet.


*Tentativa do homem infinito é o mesmo título de um dos livros de poesia de Pablo Neruda