quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Palavras, apenas.

Eu não consigo escutar o que você diz, é isso, então tudo bem, pode dizer o quanto eu sou um idiota, um completo covarde por não querer ouvir as suas palavras por ter medo de ver o meu mundo, não esse mundo ao redor, mas esse mundo que gira e brilha dentro dos seus olhos, ir aos poucos desaparecendo sem que eu possa tocá-lo novamente, sem que eu possa invadi-lo com suavidade e me sentir tão morador dele quando deste aqui, onde o meu corpo repousa inerte e os meus ouvidos evitam entender as suas palavras que não passam por eles, vão direto ao meu peito para tentarem o rasgar. Mas as palavras, as palavras minha querida, elas são palavras apenas, são letras uma após a outra que formam palavras, palavras que uma após a outra formam frases, frases que uma após a outra formam o que hein? Formam isso que eu sinto, esse medo enorme de te ouvir e sentir um desespero de não morar mais nos seus olhos , que formam isso que você está sentindo, esse vazio desprendido, essa ordem de despejo. Palavras são apenas palavras, querida, o que as fazem ser mais do que isso, o que as fazem ter consistência de lâminas são o que elas querem dizer não por elas, letras apenas, mas pelo o que saí de dentro de você. Ah, eu sei, você jamais entenderia isso com essas minhas palavras, porque são palavras misturadas com esse sentimento que você não quer mais, mas quer, porque precisa dele para continuar e então, querida, não tenha medo de ser covarde, porque eu também sou.
Então só peço que deixe-me entrar dentro desse mundo mais uma vez, a última vez, deixe-me fazê-lo girar, deixe-me fazê-lo brilhar, aí, nos seus olhos para que saiba o quão hipócritas tem sido essas suas letras após letras.
Eu sei que você está me ouvindo, mas eu não consigo ouvi-la, e me sinto completamente aliviado por isso.
Suas palavras, essas que você jorra por seus lábios, são apenas palavras, nada mais do que isso.
Pela primeira vez, eu consigo apreciar esse silêncio vindo de você.