terça-feira, 19 de outubro de 2010

Unhas no estômago.

Estou roendo as unhas por não poder roer a alma, os lábios não a alcançam & o corpo desconhece sua existência desconhece seu sabor desconhece sua textura. Isso me lembra derrota engasgada na garganta, fiapo de unha do anelar que denuncia na ausência de algo a minha solidão a ausência de alma a ausência de amor, do próprio, que tossi, fiapo de unha do indicador riscando na garganta essas palavras que engoli e perdi ao longo do tempo e nunca soube pronunciar sílaba por silába, paraxítonas oxítonas proparoxítonas, sílaba mais forte que foi ficando mais fraca aqui comigo, na carne que restou entre as unhas e os meus dentes entre meu peito entre meu coração entre as pernas, carne que não se visitam a muito tempo carne que estremesse com outras carnes, duras, eretas, úmidas, pêlos que se misturam aos meus, mas já tenho idade para ser mãe & avó, eu tenho idade para ser feliz mas parece que desisto disso porque não cabe mais isso no meu corpo e porque, ah, preciso lutar e ando tão preguiçosa e tudo fica tão longe da minha cama e dos meus dedos, mas onde foi que eu errei, os dedos sangram e a garganta engole as últimas unhas os últimos desejos de mulher, de idade avançada sem unhas nos dedos, sem alma sem sabor, ai, sem tudo.

6 comentários:

Daniel disse...

Gargante rasgada... unhas no estômago... fantásticos esses termos que usou...

Daniel

Guilherme Navarro disse...

É engraçado ver como nossos textos se comunicam!

Junker disse...

Fiquei sem folego no final

Ju Fuzetto disse...

E elas rasgam de alguma forma o silêncio engasgado no peito. E risca de alguma forma as cordas vocais que pedem socorro.

A-D-O-R-E-I.


BEIJO

Stella Rodrigues disse...

Sinto um sentimento bem forte ao ler seus textos, é de se rasgar mesmo. Acho que quase nunca sinto isso, ainda mais lendo haha. escreva logo teu livro (:

Não me perder em minha vida disse...

Nossa fiquei parada pensando na tua dor, na minha dor, na dor da solidão do mundo. Prazer em conhecê-la