terça-feira, 29 de dezembro de 2009
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Fio de memória
Que prá vocês ele tenha em dobro todas as coisinhas maravilhosas que lhes aconteceram em 2009. E que não seja apenas neste ano, porque não desejar isso a longa data?
E que a cerveja nunca acabe \o
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Apenas minha imaginação
Contorno o seu rosto e contorno o meu, e se há algum sorriso no meu eu desenho nos teus lábios e se há um sorriso nos teus lábios eu desenho uma suave gargalhada vinda dos meus, tão gostosa e tão sincera por ver um sinal de felicidade em você provocada por mim. Guardo com tamanho cuidado, como faço com os nossos cd's que contém todas as nossas canções, todos os "eu te amo" pronunciados por você e que são mais e tão mais preciosos que as canções sussurradas ao pé do ouvido que se espalham por minha casa. Me refugio em seu peito tentando estar ali dentro do seu coração e fazê-lo bater junto com o meu, num só compasso, até que eles se fundam em um só ritmo.
Mas o dia amanhece, mais uma vez eu sei que foi inútil tentar adiar, eu nunca consigo isso afinal das contas. Vejo os lençóis desarrumados e os travesseiros fora do lugar, mas não encontro você ao meu lado. Ando pela casa, invado ávida o banheiro naquela esperança tola e desesperada de te encontrar ali tirando de você o que restou de mim, mas você não está lá, assim como nunca esteve na minha cama.
Te vejo através da janela e você nem sabe que eu existo.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Último Natal
Sem mais, como sempre, obrigada a todos os nossos amáveis bêbados. Papai noel ama muito cada um de vocês, e eu também
(afinal, o VINHO DA CEIA DE NATAL TEM PODER!)
Enfim, vou ficar sumidinha aqui, por algum tempo, acho.
sábado, 19 de dezembro de 2009
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Carnaval fora d'época.
menina comportada num poema.
Mas você
me tornou carnaval fora de época
incabível em qualquer verso
das marchinhas
cantadas ao pé do ouvido
puladas na ponta dos pés.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
31 dias.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Sob as dobras do seu corpo
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
1985
Em 1985 apostei minha vida
mas menti no valor.
Pelo menos, meu coração saiu intacto.
Em 1985, Orwell provou que era verdade
linha por linha
enquanto dançávamos algum bolero com a ajuda de Torville e Dean*
e era tão triste
perder aos poucos 1985
Então Deus está morto, como Nietzsche já disse
agora só nos resta acreditar nas supertições
enquanto tudo tende a nos atacar.
Estamos fugindo, não sabemos para onde
estamos fugindo, e não sabemos se vamos voltar.
Em 1985, a guerra civil falhou porquê?
Todos escondem as cicatrizes, as marcas de balas,
mas ninguém consegue suavizar as palavras.
Em 1985 minhas palavras vieram vivas
meus amigos foram feitos para a vida
Morrissey e Marr me deram alguma chance
em alguma canção em 1985.
Então Deus está morto, Nietzsche já dizia
com apenas 16 anos de idade, ele disse.
Vejo todas as lágrimas, de todos esses mortos que insistem em caminhar
Você tem 20 anos em 1985
amanhã não vai querer mais saber do tempo,
vai tentar fugir dele.
*Torville e Dean - Casal de dançarinos britânicos famosos nos anos 80.
Meme criado pela Julia.
Pede-se que escolha uma música de sua banda favorita e a traduza como a entenda, sem fugir de sua estrutura e do que ela realmente fala. No caso, escolhi 1985, dos Manic Street Preachers. A canção foi escrita em 2005, no aniversário de 40 anos do vocalista, lamentando ter perdido tantas coisas aos 20 anos, sentido a falta de cada uma dela, durante os 20 anos seguintes.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Fragmento
Aquela face silenciosa, como haveria de esquecer algo tão sublime?
Um pensamento que jamais mudava e persistia numa mentira estúpida cotidiana. Sim, ele se fora, ela não.
Ela seria a mesma, a poeta que transformava cada traço de sua vida mal escrita em versos, um poema que nunca lhe pertenceria. Exorcisava todos os demônios com sua pureza e
seu velho sorriso quebrou-se, frente a tela de plasma com o sorriso dela eternizado em pixels. A voz suave a recitar aqueles poemas guardados em pastas, palavras que lhe resgatavam de uma realidade absurdamente solitária, faziam com que uma ideia crescente tomasse forma, carne embebida em sonhos.
Sabia que ela ainda morava no mesmo apartamento, da mesma rua onde se despediram pela última vez, olhos implorando por mais uma chance, os lábios fazendo o contrário, ela lhe dizendo sobre as feridas, ele mostrando as armas. Quanto tempo? Desnecessário medi-lo. O coração, sempre ele, possui seus próprios ponteiros.
Vestiu sua camisa favorita, pegou o casaco e saiu de casa sem fechar a porta.
O que roubariam? Quando lhe roubam a alma, qualquer coisa se torna amiúde.
Andando pelas ruas imundas, ele era imundo e não se importava mais com isso, a casa era limpa demais, mania contraditoria por limpeza, somente papéis brancos espalhados pelo chão e algumas cinzas de cigarro, as roupas perfeitamente limpas sobre uma alma tão suja.
Não ela, ela jamais.
Sem rumo, sem pensamentos.
Apenas os sentimentos, vespas na cabeça, tiros nas entranhas.
Entrou na primeira estação de metrô que viu, ficou feliz pela bilheteria estar sem fila, não queria esperar, não poderia.
O vagão estava vazio, sim, estava lotado, mas ainda assim, sua solidão o afogava num delírio vazio de vida.
Era estranha a sensação que ainda sentia de esperá-la como quem espera o inverno através de janelas entreabertas, mesmo que ela o aquecesse como o verão em tempestades de prazer e vida, (essa coisa que ele já desconhecia para que servia) refletidos naqueles olhos que faziam todas as cores da primavera florescerem, o matando como as folhas pelo caminho feito de outono.
Ele estava entre estações e não importa em qual delas ele parasse, em nenhuma ele a encontraria dispersada em algum sorriso ou perfume.
Sentia a ausência dela dentro do seu corpo, assim como sentia a ausência de si mesmo dentro de si.
Onde ela estaria agora?
Não sabia, sentia.
Desceu algumas estações depois, sem olhar para trás. Apenas seguiu os demais que corriam em direção à saída com tamanha pressa que se esqueciam dentro dos vagões.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Rosa Flor Cristal.
E hoje, estreio meu conto no Desce mais um, Rosa Flor Cristal. O tema escolhido pelos leitores, para essa semana, foi carta de amor a uma prostituta.
Tentei fugir do convencional, espero que gostem =]
(AAHHH, queria agradecer aos bêbados que frequentam nosso puteiro diariamente. E os que vão lá ocasionalmente. O importante é comer e sair satisfeito)
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Despindo o drama
Não entro em acordos com a cor que destoa dos meus saltos, a contratempo, prefiro a cor dos meus pés sujos dos lugares onde pisei delicadamente como uma manada de leões em fúria. Invento todos os dias um novo rosto, traçando um novo olhar com delineador, dias de lábios encharcados de sangue, dias de lábios com estrelas. De estrelas entendo, apesar de ser Aurora, nunca amanheci.
Tenho nos meus saltos a minha vida inteira suspensa, sem eles, sou menos do que um grão de poeira entre meus dedos. É isso, quando toco o chão com humildade, deixo de existir. Só de saltos sou Aurora, mesmo sem amanhecer, ensaio os meus raios de sol sobre a existência alheia. Não peço desculpa pela minha superioridade quando piso com a ponta dos meus saltos em alguém. Saber que eles ferem, me cicatriza.
Não espero nada a longo prazo. A longo prazo fede a mofo, mijo velho conservado para exame médico. Mas também não tenho paciência a curto prazo. A curto prazo vem forte, mas sai fraco. Perde plasticidade e ganha história, anos semi razos. Por isso, segundo meu analista, eu não amanheço. Estou vestida de drama, me escondo atrás da lua, roubo a escuridão. Um dia, quem sabe, amanheço, eu sei.
Quando me despir de todo o drama e quebrar todos os saltos, vou ser aquela que amanheceu para a verdade. Seja ela qual for.
