quarta-feira, 16 de julho de 2008

Outros tão outros de si mesmos

Para Carol.
(para se ler ouvindo Get Together-Madonna)
Sozinhos.
Tocaram-se e uniram-se.
Juntos.
Ainda assim sozinhos.
(Hilda Hilst)


Sem qualquer expectativa e direção ou motivo eles entram na primeira boate que vêem aberta.Nunca haviam se visto antes daquela noite quando esbarraram-se na entrada violentamente como se soubessem que deveriam entrar ali.Trocaram um olhar tão absoluto quando a certeza que tiveram:Seriam tão outros de si mesmos nesta noite.
Se distanciaram e ela vai até a pista e aos poucos vai se entregando ao ritmo da música, totalmente desarmada e indefesa de todos aqueles olhares furtivos que desnudavam sua confiança na personagem aparentemente feliz e despreocupada que vestia, enquando seu corpo ia desenhando suaves formas no ar.Tenta esboçar um sorriso, qualquer sorriso, mas é inútil.Não consegue mais mentir para si mesma.Está cansada e fecha os olhos, esperando talvez, quando abri-los, se ver em outro lugar.Melhor.
Ele tenta se distrair e ignora-la, mas aquele olhar não sai do seu pensamento, porque aquele olhar carregava cansado o peso de algo que ele sabia exatamente o que era por ser algo tão óbvio em seu próprio olhar: Um apelo desesperado para crer em algo.
Quando abre seus olhos entre tantos outros olhares é o dele que encontra como se houvesse encontrado o seu próprio olhar refletido em um espelho.Perpertuaram este olhar que aos poucos os fez se aproximarem lentamente até que apenas o som de suas respirações ofegantes fossem ouvido em meio aqueles ruídos secundários.Não houve qualquer palavra porque eles já sabiam o que levou um e outro a estarem ali: O desejo de se encontrarem dentro um do outro.
Ele a segurou pela mão e a guiou para fora daquele lugar como se a guiasse numa valsa.E ainda sem que ninguém pronunciasse qualquer palavra, fundiram seus corpos e seus espíritos em um só ser enquanto seus corações tentavam suportar o êxtase que unia suas solidões naquela rua tão isolada e fria.Sentiram suas lágrimas percorem por suas faces até que se encontrassem e se unissem em apenas uma.
-Queria não ter feito isso.Ainda mais porque eu procurei em você algo para amar.
-Eu também procurei isso em você.Nos procuramos e talvez nem tenhamos encontrado isso, essa coisa que deveríamos amar.
-Por um dia eu queria deixar de acreditar nisso.Que o amor existe, esse tipo de amor que nos fez chegar até aqui, porque queríamos encontra-lo.
-Por esta noite poderíamos esquecer disso.Ser outras pessoas do que somos, procurar outra coisa para sentir, topa?
Assentiu.Então seguiram de mãos dadas por aquelas ruas desérticas preenchidas por néons que lhes davam alguma vida enquando falavam de tudo menos de suas vidas e seus nomes.Sabiam que amanhã seriam novamente os mesmos que abandonaram numa esquina qualquer, queriam viver aquela noite como outros, correndo e dançando e rindo como se nada pudesse os separar.
E reteram o tempo em seus dedos que teciam lentamente as horas, prolongando aquela noite que jamais teria fim, mesmo após o seu fim.
-Talvez, você seja a mulher da minha vida nesta noite.
-Dessa sua vida ou da outra?
-Das duas.
-Mas amanhã estaremos mortos, seremos outros diferentes do que somos agora.Você não vai me amar amanhã como eu também não vou te amar.
-Esqueça isso, esse amanhã que não tarda em chegar, mas que não vai nos atingir.Acredite, vivi nesta noite o que eu jamais iria viver durante toda a minha vida.Morro hoje, ressuscito outro amanhã, o que importa?Fui feliz, isso que importa.
-Também fui feliz, só queria que isso durasse para sempre.
-Mas essa noite vai durar para sempre.
Abraçaram-se enquanto o sol ia nascendo e fazendo morrer aquela noite em que puderam ser livres de qualquer imposição de suas vidas.Não houve despedida.Houve apenas a vontade de nunca se encontrarem agora tão outros do que foram.
Após esse encontro o resto foi um eco de tudo aquilo que não foi, pois passou como sempre passa aquilo que queremos para sempre.

2 comentários:

Anna Clara disse...

e eu que enjôo.

Anônimo disse...

Gostei muito desse conto,desculpe a ausencia,é que ultimamente ando um pouco sem animo pra nada...
rsrsrs
Bem,eu li seu último comentário no meu blog,eu não tenho orkut,desfiz o meu a pouco tempo,mas se voce quiser pode adicionar no msn:
nanah_zinhah_@hotmail.com
tah?
bjoss xD