domingo, 25 de abril de 2010

Ofertorio de dulce pasión

Para Erik, que me conduz a todos os sonhos


Seus dedos eternizam com nanquim em finos traços de expressão a minha verdadeira felicidade, esta que veio ao encontro dos seus rascunhos de todos os sonhos que talvez um dia tenha tido, ainda sem cores, porque estas, eu carregava entre uma tentativa ou outra de arco íris pós tempestade dentro de um copo d'água.
Oscilo entre Primavera & Outono
você tem gosto de rosas ácidas e eu de erva venenosa
enraizados na poesia concreta de São Paulo


Você poderia ter me tirado para dançar enquanto a Augusta toda esperava por isso entre um Gardel e um Piazzolla
mas como dançar a dois se já somos um?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cama Desarrumada

http://www.mojobooks.com.br/mojo_inteira.php?idm=170


Eu pronuncio teu nome, nesta noite escura,
e teu nome me soa mais distante que nunca. Mais distante que todas as estrelas e mais
dolente que a mansa chuva

(Federico Garcia Lorca)

Melhor desnascer do que ver esta cama desarrumada, um vazio permanente e doentio que amassa os lençois tão caros que somente minhas mãos sentiram a delicadeza e a maciez dos linhos intercalados que formam a tua pele alva cálida e alinhada á minha pele apenas.
O quarto revirado tanto quanto eu por dentro e por fora deste corpo-pensamento, mostra as roupas espalhadas pelos cantos da minha memória que são essas suas peças intímas indecifráveis sobre as minhas assim não tão intímas, meus cd's e sonhos quebrados em músicas que nunca mais serão ouvidas inteiras novamente, mas apenas em pedaços que não voltarão mais a serem inteiros, assim talvez como eu e você, em pedaços ainda menores do que nos sobraram dos pedaços que éramos antes de nos encontrarmos inteiros um do outro.
Fotografias rasgadas pela metade nos separam mais ainda do que já estamos, eu em alguma parte esquecido onde teus olhos não podem me alcançar e você debaixo da cama entre a poeira dos dias que foram e a escuridão deste meu peito amargurado e angustiado por viver satisfeito com a metade do seu amor, que não é nem a metade da sua vida.
Nossos sapatos lado a lado denunciam nossos pés nus que caminham por ruas diferentes e que afinal não nos levarão ao mesmo lugar e a lugar algum. A porta que não se fecha e que não se abre inteiramente bate continuadamente de madrugada (com o sol nos meus olhos), insistindo nessa falta tão seca quanto as flores no jarro da mesinha de cabeceira, onde guardo todas as cartas que escrevi e que ecoam tanto quanto as que não escrevi e que agora gritam para serem escritas, mas a quem eu as enviaria se agora o que me resta é uma cama desarrumada pela última vez que
fui mais do que pedaços e poeira
que você foi mais do que roupas espalhadas e músicas quebradas
que fomos mais do que fotografias rasgadas e flores secas

Fomos uma cama desarrumada.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Você precisa saber antes

Meu sorriso é um riso de desprezo. Não o confunda com felicidade, porque esta, quando me faz rir, me incomoda. Prefiro usá-la de vez em quando, para não banaliza-la.
Não use meias verdades comigo, porque elas só servem para aquecer os meus pés. Meias mentiras não seriam mais verdadeiras?
Não me olhe por cima dos seus óculos, não me fará pensar jamais na sua superiodade-de-quem-viveu-de-tudo-e-sabe-das-verdades. Eu te olho como igual, um cara qualquer assim como eu sou uma garota qualquer, e poderíamos nos esbarrar um dia pela Augusta e você não se lembraria dos meus olhos no dia seguinte como o seu cheiro de cigarros não ficaria na minha blusa que acabo de lavar. Somos comuns e invisíveis. Somos a porra da corja de escritores de merda que querem as linhas do futuro, essas que todos ignoram e fingem não existir. Você tira das palavras as rimas que até então estavam nos meus quadris. Eu danço no ritmo que você estabeleceu, troco de parceiros quando meus saltos quebram ou furam delicadamente os olhos deles, mas que as feridas sempre me pertencerão e só em mim, irão abrir. Mas ainda assim é a sua música, a que você escolheu para dançar comigo no final da noite.
Eu não tenho o seu tempo porque querer tê-lo é insuportável demais.

Você voa mais alto, mas é só porque eu tenho medo de altura.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A infelicidade de amar em paz

Com palpitações de Hugo Crema.



Uma parte de mim
se anestesiou com aspirinas sob um céu marcado de cartas
dessas de amor que jamais remeti

em branco.

Minha vida se abre num pesadelo
uma evacuação


ejaculação precoce


A merda nas paredes forma versos que não concebi
Forma apenas meu verdadeiro nome
escondido numa personalidade que não criei
vivendo sobre meus ombros
cópia barata de Atlas
que escorre pelo ralo
junto com o eco
de tudo aquilo que um dia já fui.


Urro de dor


mas o saí dos meus dedos


é apenas silêncio

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Bazar.

Deslizo dentro do seu sorriso e digo
amor nunca é com a minúsculo
tem que ser com A maiúsculo fincado na carne para que doa ao ser retirado
para que jamais seja peça solta no armário

(daquelas que eu visto uma vez ou outra & jogo fora)

Você se veste com tudo isso que
eu abomino & digo
que está fora de
moda.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

03:15

Para Carolina, só porque senti saudades


Sinto-me livre para fracassar
(Hilda Hilst)



Desço dos saltos por alguma dignidade, de tanto fingir superioridade, quebraram e fui ao chão. Meu retrato está sobre a cama : os lençoís desarrumados e bitucas de cigarros fumados a dois, eu e suas recordações. Você se esconde entre minhas músicas, ontem era Chico, hoje insiste em ser Caetano. Não consigo te acompanhar mais nessa loucura de viver, e viver o quê, eu me pergunto, olhando para o espelho e revendo estes meu olhos tão cansados de rímel, sombra e pó. Perdi o ritmo, o cardíaco. Bate a toa por qualquer coisa, esse coração. Um dia ele se cansa de mim, aposto todas as fichas nisso.
Eu não queria sentir saudades, mas é ela que me sente, escorro suave pelos meus dedos até o ralo mais próximo. E se mordo os lábios o veneno é doce & a morte parece melhor ainda sob a ótica dos ponteiros.