Despindo o drama: Fotonovela estrelada por Ferdi Mendonça (foto), com fotografias de Alline Nakimura e roteiro e direções desta que vos fala. Em breve, no lixo de textos.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Desce mais um, por gentileza?
Sete pseudoescritores de blogs falidos, se reúnem uma vez por semana aqui, prá despejarem seus textinhos de merda. Toda semana, vocês, caros leitores (se existirem), podem escolher o tema do qual, nós, deveremos montar nossas histórias através de uma enquete com temas propostos por cada um de nós. Um desafio? Talvez, mas estamos dispostos a sermos ferrados por vocês, então, sintam-se a vontade e peçam o que quiserem. Aqui, quem manda nesse puteiro, são vocês.
Aproveitem a boca livre da inauguração, eu recomendo.
Segundas feiras- Eu \o/
Terças feiras - Hugo
Quartas feiras - Junker
Quintas feiras - Bernardo
Sextas feiras - Luna
Sábados - Leandro
Domingos - Rafael
Enfim, conto com a presença de vocês no nosso puteiro
domingo, 29 de novembro de 2009
O dono dos finais.
Mas se você for igualmente cretina, quer dizer, se você for daquelas que não se importam com declarações de amor porque, o amor está morto a muito tempo e a melhor maneira de festejar sua morte é dando para todos sem a menor modéstia, sem a menor esperança de encontrar aquele príncipe encantado, aquele cara que a sua mãe vive rezando para que apareça na sua vida, então por favor, me procure. Tenho o melhor final para esse tipo de relação. A gente começa pelo meio, da parte onde já nos conhecemos a muito tempo, e por já nos conhecermos, já nos tornamos íntimos suficientes para uma cama e todas as posições para todos os jogos. Depois, por algum motivo que não saberemos nunca, você vai saber que eu não sou o seu príncipe encantado e nem você é a futura mãe dos meus filhos, usei camisinha e você rasgou o útero. Mas sorriremos, trocaremos telefones, talvez eu lhe faça aquela promessa, te ligo amanhã, você vai sorrir e responderá, ligue mesmo e a gente marca alguma coisa prá sexta feira. Mas o nosso final sempre foi esse, não vou te ligar e você não vai ficar esperando pelo telefonema, porque vai estar com outro cara fazendo o joguinho de mulher que AINDA espera pelo príncipe encantado, e olha só, pode ser você, cara de sorte.
Não procuro finais melhores do que este, sabe, eu gosto de ser o dono dos meus finais. Talvez nem Deus se meta nos meus finais, ele não é louco. Ou me esqueceu, também esqueci ele, estamos igualmente quites.
Se me derem licença, a cama me chama. Um cigarro aceso, os lençoís fora do lugar. Mas sou cavalheiro, não direi jamais quem fez isso.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Ressaca urbana.
- Mas que ressaca da porra!
Vestiu-se numa velocidade quase maior do que a com que o relógio marcava o seu atraso. Sua pontualidade ainda era britânica, seu chefe é que não se acostumara ainda com o fuso horário. Pegou as chaves e a bolsa, bateu todas as portas ás suas costas. Esqueceu sobre a cama a carteira e toda a sua maquiagem. Acabou deixando a si mesma sobre a cama, sem perceber.
Correu pelas ruas acumulando sobre si a poeira do cotidiano daquela cidade que parecia engolir a todos, um grande triturador de sonhos e pensamentos. Um liquidificador de sentimentos e planos sobre as suas imensas avenidas retas e sujas de asfalto. Precisava chegar a tempo em seu emprego, não era a primeira vez que corria contra o tempo mas era a primeira vez que sentia que seria inútil, que talvez não conseguisse chegar lá, sensação tão certa quanto o estômago revirado e a cabeça dolorida. Como se os seus próprios pensamentos fossem os causadores daquilo.
Não adiantaria pegar um ônibus, mesmo que quisesse, a cidade estava emaranhada em um trânsito caótico e infernal. O que lhe restava era correr até chegar a uma estação de metrô e ter a sorte de não precisar enfrentar fila alguma. Seus sapatos novos pareciam desgastados demais, sua roupa branca parecia refletir o asfalto, num tom de cinza muito parecido com os seus olhos da cor do céu que anunciava algum fim, talvez do dia. Lembrou-se que estava sem maquiagem, o rosto limpo de qualquer mentira, era ela, uma mulher atrasada para tudo. Principalmente para si mesma. Olhou novamente para o relógio, amaldiçoou mais uma vez a ressaca, o trânsito, o sinal que não abria nunca. Talvez tivesse sorte se corresse.
E correndo não percebeu que o trânsito então, como um laço mal feito, se desatou de repente, e ela, um mísero ponto tão cinza quanto a rua, cinza como seus olhos que anunciavam algum fim, estava no meio de todo o movimento das rodas, dentro do coração selvagem de pedra que pulsava. Viu apenas como um borrão vermelho, algo a se aproximar tão rapidamente de si que a atravessara. Apenas sentiu o seu corpo estar tão leve que poderia voar sobre todos aqueles carros e cair delicadamente sobre o asfalto quente e seco. Ouviu ao longe pessoas gritando, buzinas enlouquecidas e passos quebrando mais ainda o seu corpo. Não sabia o que estava acontecendo exatamente, mas sabia que chegaria muito atrasada e que certamente seu chefe lhe daria um aviso prévio, então, esse era o fim. Não conseguia abrir os olhos para se certificar se estava próxima ao prédio do seu trabalho, o sol queimava seus cílios e algo a impedia de abri-los. Ouviu quase que surdamente algumas sirenes e, quando finalmente conseguiu, com esforço igual ao que teve ao se levantar, abrir um dos olhos, viu ao seu redor várias pessoas e algumas câmeras.
Estava atrasada, estava suja, estava esticada dilascerada numa avenida, estava sem maquiagem e ainda por cima queriam fotografá-la. Amaldiçoou a todos, mas principalmente a ela mesma, por ter esquecido o seu estojo de maquiagem sobre a cama.
Não queria aparecer assim, na capa de qualquer jornal, como se estivesse morta. Só estava com ressaca, só isso.
-Mas que ressaca da porra! - disse, antes do seu dia terminar.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
She took a long cold look
Ela era fraca para bebidas, careta demais para drogas, mas fingia overdoses ouvindo Syd Barret para me agradar, não sei, queria matar minhas saudades da época em que eu ficava chapado só de me lembrar de woodstock. Geração saúde, menina, sou o garotão de 50 anos que abandonou o pozinho e a picadinha para encher a cara de jack daniels sem gelo enquanto me masturbo ouvindo meus lp's raros, prá jogar na cara dos jovens que nem você que o som deles é melhor, qualidade saca?
Eu tinha o sorriso do gato de Alice, talvez lhe faltasse mais coração para ser a rainha.
-Syd poderia ser o chapeleiro maluco?
-Tá louca? Ele sabe dos caminhos, eles nos trouxe aqui. Ele é o coelho branco, a porra do coelho mais branco que existe.
- Ele brilha em nós.
-E você está louca.
Ela sabia que eu odiava esse papinho romantizado em falsete, eu tava velho demais prá loucuras assim e ainda mais sem porra nenhuma. Mas naquela incessante gargalhada ela só me pediu, entre um gole de ar e outro, que a chupasse.
-E por favor, seja romântico.
E fui, faixa 3, volume baixinho.
Honey love you, honey little,
honey funny sunny morning
love you more funny love in the skyline baby
ice-cream 'scuse me,
I've seen you looking good the other evening
(cantei bem perto daqueles lábios enfurecidos de juventude. Não me importei se a porra dos olhos dela estavam abertos enquanto gozou)
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Antologia de uma escritora fracassada
febre. Se morrer
fica com os
meus livros e
prepara uma
antologia de
tudo o que eu
escrevi?
Remetente:
Katrina
Enviada:
19/11/2009
07:32:20 pm”
“Claro, pode
deixar comigo.
Eu cuido de tudo.
Mas sua
antologia vai ser
muito maior,
meu. E os textos
de quando voce
for uma velha
brava com
problema de
pulmao serao
imortais.
