domingo, 19 de abril de 2009

Dentro da mala.

Aspirei um pouco mais de você, um pouco mais da sua pele e dos seus lábios. Passei meus dedos até que eles se perdessem em seus cabelos, mas de uma maneira da qual você não percebesse que eu ainda permanecia ali, memorizando cada movimento do seu peito ao respirar, do seu corpo ao se mover conforme os sonhos, assim como o meu corpo que se movia conforme o seu nos nossos sonhos. Ando pelo quarto recolhendo as lembranças e as jogando para dentro de mim, abrindo a mala próxima à cama, esperando que ali caiba mais do que roupas e sapatos, que nela caiba tudo isso o que eu sinto, tudo isso que você sente, tudo isso que estamos e ainda vamos sentir. Faço algumas manobras ali, empurro uma camiseta, dobro de uma outra maneira uma calça, e no pequeno novo espaço que surgiu coloco uma antiga foto nossa, de uma época em que não pensávamos em malas que nos separariam. Para que jamais fossémos esquecidos.



Ainda são 3 da manhã. A passagem área na mesinha de cabeceira ainda me assusta e me sufoca com todos os nossos planos presos na minha garganta. Exatamente o destino em que estáriamos em 1 ano. Mas isso não é o destino que planejamos, era? Eu não consigo dormir, mal consigo fechar os olhos, é como se eu tivesse medo de quando abri-los, saber que eu te perdi para sempre. Tenho medo de te abraçar, assim você acordaria e me faria lembrar do que haviamos combinado. Eu não combinei nada além da lingerie, que você não irá ver. Mas eu levanto um pouco a minha blusa, faço que seu peito sinta a renda suave, sinta a cor dela, que sinta o meu coração batendo desesperado, como se fosse mesmo a última vez que ele irá bater. Eu sussuro perto do seu ouvido que eu não quero partir, eu não quero que amanheça e que eu fique apenas com as lembranças. Seguro com toda a minha força as minhas lágrimas, abafo meus gritos e minha dor no travesseiro, que ainda tem o cheiro dos nossos corpos. Eu me levanto para evitar mais dor, essa dor de sentir a sua pele tão rente a minha sem poder tocá-la.



Você vai despertar em breve. Vai me perguntar o que eu ainda estou fazendo ali, e eu vou responder "o que é que eu estou fazendo aqui ainda?". Você vai delinear um sorriso novamente, um sorriso tão desenhado de dor quanto o meu, e novamente vai explicar que vai ser melhor assim, um tempo para os dois, as coisas andam difíceis, os dois vão se ferir mais ainda, essas coisas. Eu vou te abraçar, porque eu guardei esse abraço a noite inteira por medo de te fazer acordar, mas eu vou te abraçar para que você me faça acordar desse pesadelo. Vou ficar repetindo para você e para mim, mas muito mais prá nós dois, para aqueles dois da foto na mala, o quanto eu te amo e eu te amo e eu te amo como eu jamais vou amar e como você jamais vai ser amado. Mas você vai sumir entre as cortinas do quarto e as minhas lágrimas que deixaram meus olhos torpes, e vai levar as malas, e vai partir. Mas vamos estar onde quer que você vá, presos naquela foto, dentro daquela mala.
Felizes para sempre.

8 comentários:

Unknown disse...

Uau! O velho e forte amor romântico.
Adorei.
Eu só sinto pelas coisas não serem como no cinema. Lembro-me de Closer:
_ "Você nunca deixou alguém que amava?"
_ "Não"

iILÓGICO disse...

é...
nunca tinha parado para pensar na cena...
sempre penso se para um dos dois é bom ou razoável...

colocar o que sobrou na mala? ou no papel?

gostei pampas! inspirativo!

Henrique Hemidio disse...

???

Cleyton Cabral disse...

Que triste e lindo. =D

Adriana Gehlen disse...

posso mandar isso pra alguém?

vou.
:)
liindo

Unknown disse...

Cada vez mais Vanessa.

Marcelo Mayer disse...

cuidado com a alfândega, eles podem te separar.

Anônimo disse...

Isso que é Amor! O que vale é o momento, nada mas importa.