domingo, 19 de julho de 2009

Cenas de algum filme classe B.

- Nem pense em acender isso aqui dentro, não suporto cigarro.
-Parece uma cena de cinema, acredita?
-Que cena?
-Morangos Sivestres, ela vai acender o cigarro e o cara que tá dirigindo fala a mesma coisa. Um chato, igual a você.
- Pelo menos foi inteligente da parte dele. E saudável.
- Ele era velho, sacana e um pouco reclamão. Igual a você.
- Continue me elogiando e te deixo na próxima esquina, duvida?
- Falando nisso, onde é que tá me levando?
- Não sei, prá sua casa, pode ser?

- A quanto tempo isso não vê uma limpeza?
- A quanto tempo você não pára de reclamar de algo? Não ligo para essa superficialidade, até porque nem tenho tempo e se tivesse nem limparia. Veja bem, prá que limpar tudo isso se eu posso perder esse tempo, na verdade ganhar, vendo meus filminhos medíocres do Bergman ahn? Ou folheando meus livrinhos patéticos do Proust, coleção completa hein. Ou ouvindo as idiotices da Nina Simone, sei lá, esse pessoal que eu escuto não presta.
-Mas, olha pro seu redor, tudo imundo, como consegue se sentir bem aqui? Tem até comida estragada, vai ver que quer companhia de ratos e vermes. Dá tanto valor à suas coisinhas bobinhas que nem percebe que vai perdê-las em breve.
- AÍ, CALA A BOCA! Não sabe do que fala. Eu me sinto bem assim e pronto, tá insatisfeito? A porta da rua é a serventia da casa, ou qualquer coisa do tipo. Se for, fico com pena, não sabe o que vai perder.
- Convencida e porca.
- Velho e reclamão

- Tira a calcinha.
- Só depois dessa música.
- Posso então ficar te beijando enquanto isso?
- Se contenta com tão pouco, tenho dó. Não quero ter a sua idade, morro antes. Depois a gente chega nesse ponto, pedindo carinho se pode dar uma boa trepada, do tipo espetacular. Sente prazer com carinho ou com o que tem dentro da minha calcinha? Vai ter que esperar por um dos dois querido, porque juntos não rolam.
- Não pretendo esperar por nada, perdi o tesão.
- Percebi, quer tentar mais uma vez? Juro que fico calada, só abro a boca pro básico. To me sentindo meio que culpada. E uma vaca também.
- Vaca não é. Porca sim.
- E você velho. Porra, agora eu to com tesão, e aí?
- Vai ter que esperar, querida.


- E aí, gostou?
- Foi legal, mas poderia ser melhor.
- Reclamão.
- Porquinha.
- Me beija?
- Ué, morria antes disso, não morreria?
- A gente já deu a boa trepada, a espetacular. Pode rolar carinho agora, não pode? Vou ficar te beijando, assim muda de ideia.


- Já vai?
- É, tenho que resolver uns problemas. Quando se tem minha idade, é o que mais se tem.
- Quando se tem a minha idade, é o que menos se tem. É isso o que quis dizer?
- Menos, por favor. Longe de mim comparar os meus problemas com os seus. Não tem família, não tem emprego, não tem doença alguma típica dos 50 e tantos anos. Só é porca.
- Te deu menos tesão o fato de ser ou não porca? Que eu saiba foram meus livros que endureceram o seu pau, foi as minhas canções que te fizeram segurar por mais de uma hora o teu gozo e os meus filmes te fizeram querer mais e mais ser mais do que um velho reclamão de 50 e tantos anos que não suporta a vidinha que leva. To errada?


- Dinheiro ou cheque?
- Dinheiro.
- Aproveita e compra uns filmes alemães.
- Tá bom, eu compro. Pensei nessa semana mesmo. Herzog, acho.
- É, já vi alguns dele, vale a pena. E, paga uma faxineira tá? Qualquer um perde o tesão numa imundice dessas.
- Tá, tá, vai embora agora, vai! To parecendo uma puta com tudo isso.
- Você só é
- Nem termina a frase vai. Você sabe o que é, é o que importa né?

4 comentários:

Marcelo Mayer disse...

tá ai uma ficção. nunca poderia acontecer tal cena. não, com essas citações.

Arthur disse...

bem beatnick!

Katrina disse...

Bem tosco!, hahaha

Adriana Gehlen disse...

nossa
que perfeito