Enviada a:
Katrina
Data e hora:
19/11/2009
07:37:36 pm”
eu acho mesmo que ela ainda escreverá
algo vivo, de vida mais longa
que os 60, talvez 70 anos
que o cigarro a deixará viver.
há uma senhora de 75 anos
que vive cachimbando na calçada
de frente pra minha casa
ela provavelmente morrerá
de velhice.
(Pena Jamess, que eu ainda não escrevi um poema para a antologia)
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Aviso a New Orleans
Verbalizo os seus encantos e os seus desejos de afrodite. Deixo solto o compasso. Você alcança as nuvens em seu samba enredo, ficamos afoitos no chão te aguardando. Não temos o seu tempo, o tempo de um suspiro, estamos atrás enquanto você passa. Eles comem os sonhos de padaria e nós lambemos os dedos sujos de sangue.
Sangue do nosso ventre
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Louca.
quando você declama poesias em cima de
uma cadeira de bar
e recebe aplausos tímidos
e um bêbado beija sua mão em reverência
quando você tenta ligar para a Duda Rabuda
num orelhão em frente ao prédio do INSS
e constata que ela só pode estar dando
pois não atende o telefone
e você vê um mendigo sobre o viaduto
contemplando os carros da avenida à noite
o olha nos olhos
e ele te estende uma garrafa de aguardente
depois de um "oi" gutural
e você nota um grupo de pessoas vestindo panos longos
um manco, um velho e algumas mulheres
vestindo panos e cordas
e uma criança entre eles
menina ágil e curiosa sobre estas duas pessoas do mundo
que corre a ver a foto digital que você tirou
do grupo
depois de um pedido anormalmente espontâneo
de sua parte
e você aprende um sinal de paz
dessa religião esquecida
e lhes agradece com sorrisos
e zomba de um crente na praça da Sé
que te responde furioso
"hoje você zomba, amanhã você desce!"
e você se senta na escadaria da igreja
e fotografa lixeiros
velhos
e um indigente solitário
e tira poesia de uma vendedora de amendoins no trem
e depois disso me diz
"tenho medo de você
você é louco..."
eu me rio satisfeito
pois com este espírito
talvez um dia você me alcance
e jogue fora sua TV
ou quiçá você a continue assistindo
e isso te torne mais louca
que eu.
(Francisco Jamess, que além de ser um dos melhores poetas com quem tive a oportunidade de dividir cervejas, risadas e desabafos em escadarias da Sé, por pura obra do destino, é meu melhor amigo também)
domingo, 15 de novembro de 2009
Revolta cubista.
Inimigos da saudade
Você me pintou de uma maneira tão real que agora ao me ver em suas tintas percebo os borrões em que me tornei, a imagem dos teus dedos não é a mesma do meu espelho, no vai e vem de decompor e recompor a realidade, que escorre pelos ralos como meus pedaços fragmentados por suas lâminas, palavras. Cores vivas que morrem em cada suspiro.
Desconfio amargamente de que estaremos cada qual em sua Babel, no alto da torre gritando coisas das quais nunca conseguiremos entender ou coisas das quais preferimos não entender, no final serão sempre algumas pinceladas violentas numa tela que sangra sem entender.
O teu sorriso quebrado & espalhado pelos cantos da minha tela
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Nota abstrata.
Tirei meus soldadinhos de chumbo das caixas para que eles vissem o mundo pelo qual eles deveriam lutar e vi em seus rostos que estavam exaustos de matar essa minha infância que insiste em me visitar. Sequei as últimas lágrimas da noite mas que seriam as primeiras da manhã em eu soube que seria devorada por um vazio maior do que se encontra pelas ruas e elas gentilmente me ouviram como ouviriam qualquer um que lhes dessem a atenção necessária para também as ouvirem em sua linguagem amarga e triste, composta de miséria humana, remorso e fracasso com uma nota de violência. Eu poderia tocar qualquer samba, em prelúdio quem sabe até em interlúdio & ele poderia soar como uma benção de algum sábio louco ou obsceno como uma profecia que anunciava desde sempre a sua vinda à minha vida para que a roubasse momentaneamente sem que eu a percebesse, porque até então, eu não sentia a falta da minha vida ausente pelos cantos.
E mesmo que de volta, a vida
me olha como estranha.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Sob uma lua de tango.
agora estátuta de pedra, não diferente de nós, num último tango silenciado por um cigarro que acabou e que espera encontrar outro para preencher esse vazio de todas as canções.
Em algum lugar desejaria que eu fosse quem ama
mas não desejaria que fosse ninguém, se já é quem eu amo e o universo todo já se estremesse em paz ao sentir isso.
Então vou almejar um céu do qual possamos compartilhar já que somos pó perante tudo, perante a essa estrada em que nos perdemos e que tantos outros se perdem e chamam diariamente de vida, e a minha se torna um pouco menos vida, muito mais destino, ao cruzar meus passos aos seus sob uma lua de tango & dizer com a voz embriagada de nostalgia que você me conduz para dentro dos meus sonhos de Ícaro sem nenhum medo de alcançar o sol
& mesmo Ícaro de asas de carne e sorriso infantil
eu me derreteria por você.
Presente
Um desenho com uma máquina onde eu mato pombos, uma xícara de café, um cigarrinho e HENRY MILER MALANDRÃO E GOSTOSÃO é daqueles presentes dos quais eu nunquinha vou me esquecer, mesmo.
Obrigada também, Luna, Hugo, Rafael, Leandro, Junker e Bernardo, por abraçarem a minha ideia absurda (da qual em breve todo mundo já vai saber).
Enfim, é o basiquê.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Do final, não muito longe do começo
Eu não disse que seria, você nunca soube que seria, então vamos pagando esse preço caro que é viver os últimos dias como se eles fossem os primeiros dias: dois estranhos numa tentativa de se conhecerem numa cama enquanto tentam se esquecer do que já viveram com outros, sem nenhum êxito ao passo que precisam se agarrar aos outros ontens, procurando um no outro algo a se amar, algo no que acreditar. Mas encontramos dois corpos cansados e tristes que se repelem no espaço universal de uma cama.
Eu queria que fosse, você sempre quis que tivesse sido, então só nos resta esses pedaços que deixamos para trás, alguns sorrisos, algumas sinceridades,umas lágrimas de felicidade e aquelas surpresas agradáveis. Mas o que ficou, o que nos restou mesmo, foi esses sorrisos falsos e sarcásticos, essas sinceridades sinceras demais, essas lágrimas após brigas intermináveis e essas surpresas desagradáveis.
Eu tentei vencer, você achou que já houvessemos vencido, mas estamos nessa batalha ainda. Fechamos nossos olhos e por instantes, somos novamente tudo o que jamais deveríamos ter deixado de ser, mas então acordamos, não te reconheço e você finge o mesmo e é isso que seria o resumo desse pesadelo que vivemos. Me pergunto como isso foi nos acontecer mas são seus olhos sem maquiagem que me respondem com a mesma pergunta. Só nos restam proclamar o fim, mas o fim do quê, se já ultrapassamos todos os pontos finais e finais felizes que existem?
Mas não acreditamos em finais se ainda estamos não muito longe do começo.
domingo, 8 de novembro de 2009
Você tranca o planeta
são eles que se assustam
com o que eu faço.
Domestico minhas vontades para não ser mais uma mera personagem da epopéia amorosa, sambinha cretino que toca no rádio & no coração
em noites ilustradas em que a garoa
me molha de você.
(que tranca o universo & joga a chave fora)
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
A comédia dos erros
Para onde vão os trens meu pai?
Para Mahal, Tami, para Camiri, espaços no mapa, e depois o pai ria: Também para lugar nenhum, meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem tu não te moves de ti
( Hilda Hilst)
Dante ardia em febre enquanto descia brincando o inferno & você me queima como se fosse Nero tocando suas canções intermináveis sobre o dia em que o amor pegou suas malas e saiu de férias. Maomé delirava enquanto sua voz desenhava o alcorão e Moisés riu amargamente das leis que nos prenderiam para sempre numa tábua de mármore
e eu tenho dado as mesmas amargas risadas por ter me prendido para sempre dentro de você
que me arranca como parasita, que arrasta meus cândidos sonhos pelo chão até que sobre apenas a intenção de sonhar, mas sonhar tem me cansado muito.
