domingo, 1 de fevereiro de 2009

I - Plenilúnio

As horas pela alameda
Arrastam vestes de seda

Vestes de seda sonhadas
Pela alameda alongada

Sob o azular do luar...
E ouve-se o ar a expirar-

A expirar mas nunca expira
Uma flauta que delira

Que é mais a idéia de ouvi-la
Que ouvi-la quase tranqüila

Pelo ar a ondear e a ir...
Silêncio a tremeluzir
(Ficções do interlúdio ~ Fernando Pessoa)

Eu quase não vejo os meus passos, eu mal vejo o caminho esparramado à minha frente de rosas e asfalto em brasa que os meus pés sentem como se o fosse tua pele em seda. Eu vejo muita coisa ao longe, porque longe elas devem estar de mim, coisas que os meus olhos mal podem saber se são reais e os meus dedos mal podem sonhar em tocar. A minha vida é feita de todos os quases e de tudo que não posso ter, sob o signo de uma lua tão branca que quase é azul, que quase inspira esse ar que esmaga meus pulmões acinzentados como os teus olhos perdidos por aí e dentro de mim, que tudo vê sentir as incertezas que carrego comigo aonde quer que eu vá, mas prefere cegar-se com a noite que trago junto com os meus cigarros e com todos os grande amiúdes amores. A tua voz que cala a minha e todas as outras num silêncio atormentado que ecoa no ar que expiro.

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*Então, estou de certa maneira tentando realizar uma antiga vontade que tive, que era de transformar alguns poemas de Fernando Pessoa em prosa, ao meu ponto de vista, claro. Talvez soe pretencioso, talvez soe até um pouco patético. Enfim, é claro que nada do que eu escrever de fato vá se comparar à minha inspiração, é impossível. Vou a partir de hoje, postar algumas prosas inspiradas nos poemas que compõe a série "Ficções do Interlúdio"

2 comentários:

Rafael Lizzio. disse...

òtima idéia e inspiração.
Gostei da Prosa.

Continue...

R. disse...

Ó, gostei. E os poemas dO Homem devem ser de domínio público, às vezes rola um livrinho, hum?

Bjs!