domingo, 11 de maio de 2008

Aquele ontem

Para Rennan.A quem nunca dedico nada,a não ser a minha vida.



Consigo claramente lhe imaginar em frente a este mar que ondeia nossa música com a mesma brisa a lhe desmanchar o cabelo tão loiro,olhando sem entender o motivo pelo qual meu carro está aqui aberto e com uma pequena caixa azul da cor do céu que são seus olhos quase verdes,e com curiosidade você abre e sem surpresa alguma encontra esta carta.E lê e relê e desespera-se em prantos de risos e gritos.Espero que entenda e me perdoe.Doí-me ter que lhe escreve-la.Debaixo da minha escrita há sangue no lugar de tinta.
Por quê?Porque tudo é inexato e confuso.Crescemos juntos e dividimos nossos medos, amores, rancores, dores, dúvidas, feridas, cigarros e bebidas e drogas e a nostalgia de quando éramos puros,de quando chorávamos apenas por motivos fúteis e não por coisas confusas e inexatas.Me é difícil continuar com qualquer certeza depois de ontem,difícil continuar com o que morreu naquela noite,difícil continuar como se nada houvesse acontecido, como se estivéssemos intactos.Porque era puro aquele amor que sentíamos até ontem, porque eu sei que você me ama tanto quanto eu te amo mas talvez não sofra com isso tanto quanto eu sofro.Amor esse que nos levou a essa decandência.Amor não carnal prazer sexual e orgasmos.Amor beijos e abraços e cumplicidade que não se mede em palavras.E mesmo depois de ontem eu só te quero nos meus lábios e nos meus abraços porque o meu corpo palpita pelo teu porque o teu corpo acalma o meu.
Eu tentei de encontrar em outras mulheres, nos beijos e nos abraços delas mas só encontrei transas e orgasmos que eu gosto com o meu sexo de homem em perfeito estado de funcionamento.Eu tentei de encontrar em outros homens mas encontrei apenas nojo e ânsia de vômito e o meu pênis que não endurecia.E o que me restou foram apenas cinzas e faíscas das minhas certezas e mais e mais dúvidas.Dúvidas sobre o que realmente eu sentia por você.Você que era casado e estava com tantas outras mulheres e na minha imaginação paranóica flertava com outros homens enquanto dizia que me amava, e isso me fazia mal e eu sentia ciúmes ou algo como querer você só para mim.Seria você o errado nisso tudo?Não.
Você é o esplendor de eu haver encontrado algo quando desesperava encontrar algo.O meu estar feliz alcançando o infinito para trazê-lo à terra e fundir os dois numa única visão.O que me faz reecontrar comigo a cada vez que a tua imagem suspende o meu caminho porque a cada exata aparição tua me devolve meu próprio eu.Você que está em cada sorriso e que eu respiro.
Ontem.
Ontem.
Como não foi possível reter aquele momento que me separa hoje de você?
Nossos olhos se buscavam como a encontrar-se um no outro como a morrer um no outro.Nossos lábios se cruzavam como a penetrar-se um no outro como a morrer um no outro.Era todo o nosso ser que se entregava como a viver-se um no outro.O teu corpo no meu corpo tão em mim e tão no além.Nosso desejo.O meu delírio.O teu delírio.E no universo havia apenas o espaço e o tempo que ocupávamos nós dois, libertos de tudo sem mágoa e sem medo e livres e serenos e puros.Vibrando todas as fibras dos meus nervos.Vibrando todas as fibras dos teus nervos.Era um desses instantes em que o infinito se concentra num segundo.Era um instante infinito e passou.Passou apesar do absoluto em que vagávamos.Ficou somente a tua imagem que ora se vai ora se vem dançando nua.Nem sequer ficou a estrela que isolava aquela noite mas apenas o apelo do teu olhar sumindo no silêncio, apenas a delícia dos teus carinhos se esvaindo na distância, apenas a magia dos teus gestos desfazendo-se em ausência.E a espera seca e fria sem nenhuma esperança.Porque entre suor e sêmen era em sua esposa e em suas inúmeras amantes que você pensava.Porque entre suor e sêmen era esse meu amor que se afundava e se afogava nessa imundice de sêmen e suor.E você chorava depois.Chorando desesperado me perguntando se aquilo tudo foi real e eu inerte e enojado tentando balbuciar qualquer coisa como foi por culpa do álcool e do extâse que ingerimos.E você me olhando com esses seus olhos tão petrificantes e confusos gritando alguma coisa assim que não deveria ter feito isso com sua esposa e comigo e eu tentando te acalmar dizendo que nada daquilo aconteceu que essa noite logo seria esquecida porque não nos significou nada apesar de me sentir sujo com o seu gozo misturado ao meu por todo o meu corpo.Somos caras normais não somos, você me disse.E eu lhe disse que nada daquilo aconteceu.
Não amigo,ela aconteceu.É desesperador e dilascerante descobrir assim que eu te amava da maneira mais singela que existe e não da maneira mais atrativa,se é que posso me referir a isso dessa maneira.Tudo isso se reduziu a nada e eu me sinto mal e eu ainda sinto você em casa parte do meu corpo e na minha alma como se até nela você houvesse penetrado naquela noite de ontem.Não sei o que fazer, estou perdido e terrívelmente confuso.Não foi nossa culpa, eu poderia dizer.Mas foi mais minha do que sua,mas temos nossa parcela de culpa.Mesmo que não houvesse a porra do álcool e da droga,ela aconteceria a qualquer momento.A saída que encontrei para estar em paz foi esta.Dirigir até esta praia,escrever-lhe estar carta enquanto fumo e observo o mar.O mar que irei lançar esse nosso segredo.O mar que fará afundar comigo todos os vestígios de ontem.Que Deus faça ser doce morrer no mar nas ondas verdes do mar que é a quase cor dos seus olhos azuis da cor do céu.

14 comentários:

Anônimo disse...

esse Rennan,

deve ser uma boa pessoa...bom nas suas palavras ele parece ser.

Silvio Lourenço disse...

Olá.

Brigadão por visitar meu blog.
Fiquei mesmo surpreso, após a longa estiagem, alguém descobrir o post novo.
Uma dica. Li o texto sobre jazz (Coltrane), que gostei muito. Detalhe: Se você quis usar a palavra lancinante (acho que quis), saiu um errinho de digitação ('lascinante').
Aliás, como descobriu o canto? Curiosidade...

Adriana Gehlen disse...

dá-lhe renan.
aleluia isso se tornou acessível aos comentarios. sempre quis ...

dá-lhe renan [2]

Adriana Gehlen disse...

rennan?!

Anônimo disse...

Você é muito boa!
Muito obrigada pelo comentário!
:*
(não seja tão severa, adorei o lixo todo...rss)

Sam disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Letícia Mendonça disse...

Olá!

Muito bom este texto!

Vou colocar o link do seu blog no meu!

Abçs.

Anna Clara disse...

joga no lixo. hahahaha. mentira.

Anna Clara disse...

gostei daqui.

Johnny disse...

Ela ganhou.. e depois jogou fora.. :/


gostei do seu texto!
:)

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
açúcar ou samba. disse...

é carregado de ontem, de ontens e muitos ontens esse texto.

bom encontrar pessoas

may wedwick disse...

"Ontem.
Ontem."

a história se repete por si só

Marcela disse...

resumindo... amigos são nescessários, principalmente amigos como o rennan.