Prefiro a ilusão que provém dessa loucura que percorre minha pele & faz você delirar.
(O último cigarro apagado não é mais especial porque não nos é dado saber ser ele o último ou o primeiro de um maço longinquo
porque interminável)
terça-feira, 3 de novembro de 2009
A verdadeira causa
Sorriu para a esposa, que pela primeira vez esboçava o sorriso da mulher mais feliz do mundo. Tentou naquela noite tudo o que sempre quisera e jamais tivera o mínimo de coragem para fazer. Não se importou se a esposa se sentiria ofendida, mandaria ela e seu moralismo de merda para o inferno se fosse necessário. Foi até a cozinha e trouxe para o quarto a garrafa de vodka que comprara. Bebeu metade e a outra jogou sobre o corpo da mulher, que olhava extasiada como se Deus tivesse finalmente ouvido suas preces. Nunca imaginaram, ambos, que houvesse tanta luxúria adormecida em quase 20 anos.
Levantou-se, beijou sua mulher nos lábios ofegantes, abriu a gaveta e tirou o maço de cigarros antes que ela percebesse. Olhava meio amargo pro maço em suas mãos, marlboro vermelho, comprou só porque gostava da cor. Nunca havia fumado, mas por indicação dos amigos, queria experimentar a sensação de fumar um após o sexo. Por indicação do médico, ele não deveria ter comprado esse cigarro, deveria se manter longe do alcool e deles. Esforços físicos também, riscados. Nos dedos contou, sem tudo isso 6 meses, com tudo isso uns 3 meses. Um sopro no coração, mas nem sentia nada ventando dentro dele. A mulher que insistira no check up, achava ele meio desanimado prá tudo, desconfiava que fosse vermes, e agora, com o maço em mãos, sabia que não era. Tentou abrir, puxou o lacre, desdobrou as abas. Estavam lá dispostos 20 cigarros do mais exemplar filtro vermelho. Olhou para baixo da varanda, uns 10 andares, crianças jogando bola sob refletores. Puxou um dos cigarros, mas não conseguia o retirar, tentou mais uma vez sem êxito. 6-3= 3 o que dava 91 dias que perdera em apenas 9 horas, e esse cigarro que não quer sair, e dá umas palmadas no fundo da embalagem, os cigarros caem, ele tenta agarrar algum, perde o equílibrio.
As crianças gritam horrorizadas, o homem nu esborrachado no chão tem um sorriso débil. Entre os dedos, um cigarro que não teve tempo de acender.
Até hoje, a mulher culpa os cigarros, foi por causa deles que ele morreu.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Nosso homem em Havana
Você diz que não escreve sobre política. Mas é impossível não pensar em uma micropolítica do cotidiano quando se lê O Rei de Havana, ou O insaciável homem aranha. Nesse último, a história dos acrobatas que são interrompidos pela polícia é uma metáfora interessante sobre a intervenção do socialismo no âmbito privado, não? Cada um lê o que quer em um livro e faz sua própria leitura! Os antropólogos encontram antropologia em meus livros. Os jornalistas, crônicas da vida cotidiana. Os obsessivos sexuais, luxúria. Os políticos encontram política. Eu vejo histórias interessantes de gente em situação-limite.
E da literatura internacional, quem seriam seus eleitos? Para mim, Franz Kafka e Julio Cortázar são os dois maiores escritores do mundo. Além deles, comparo minha condição de escritor censurado em meu país com a de Fiódor Dostoiévski de Crime e Castigo. Ele escreveu esse romance sob a dominação do czar e vivendo no subúrbio de Moscou. Mesmo assim, em vez de fazer um panfleto político, criou uma novela policial, como eu, que em vez de fazer os personagens sofrerem, os boto para trepar".
Post dedicado a outra amante desse cubano, Dona Adriana Gehlen
domingo, 1 de novembro de 2009
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Sempre atrasado
Queria ter-lhe dito antes da partida, mas se eu lhe falasse da partida seria como não querer partir. Preferi o silêncio escrito em letras amíudes, um silêncio que só você consegue ler. Não posso mais me atrasar, você sabe, estou sempre atrasado para a vida. Peguei o bilhete, me despedi de toda a culpa, peguei o que havia de melhor em mim sobre a cama e fui embora.
Por muito tempo eu perdi a vida pelas estações, a esperando. Passa tão rápido rente ao nosso corpo, que mal conseguimos entrar em um de seus vagões, então eu fico naquele desespero de, ter que pular entre o vão e a plataforma para poder alcançá-la. Não quero embarcar com Caronte, se é que estou sendo claro, não por enquanto, digo, ele sempre vai estar a nossa espera, porque adiantar as coisas? Você não quer embarcar nela, respeito sua decisão, mas eu preciso correr antes que mais uma vez, por todas as vezes, eu a perca. Ela não marca hora, a vida. Nunca espera por ninguém e nem vai esperar por você. E nós não esperamos pela mesma vida, no final, se o há.
No caminho, para a vida, comprei uma garrafa de vinho. Uma distração que se tornou em alguns goles uma maneira de me recordar do seu sabor. Talvez se pergunte qual o seja, mas ficarei calado. Prefiro que jamais saiba o sabor que a solidão tem. Me esbarrei com algumas pessoas, outros atrasados como eu e percebi que , quanto mais pressa temos de entrar na vida, mais atrasados chegamos por errar o caminho. É verdade, julgue me um cretino por não avisá-las, por vê-las pegando qualquer direção que não seja a da vida. Ou julgue-me um tolo, por achar que somente eu sei o caminho.
O que é certo para você prá mim há muito tempo já se tornou errado. Então deixei os cigarros dentro do maço, dei adeus ás nossas ruas, me levanto com o sol e me deito com a lua, o sexo já deixou de ser minha moeda de troca e espero muito mais do que o amor. Mantenho meu corpo são, minha mente livre, digo, não a prendo a pormenores, não sigo conselhos e livros de auto-ajuda. Deixei os escritores e os poetas falando sozinhos.
Mas a vida tem dessas coisas, um dia, ela inverte tudo, vai ver.
Um dia, compro um bilhete de volta à você.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Kevin Carter
Ou ouçam
http://www.youtube.com/watch?v=T7hw5NkSPvs
(Manic Street Preachers - Kevin Carter)
sábado, 24 de outubro de 2009
Lazy Afternoon
Digo que sou meio cinza meio fênix
depende muito do meu humor & depende muito mais das tuas mãos sobre minhas pernas onde os barões do café deixaram seus resquícios & onde você me beija e deixa teus indícios
de que nada foi perfeito
(nem o amor
somente o pretérito)
Desabotoarei todo esse blues da tua camisa & com meus lábios roubarei todas as notas necessárias para que nosso jazz exploda num sonho que geme & invade com violência nossos mais recônditos lugares
e que nos faça crer mais uma vez
no pega pega de Adão e Eva
(mas eu me perco acima das tuas coxas & você desfaz minh'alma
num lençol encharcado de saudade)
O relógio
delira nossos corpos
Coltrane nos olha de canto
espalhados pelos cantos
e ri maliciosamente da nossa desgraça
meros atores esquecidos em preto-e-branco.
Eu poderia dizer que você está comigo
VOCÊ PODERIA DIZER QUE VOCÊ ESTÁ COMIGO
mas o mundo
não pára
de gritar isso
um só minuto.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Acabe já com seus problemas!
Dermatológicos - Passe diariamente em toda a pele, de maneira uniforme, sêmen (sempre fresco e quente, de preferência). Vá testando os diferentes tipo de sêmen até que encontre aquele que possa suavizar cicatrizes e rugas, além de clarear manchas. Aplicar duas vezes por dia ( para melhores resultados, esqueça a frequência, faça quantas vezes quiser por dia, mas faça todos os dias). Claro, não seja boba, seja atirada e peça-o em casamento. Claro, não seja boba, saiba que todo bom remédio tem prazo de validade, caso o seu expire, teste outros sêmens.
OBS: Homens também poder usar, que não sejam o próprio, porque isso é nojento, ok?
Visão - No uso freqüente de colírio, troque-o por delírio. Olhos precisam delirar, crianças. Se usa lentes, não seja hipócrita, mortos não enxergam nada mesmo, nem a um palmo e nem a sete palmos à sua frente.
