sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Misto quente

8 da manhã e o som insistente do sino sob o balcão poderia enlouquecer qualquer um, se todos não morassem em São Paulo e já carregarem consigo a loucura da sinfonia do caos ao acordarem. O gerente dava o ar de bonachão simpático, escondendo entre um sorriso aqui e outro ali, a bronca que daria no chapeiro por colocar mais queijo do que deveria no misto quente. Se visse mais uma fatia sendo sobreposta a outra sob uma fina camada de presunto, descontaria do seu salário.
Algumas pessoas já tinham suas cestas recheadas de compotas, pães e bolachas e o ar impregnava o cheiro típico de expressos sendo pedidos para viagem. Os poucos que resistiam ao relógio permaneciam no balcão, olhos grudados no jornal da manhã conferindo a ultima rodada do campeonato brasileiro, discutindo como velhos conhecidos o lugar ideal para onde mandariam o juiz.
Uma moça roe as unhas enquanto observa o senhor ao lado mexer em seu lanche, que reclama para o gerente a falta do bacon que pediu com tamanha insistência que seria dificilmente esquecido. O gerente pede que espere e se dirige ao chapeiro, o culpando por pôr mais queijo nos mistos quentes e menos bacon nos hamburguers. A moça, num descuido do senhor ao lado, rouba o seu lanche e sai correndo pelas ruas, deixando para trás algumas folhas de alface que escaparam, ensopadas de gordura e maionese. O gerente possesso, consegue se desvincilhar de alguns clientes que estavam em sua frente para poder correr atrás da ladra, em gritos histéricos para que a parassem e que chamassem a polícia.

Os clientes, assustados com os gritos do gerente, já sussurravam entre si que o ladrão estava armado e que um dos caixas havia sido baleado, por reagir ao assalto. Também começaram a sair correndo, assustados, sem passar pelo caixa, que estaria morto.

Fecharam a padaria assim que constataram o prejuízo causado pelo pequeno furto de um lanche que seria jogado no lixo. Quando a polícia chegou, o gerente teve vergonha de admitir para os políciais e para os sócios que havia deixado a padaria, e os clientes, para correr atrás de uma moça faminta que roubara um dos lanches do balcão. Sustentou o boato do ladrão, esclarecendo que o caixa só não fora atingido porque ele havia impedido com sua coragem e pulso firme. Esclarecido os fatos, ele se aproxima do chapeiro furioso e comenta

- Culpa sua! Quantas vezes eu tenho que dizer para não por mais queijo nos mistos, hein?

3 comentários:

Mihh' disse...

HAHA' adorei!

otto M disse...

Rá! Quando você pensa que Katrina não tem mais nada a dizer, ela vem com uma dessas. Genial, garota. Me lembrou um pouco dos personagens urbanos e estranhos do Dalton Trevisan. E dos personagens que eu mesmo vejo todos os dias bem na minha cara nessa São Paulo que adoramos e execramos na mesma medida.

Obrigado por me fazer sorrir nessa madrugada.

Henrique Miné disse...

mas, poxa, queijo é caaaro! :B