Cardíacos - Pessoas que transplantaram seus corações cárneos por corações de pedra (dependendo da sua condição financeira você pode obter um coração de pedra lascada, granito, mármore Ou poderá ser excêntrico sem deixar de ser elegante, tendo por exemplo um coração de diamante. Só não o exibam por aí, não sejam bobinhos, alguém pode achá-lo muito precioso e roubá-lo) . Tais transplantados costumam apresentar vida longínqua, além claro, de não sofrerem mais com anginas, amores-não-correspondidos (gravíssimos, tomem cuidado, seus não-transplantados), taxas de colesterol, infartes, paixões repentinas que ora vão ora vem e sempre vão (e você sempre morre um pouquinho), sopros( perigosíssimos próximos ao pescoço). Relatos garantem que os efeitos colaterais de um coração desses é avareza e mal humor, o que são facilmente tratáveis com chocolate.
OBS: Não exagere no colesterol, mesmo que isso não vá lhe aflingir diretamente. Não se esqueça que pedras são quebráveis e um pouco de colesterol pode deixar o coração escorregadio em suas mãos, não seja burro em pedir que outrem o apanhe no chão e o ponha no lugar. Então, esqueça MESMO Marlon Brando (nada de manteiguinha, seus danadinhos)
Auditivos - Graças ao bom Deus da tecnologia, só sofre disso quem é burro. Simples, compre um mp3 (eu sou das antigas, não se esqueçam. Se quiserem, sejam moderninhos, comprem LP's e uma vitrola, adaptem isso a alguma-coisa-que-eu-não-sei-o-quê para ouvirem aonde quer que vocês forem) e toda vez que seus ouvidinhos doerem com Calypso e afins (segue lista em anexo. Resumi a Calypso porque é uma forma generalizada de música-ruim-péssima-que-nem-o-diabo-ouviria. Até porque ele deve ouvir Jimi Hendrix & amigos ao vivo todo o dia.) liguem o aparelho, aumentem o volume e sigam adiante (não se esqueçam de que buzinas são trombetas divinas avisando sobre uma possível morte estupidamente acidental)
Fonoaudiologos - Aconselho dois grandes remédios: Michaellis e Aurélio (você também pode comprar os pequenos, que cabem no bolso, caso queiram ser práticos)
OBS: Não consegui dar esse conselho a tempo a nosso presidente, e ele também já não tem tempo prá isso, sabem como é, as aulas de inglês com o Joel Santana tem ocupado demasiadamente o tempinho livre dele. Pessoínha de temperamento fleumático, esse hein? Não é a toa que tem aquela face de traços rabicundos e espartanos, pobrezinho. É tão frugal falar corretamente o português, não?
Prisão de Ventre - Até hoje NÃO ME CONFORMO DE SOFREREM DISSO AINDA! Seguinte, contratem um bom advogado. Porque ele deve saber que há mais de 148 anos foi legislada a lei do ventre livre. Convenhamos, só tem prisão de ventre quem tem rabo preso, né?
Pé de atleta- Céus, mais simples ainda, vire sedentário. Algum probleminha em ter pé de sedentário?
Sexuais - Abrange muitas soluções, mas vou me atar a duas extremamente comuns.
1- Saia do Armário, hoje no Brasil existem leis para te proteger. E SUS até cobre cirurgias de mudança de sexo.
2- Homens, meus amorzinhos, não digam jamais "ISSO NUNCA ACONTECEU COMIGO ANTES". Façam o seguinte, deêm um beijinho na sua mulherzinha e digam " Se você quer a melhor transa de todos os tempos, espere um pouquinho só, porque eu só consigo isso se eu fumar um maço inteiro de marlboro vermelho" (tem que ser vermelho hein, nadinha de silver ou light). E claro, FUMEM NÉ. Quando voltarem, ela estará dormindo profundamente e você com futuros graves problemas pulmonares.
Pulmonares - Melhor ter problemas sexuais, não?
OBS: Se estiver com o nariz congestionado, cheire uma vagina. São ótimas descongestionantes nasais.
OBS 2: Minhas amadas menininhas, não me vão cheirar a própria né? Peçam para suas amigas, afinal, elas também são para essas coisas.
E o principal é, dêem muitas risadas. Rir ajuda a enganar um pouco a morte.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Um breve relato sobre tudo isso que é inomeável
Eu me despejo sobre as letras frenéticas de Miller & Bukowski numa tentativa muito bonita e muito poética de senti-lo também frenético se despejando sobre mim sussurando no meu ouvido here, there and everywhere, não importa que lugar seja isso, estaríamos em qualquer lugar e eu seria sincera ao lhe dizer que eu sempre esperei que aparecesse um dia à minha porta, sonho romântico despedaçado ao longo dessas noites em que meu corpo dançava sozinho com os resquícios do teu sobre minha cama. Porque eu te esperava mesmo sem saber teu nome ou o quanto você fumava e que esse gosto perpertuaria noite após noite nos meus lábios insones, mas eu apenas sabia o quanto você era exato para todas essas minhas razões aritméticas entre fórmulas absurdas que jamais tinham, até então, um resultado. O valor incalculável do x das minhas equações.
Eu tento entre, algumas noites das quais prefiro esquecer e tantas outras que eu ainda vou esquecer apesar de perder sempre para a minha memória, cretina, que sempre lhe trará a dança, reter você entre os meus dedos já que não posso lhe reter entre os meus lábios ou em meus abraços que lhe farão escorrer pelas minhas pernas tortas e extremamente brancas, nessa dança em que não saberemos os passos, nunca sabemos nada além do ritmo que o coração nos manda seguir & assim eu me conformo de só lhe ter por poucos instantes prolongados dentro dos meus sonhos
[porque dentro dos sonhos estão os sonhos]
sábado, 17 de outubro de 2009
Fragmento cut up de emoções racionais demais para que sejam lúcidas.
Paraíso, você diria se estivesse próximo a ele e tão longe de toda e qualquer consolação que pudessemos ter perto de toda a grandiosidade dessa noite feita de sonhos e flores espalhadas como papéis sujos e amassados, esses rostos sorridentes jogados assim inutilmente nas poças de água ou sobre os resíduos fecais dos quais geralmente nos sentimos em alguns dias iguais
renascendo renascendo vida renascendo vida
Você secaria as minhas lágrimas se houvesse alguma lágrima em meio aos nossos sorrisos que eram apenas um em uma única boca que eram nossos lábios unidos que se rasgavam em meio a todo aquele jogo caótico de ruas e luzes e vida que renascia a cada passo a cada grito a cada palavra que nem eu e nem você e nem ninguém mais poderia ouvir nesse interminável silêncio que suspende a minha alma e que espera que você diga mais e mais e mais
nota como entre sorrisos e luz de pernas som assim pernas e sorrisos luz de nota vezes assim
Recorto assim dos teus olhos alguma nota que faz um samba triste ou um bolero a dois que faz pernas se cruzarem trópegas e ébrias de tanta nostalgia encontrada em alguns copos e inúmeras garrafas com gosto de ideologias e canções derretidas em verbos mal conjulgados e conjurados.
assim nuvens algo pode poeira de nuvens nuvens pode algo algo estar pode
Espantei essas nuvens de poeira de solidão sobre nossos ombros que carregam ou não o nosso mundo, diferente a cada dia e a cada vez que olhamos e pensamos nele, porque a solidão é algo bom de se pensar a sós numa cama onde os toques pelo corpo sabem onde vão estar mesmo escorregando em lugares onde há tantas buzinas e algum carro quase nos atropela enquanto o frio congela as mãos que estão sem luvas e que se pegam com essas unhas roídas e sujas, sem cuidado e atenção, isso que a gente se dá quando se olha no espelho mas não quando se olha espelhado em alguém que necessita por isso.
tempo eu pisca cinzas e cinzas morte todasascores pisca pisca você e você vira todas as cores
Você e eu buscamos tantas cores que se fundem num giro rodopio de emoções em apenas uma, feita de branco e cinza e negro e um pouco do meu vermelho que é o seu cigarro, e corremos para elas para sermos bem mais do que meros borrões nessa avenida onde ninguém nos vê porque não existimos, porque isso não existe assim como todas as drogas que escorrem dos teus lábios trêmulos de frio dessa primavera que se aproxima com o um céu nublado e promessas de chuvas e eu queria ser você para que você me amasse com esse teu amor próprio demais e vasto demais como todas as cores que você vê em mim e eu vejo em você mas que eu possuo apenas uma cor, a cor dos teus olhos cinzas, que eu corro e corro e rodopio e giro e viro apenas uma cor entre todas essas que eu possuo na minha camisa listrada e no meu all star rasgado sem sola alguma.
depois por dia olhos mundo tarde tarde hoje sempre sol hoje fragmentos sol místico lua amor fragmentos ontem
Amanhã que é o seu ontem que já é o meu hoje que meramente é a porra do dia que não viveremos porque jamais vivemos isso que achamos que é uma geração frustrada com uma vida que se diluí nessa bebida barata que nos servem e que eu não sei o nome porque eu já nem sei mais o meu nome e o porquê do seu nome não sair da minha cabeça e da ponta dos meus lábios mordidos por mim mesma de ódio e desejo, mas eu seria qualquer nome que você pronunciasse e eu seria qualquer uma enquanto eu te espero quem sabe aqui nessa esquina, eu fumando qualquer cigarro e você o seu de sempre que não sei o motivo que me leva a comprar ás vezes sabendo o quanto isso vai destruir os meus pulmões que precisam estar saudáveis para berrar pelo teu nome porque você assim como todos esses que passam correndo pela minha vida não me verão se eu não gritar e gritar e somente gritar.
Maybe, I'm amazing
Apenas estou assim colando recortando amassando e jogando no lixo isso que você diria ser loucura, eu digo ser lucidez, você diz que é irracional e eu diria que é simplesmente amar.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Uma balada de amor & outros sentimentos inúteis
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Singela homenagem aos poetas de merda.
que lapidam por horas e horas
seus versinhos de merda
Reverencio Walt Whitman
por ter deixado suas folhas pelo caminho
de Lisboa à Nova York
onde posso tomar um café com o mestre Caiero à tarde
e a noite
encher a cara com o companheiro Ginsberg
e seus parceiros na galeria six
enquanto todos uivam por uma América Abstrata
No meu grito
não há métrica que meça meus sentimentos
e nada rima
com minha verdade
que se esconde nua
pelas avenidas
e se deixa atropelar
vez ou outra
por um sonho acelerado
pelo ritmo das ruas de São Paulo
(que não consegue parar teu sorriso
preso no trânsito das minhas lembranças)
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Cântico aos desvairados de saudades e crentes em piadas sem graça.
Colore em tons carmins os meus olhos com os teus lábios entrabertos em breves sorrisos que arrastam essa tarde e trazem tão logo a branda lua que se espelha em teu corpo. Você, leve como qualquer coisa que deixa-se levar pelo simples movimento do vento, tão leve como a nossa infância que se esconde nos rabiscos pelas ruas, das berlindas e das amarelinhas, onde eu não sabia que o inferno era jamais ter conhecido ou jogado a pedrinha no céu. O inferno era sentir aquelas tardes se evaporarem, agora somente a neblina sobre nossas cabeças, inalcansável, da qual eu respiro e sinto arder longamente em minha memória em preto e branco, tons de poeira em sépia(e eu nem me lembro do sabor daquela felicidade). E em algum devaneio que assombra meus olhos quebrados, estes meus ouvidos surdos de verdades, você vem flutuando e dançando dentro e muito mais além dos meus sonhos, em algo que parece e talvez seja uma oração a um Deus muito maior do que este que é trancafiado dentro de todos os templos do Universo. Mas ele cabe exatamente dentro do nosso peito.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Dançando Descalço
http://www.mojobooks.com.br/
Estamos dançando descalços esta noite e você põe os seus pés sobre os meus talvez para não sentir frio ou apenas para ficar no meu tamanho, enquanto essa estranha música se desenha no ar. Eu te conduzo entre velas espalhadas pelo chão e taças com restos de vinho mesmo sem saber os passos, e você apenas confia em mim com este seu olhar fixo no além desta sala e esse seu sorriso tão espalhado por todos os cantos da minha vida. Eu tenho a pesada sensação de que estamos flutuando em nossa última canção, nesta última dança onde tocarei o seu corpo pela última vez com minhas últimas lágrimas, essas que você não poderá sentir e devolver. E eu estou com medo desta música terminar, de você se despedir e por algum motivo que eu jamais saberei, nunca mais voltar. E eu te quero, meu deus, como eu te quero para sempre sobre os meus pés dançando entre essas taças e velas, flutuando. Te abraço e te deito delicadamente no chão mas você não parece se importar. Ainda dança e flutua pelo ar em sua ilusão de felicidade, que afinal eu nunca lhe proporcionei. Teus olhos inundados de vinho me fazem acreditar na mentira de que nada será mais pela última vez.
Eu vejo morrer o outono em seus olhos da cor da minha morte e incertos como a minha vida, e uma rosa cárnea desabrochar em primavera entre suas pernas embebidas em fel e que eu não posso tocar ou colher. Tentativas inúteis entre seus movimentos delicados conforme a canção que ainda preenche o ar durante nossa última noite. É fácil pensar em suícidio quando não estou com você e é melhor manter-se ébrio quando você está longe e eu sei que mesmo que volte, ainda estará longe dos meus braços e do meu amor. Minha benção e minha maldição e toda a desgraça da minha felicidade incompleta. Entre cigarros e papéis nunca surgiram poesias à você por mais sujas e líricas que fossem minhas inspirações noturnas após o sexo, quando eu me sentia sozinho em seu corpo vagando pelo vazio do seu amor.
E você continua pura entre meus braços que se confundem entre os seus, nessa dança frenética sobre o carpete onde você não quer mais ser conduzida e quer que troque a canção, mas eu quero que seja esta e pego suas mãos que antes já foram minhas com tanta calma e as faço percorrer pelo meu corpo em febre. Seus gritos me soam como uma oração a algum Deus muito bom. Gozo sentindo suas lágrimas misturadas a todos os meus fluídos, enquanto você se afasta de mim procurando mudar a canção.
Agora ela é triste, assim como os seus olhos.
Agora ela é desesperada, assim como o seu adeus entre gritos de ódio e taças quebradas de vinho e sangue pelo carpete.
Agora ela termina, como em breve farei com a minha vida.
Estou dançando descalço mas ainda sinto o peso dos seus pés sobre os meus.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Canto aos últimos dias da minha vida.
Este mundo é um paraíso, veja: cada demônio
estrangula mil almas antes de sucumbir
Consumidor ou contribuinte, concorrente ou trapaceiro
o homem tem que vender seu sangue para continuar vivendo
As serenas virtudes, teologias ou ignorantes filosofias
se reduziram à sua exata expressão financeira
Todos se dizem cristãos, mas seu único Deus
é o dinheiro com que pagam o direito de continuar mentindo.
Os mercados e as lojas, os armazéns e as feiras
expõem nas vitrines a produção dos famintos
E os jornais exibem em vermelhas manchetes
a felicidade de quem conseguiu ganhar muito com isso.
O sex0, o prestígio, a crença, a liberdade
se disputam e se compram como qualquer mercadoria
que possa ser levada dentro de qualquer bolsa.
As máquinas me penetram e me deformam por dentro
por saberem que eu quero continuar o que sou
A dor assumiu a forma de passagem para o céu
e o amor não se pratica, porque é caro e perigoso.
Os exércitos se armam por todas as gerações
e nos agridem ferozmente em nome da defesa
As armas cospem balas tão suaves e doces que não matam
deixam vivo o morto, para lhe cobrar suas dívidas
A guerra devora o que resta dos espíritos
e o governo decreta que o povo deva se sentir em paz
A vida humana? Vale tanto quanto o nada.
Olhando o espaço, onde a luz corta a poeira
eu prevejo o meu mundo - presa de corpo e alma
Agrido meu semelhante, e sorrio
chamo meu governo de corrupto, renego meus votos
e saio cantarolando meu orgulho de nascer e renascer nesta terra
Por este mundo, que deve ser a entrada para o inferno
passo
e atiro minha alma na mais próxima fogueira.
A poesia de amanhã
será feita pelos poetas de amanhã
Então, se precisarem de uma imagem destes tempos
os restos do que fui respoderão ao infinito onde estiverem.
domingo, 4 de outubro de 2009
A love supreme.
Com seus olhos de ópio e cão andarilho uivante, caminha por aquelas ruas que exalavam o mais puro jazz, feito de gemidos de prostitutas que se vendem por poucos cents ou por um mísero pico, músicos vadios que prostituem seus instrumentos para que notas macias e penetrantes como os tiros ao longe, gratuítos de dívidas viciosas, ecoem soltas e perdidas pelo ar sujo de noite e amargura. A única canção de amor que New Orleans conhece.
Ele não tinha resposta para isso, ele não sabia como resolver isso, ele pouco ou nada sabia. Ele bruxuleava com seu saxofone tenor por aí, na cobertura de prédios, nas varandas da vida, espectador do desespero, voyeur da podridão, em eterna e triste busca por uma nota perfeita, uma nota misteriosa, que não tenha elucidação, que nunca dê para ser transcrita, um sopro final, um uivo rasgado de um filho da puta condenado por si mesmo a só contemplar, a só assoprar, ele nunca vai chegar naquele momento, aquela curva ascendente, os joelhos dobrado, a lufada de ar inchando o pulmão, os lábios grossos circundando com sangue tesão e cuspe a trombeta divina dos anjos tortos e então virar num ângulo meio círculo soprando o sax tenor com toda a força que consegue, ele estaria morrendo, isso seria um post mortem, e jamais um carpe diem, e ele continuaria assoprando e seus olhos arregalados que lentamente vão se fechando e se esperemendo e sua respiração ficaria cada vez mais fraca e ele cometeria suicídio em pleno palco suicídio por asfixia iria vomitar seus pulmões fora apenas porque cansou de ser espectador e ele quer vomitar tudo num último sopro, transcendência, isso aí, ele não teria.
Ele estava é fodido. Mas seu sax o inocentava de todos os seus pecados, ali, sobre o qual seus dedos deslizavam como se deslizassem pelo corpo da mulher amada, onde seus lábios encontram os lábios macios e exatos onde, ele e todos, encontrariam no gozo a redenção. A tão sonhada redenção através do amor, esse amor que incendiava New Orleans, que incendiava as casas noturnas, os pianos, as baterias, os violões, os baixos, os saxofones, incendiava o jazz em cada santa nota que flutuava sobre aquele ar carregado de cigarros, charutos, heroína, cocaína, sexo barato e solidão.
Ele tinha que ganhar a vida, a perdia nas mesas de pôquer, precisava mudar. Tinha que apostar na vida, ela sempre ganha.
Lazy Bird, estaria em 2 ou 4 minutos, a incerteza era tão certa quanto a saudade.
Dela, ônix que escorria pela pele, diamantes que cortavam no olhar, que procurava algo mais do que ópio nos olhos dele, mas algo a lapidá-los. Dos lábios rios de sangue e desejos libidinosos. Todo o sexo ali, exposto, naqueles lábios cruéis que atiçavam e não se abriam em beijos, onde sua língua ousaria penetrar em explosões contínuas de orgasmos. Seu pau ficava duro só de pensar em beijá-la, tinha que se controlar, jogar aquele tesão todo no seu sax. Ele era seu membro rígido, seu motivo de orgulho perante todos os homens, o que levava as mulheres a orgasmos nunca antes atingidos, e elas, e eles, e todos, pediam mais e mais e mais. Grandes noites no Lazy Bird, grandes trepadas com o público. Fazia tanto sexo subjetivo que sentia falta do explícito.
Lazy Bird, casa cheia de cãos como ele, tão absortos em seus infernos pessoais paradisíacos que não percebem sua grande entrada. As putas, de canto, o sorriem, sorriso sujo de gozo alheio. Mas ainda assim, o mais puro de todos os sorrisos, o de reconhecimento. Devolve o mesmo sorriso de reconhecimento, o que seriam dos homens, sem as bocetas amigas das putas?
Toma o palco como seu, por direito. Despe seu grande membro dourado, encaixa em seus lábios. Uma pausa, um suspiro.
Como um anjo destituído de paraíso, estaria ali, com sua música-oração-a-um-deus-maior-que-aquilo, fazendo com que todos, inclusive ela, se entregassem á redenção. Que se perdoassem de seus pecados, de todos os pecados. Onde as putas seriam pobres moças virginais e ela, demônio, mais um anjo como ele.
Era o que queria, mas dos lábios, era só sexo que saia. Era sexo que invadia aquelas carnes, era sexo que aquele olhar ansiava, era sexo que o movia, que dava vida ás notas. A alma incendiava aquilo, os olhos eram apenas brasas. Os lábios, chamas.
O amor supremo, esse ficaria apenas no seu peito. Única coisa pura que poderia oferecer a New Orleans em noites como essa.
Na última nota soube, não adianta. New Orleans toca sua própria música.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Direito de resposta
(De Leandro http://letediz.wordpress.com/category/kl/)
Resposta
Esses dias encontrei Leandro num supermercado, dizia ele que precisava comprar Clarice para o almoço, estava de dieta, parou com o Trevisan nos intervalos para o lanche. Eu só estava ali porque meu Henry Miller só deu para um copo ontem a noite e eu não queria manter essa minha sobriedade por muito tempo, coisa mais triste ir dormir sem os lábios humedecidos de libertinagem. Falando nisso, me perguntou se me senti ofendida por ter me chamado de boa bisca. Absolutamente que não, eu disse, se me chamasse de puta, mesmo se eu não a fosse, eu seria. Faço de tudo para caber em seus textos. Ele disse que eu andava fácil, e eu ando, meus passos estão cada dia mais leves, por sinal. Sorriu, e porque não iria sorrir se eu estava enfiando sorrisos naqueles lábios? Doí de ínicio, com o tempo você se acostuma. Aliás, to procurando um inseticida, disse a ele. Sabe a vagabunda da Hilda Hilst? Andou me assombrando dias atrás, não me olha assim, eu sei que ela não está morta. Ela fica falando com Lennon pelas minhas costas, a vadia, e ainda por cima, fica tocando ao contrário meu Abbey Road repetindo cranberry sauce nove vezes, só para que não saia mais da minha cabeça. Diz ela que conversa com os espíritos, acredita? Ele acreditou, sempre acredita em cada palavra minha até quando nenhuma palavra minha existe. Posso pedir um favor, dizia ele enquanto enchia a cesta com as frutas do jardim elétrico, já que ela fala com mortos, vê se ela manda um recado meu prá Ana Cristina Cesar? É claro que sim, única resposta cabível, os nãos não me cabem, sabe disso. Qual seria? E ele, diga prá avisar que a ana é a melhor poeta que já existiu.
Com tanto veneno, prá quê inseticida?
Eu sei que ele saiu rastejando e ao virar a esquina saiu voando.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
De hoje e amanhã num ônibus.
Convencera aos pais da sua idéia, usando de todos os argumentos possíveis, desde lágrimas de crocodilo de bolsas falsificadas até promessas de se rebelar contra qualquer ordem, uma fuga ensaiada de casa, quem sabe. Desistiu da agressividade e do drama, apelou para a realidade então, já que, para eles, seria muito conveniente que a filha fizesse francês. Era algo a mais para falarem aos seus amigos do clube, imaginem, nossa filha de 12 anos, além de falar inglês e espanhol, agora também fala francês!
Descrentes da excentricidade da filha, fizeram a matrícula na melhor escola de francês da cidade, indicação de alguns amigos que já haviam feito o mesmo curso. Sentiam-se felizes, como se a pequena de repente houvesse se tornado uma pequena mulher de grandes decisões. Não conseguiam esconder o orgulho e uma certa nostalgia, do tempo em que era tão dependente e tão pequena que cabia em seus braços. A menina, ao perceber a mudança dos pais de comportamento, agora tão corujas e doces como jamais foram, ria molemente sobre a cama. Se estavam assim, antes que ela aprendesse a falar qualquer coisa em francês, imaginem como ficariam depois das primeiras aulas? Bobinhos.
No primeiro dia de aula, decidira relutante que iria sozinha ao colégio. Os pais, preocupados, tentaram convencê-la a ceder ao menos isso, uma carona não faria mal a ninguém, se fosse vergonha, eles a deixariam na esquina mais próxima. A garota apenas dizia que da mesma maneira que escolhera falar francês, também queria a mesma liberdade de escolher como queria ir ao colégio. Não era vergonha, explicava, mas não era mais uma menininha, queria saber caminhar sozinha usando suas próprias pernas. Queria apenas que lhe explicasse qual ônibus deveria pegar, em qual ponto deveria descer. Se pudessem detalhar quantos passos dar, seria grata. Novamente, os pais, com o orgulho engasgado, descreveram todo o itinerário à filha, já que não havia mais o que fazer.
Mariana então pegou o ônibus no ponto próximo a sua casa. Subiu sôfrega os degraus, quase trêmula. Todos os medos juntos com as apostilas dentro de sua mochila rosa, o coração trôpego que ora batia no lugar do estômago, ora aparecia tão próximo dos rins. Procurou algum lugar onde se sentar, tinha um vago ao lado de um rapaz distraído com seus fones no ouvido e camisa de banda gringa que ela jamais ouvira falar antes, em uma outra ocasião até o acharia gatinho se não fosse o balanço do ônibus e o medo de prestar mais atenção no garoto do que no seu ponto. O outro lugar vago era ao lado de uma mulher, bonita até, um tanto familiar para se falar a verdade. Desconsiderando os hormônios pré adolescentes, sentou-se ao lado da mulher.
A medida que o ônibus avançava, o medo aumentava. E se passasse do ponto? E se o ônibus fosse assaltado, porque havia tantas notícias assim nos jornais de seu pai que achava que era muito provável que todos os ônibus fossem assaltados? E se, aquele cara negro de boné e roupas largas, perto do cobrador, estivesse mexendo em uma arma dentro do bolso? Tantos "e se" passaram por sua cabeça, que mal percebera que o que o jovem tinha em seu bolso era apenas um celular e que o olhar da jovem mulher ao seu lado, recaíra sobre sua face séria, traçado por várias linhas de desespero.
Preocupada com o seu ponto, que não saberia se poderia ser o próximo , perguntou então a mulher, se faltava muito para seu ponto chegar. Conteve a vergonha, esboçou um sorriso sereno, e arriscou:
-Moça, por favor, sabe se demora muito prá chegar até o ponto próximo à escola de idiomas?
- Daqui uns 15 minutos, eu vou descer um ponto depois, qualquer coisa te aviso.
-Ah tá, obrigada.
- De nada, aliás, espero que não me interprete mal, mas fiquei olhando para você e vi que parece tanto comigo, nessa mesma idade. Tem os mesmos traços que eu tinha quando ficava com medo
- E quem disse que eu estava com medo?
- Desculpa, eu só disse que parecia comigo. Faz algum curso de idioma lá na escola?
- Vou começar a fazer francês hoje.
- Olha só, que legal. Eu também comecei a fazer francês com a sua idade, mais ou menos. Acho que fiquei até uns 16 anos fazendo o curso. Todo final de ano eu preparava minhas malas, esperando que os meus pais pagassem uma viagem até Paris. No final, eu mesma que tive que arcar com ela.
- Ah não, eu não quero ficar tanto tempo assim fazendo francês, pretendo fazer só para entender o que falam nos filmes franceses. Sabe, meu tio tem uma coleção de filmes, até agora só consegui assistir os franceses. Mas sempre assisto escondida dos meus pais, eles não gostam que eu assista filmes de adultos.
- Mas que bobagem a deles! Na sua idade, eu decidi fazer francês quase pelo mesmo motivo, acredita? Lembro que assisti na tv ao Pierrot le fou, não sei se já viu esse filme. Numa cena, uma atriz, a Anna Karina, vestida num robe azul chega perto do mocinho e diz: Jamais je ne t'ai dit que je t'aimerai toujour, assim mesmo, fazendo o mesmo biquinho. Achei tão lindo na hora, sabe, a maneira como ela movimentou os lábios, como sorriu para ele, como ele suspirou bem baixinho que quase se dá para ouvir, mas dava prá perceber que ele estava completamente apaixonado por ela. Não consegui acreditar que ela tava dizendo que não o amaria para sempre, poxa, os olhos dela diziam outra coisa, tanta coisa, pareciam que diziam que ela o amaria para sempre. Achei que a legenda estava errada. Queria ver o filme sem legendas, por isso, fiz francês.
Mariana sentiu que suas pernas ficaram um pouco sem força e não conseguia respirar direito. Coincidência demais? Preferia acreditar que nada, mas nada mesmo, passava de mera coincidência. Um monte de gente deve ter feito aulas de francês por causa de algum filme do Godard, óbvio. Ainda mais se fosse o Pierrot le fou, em questão. Queria saber mais sobre a estranha, que não era assim tão estranha afinal.
-Posso te perguntar a idade ou você se sentiria ofendida?
-Claro que pode, ainda não me sinto mal em dizer que tenho 31 anos. E você? Parece ter 12 anos, estou certa?
- Sim, mas logo faço 13 anos. Você trabalha do quê? Fez faculdade? Morou em Paris mesmo?
- Calma, uma pergunta por vez minha querida. Nunca me fizeram essas perguntas dentro do ônibus, fico um pouco acuada assim, tudo bem? Vejamos, eu só fui para Paris uma vez, antes de me casar, mas fiquei pouquíssimo tempo. Aí terminei a faculdade de letras, comecei trabalhando como tradutora de livros franceses, os mais recentes. Aí me casei, não deu certo, fiquei com depressão, larguei o trabalho. Me afundei em dívidas, vendi meu carro e agora estou indo trabalhar como assistente em revisão, numa editora. De ônibus. Aliás, teu ponto tá quase perto.
- Nossa, e porque não deu certo seu casamento?
- De certa maneira ele foi o único cara da minha vida. Fazíamos francês juntos, quando me apaixonei por ele. Durante 4 anos fomos bons amigos, depois grandes amigos, aí namoramos, brigamos várias vezes. Aí eu fui para Paris com 17 anos, mais para esquecê-lo do que para aproveitar a cidade e viver meus sonhos, e quando voltei aos 18, não teve jeito, acabei voltando para ele, e no final nos casamos. Bom, no final mesmo, nos separamos. Foi trágico, trabalhávamos juntos, os mesmos amigos, os mesmos comprimissos. Sempre os mesmos filmes, os mesmos livros, as mesmas músicas. Com o tempo já sabíamos o que um ia fazer antes mesmo que este soubesse o que faria. Surgiram brigas, ele me traiu, eu o traí. Aí surgiu o divórcio, tão doloroso! Quase me matei, de tanto desespero. Aí contratei analista, advogado. Aé mãe de santo prá me livrar de tanto mal olhado, se fosse o caso. Olha, teu ponto é o próximo pequena.
- Afinal, porque tá sendo assim, tão sincera com uma menina de 12 anos?
- Querida, quem já assistiu Godard, já assistiu o que é a vida de verdade, sabe, pelo menos, o que começa a ser a vida de verdade depois que a gente descobre que estamos vivos. É daquela maneira mesmo, um pouco romantizada mesmo, ás vezes sem o esperado final feliz. Esperamos que em 2 ou 3 horas tudo aconteça de uma vez, e não é bem assim. Ela nem acontece, a vida. Mas não fica assustada assim não, é a gente que escreve ela, não nenhum francês pirado, fica tranqüila. Claro que se a gente sabe antes como a história pode terminar, ainda dá tempo de reescrever as primeiras cenas.
-Obrigada pelo conselho, senhora. Qual seu nome?
- Mariana, e o seu querida?
- Flávia.
-Teu ponto. Boa sorte na primeira aula, Encore plus!
-Ah?
-Assista Felinni, e Bertolucci. Não deixe os americanos de lado, nem os alemães.
- Obrigada!
-Até mais!
Mariana desceu no ponto. Resolveu ligar a cobrar para os pais, para que a buscassem. Não sabem, no meio do caminho, falaram sobre Berlim e de como a Alemanha vai ser o país mais importante de toda a Europa. Acho que alemão é uma língua mais importante do que o francês, não acham?