Co autoria de Bernardo Brum
You don't know how hearts burn
For love that cannot live yet never dies
Until you've faced each dawn with sleepless eyes
You don't know what love is
(Billie Holiday - You don't know what love is)
Com seus olhos de ópio e cão andarilho uivante, caminha por aquelas ruas que exalavam o mais puro jazz, feito de gemidos de prostitutas que se vendem por poucos cents ou por um mísero pico, músicos vadios que prostituem seus instrumentos para que notas macias e penetrantes como os tiros ao longe, gratuítos de dívidas viciosas, ecoem soltas e perdidas pelo ar sujo de noite e amargura. A única canção de amor que New Orleans conhece.
Ele não tinha resposta para isso, ele não sabia como resolver isso, ele pouco ou nada sabia. Ele bruxuleava com seu saxofone tenor por aí, na cobertura de prédios, nas varandas da vida, espectador do desespero, voyeur da podridão, em eterna e triste busca por uma nota perfeita, uma nota misteriosa, que não tenha elucidação, que nunca dê para ser transcrita, um sopro final, um uivo rasgado de um filho da puta condenado por si mesmo a só contemplar, a só assoprar, ele nunca vai chegar naquele momento, aquela curva ascendente, os joelhos dobrado, a lufada de ar inchando o pulmão, os lábios grossos circundando com sangue tesão e cuspe a trombeta divina dos anjos tortos e então virar num ângulo meio círculo soprando o sax tenor com toda a força que consegue, ele estaria morrendo, isso seria um post mortem, e jamais um carpe diem, e ele continuaria assoprando e seus olhos arregalados que lentamente vão se fechando e se esperemendo e sua respiração ficaria cada vez mais fraca e ele cometeria suicídio em pleno palco suicídio por asfixia iria vomitar seus pulmões fora apenas porque cansou de ser espectador e ele quer vomitar tudo num último sopro, transcendência, isso aí, ele não teria.
Ele estava é fodido. Mas seu sax o inocentava de todos os seus pecados, ali, sobre o qual seus dedos deslizavam como se deslizassem pelo corpo da mulher amada, onde seus lábios encontram os lábios macios e exatos onde, ele e todos, encontrariam no gozo a redenção. A tão sonhada redenção através do amor, esse amor que incendiava New Orleans, que incendiava as casas noturnas, os pianos, as baterias, os violões, os baixos, os saxofones, incendiava o jazz em cada santa nota que flutuava sobre aquele ar carregado de cigarros, charutos, heroína, cocaína, sexo barato e solidão.
Ele tinha que ganhar a vida, a perdia nas mesas de pôquer, precisava mudar. Tinha que apostar na vida, ela sempre ganha.
Lazy Bird, estaria em 2 ou 4 minutos, a incerteza era tão certa quanto a saudade.
Dela, ônix que escorria pela pele, diamantes que cortavam no olhar, que procurava algo mais do que ópio nos olhos dele, mas algo a lapidá-los. Dos lábios rios de sangue e desejos libidinosos. Todo o sexo ali, exposto, naqueles lábios cruéis que atiçavam e não se abriam em beijos, onde sua língua ousaria penetrar em explosões contínuas de orgasmos. Seu pau ficava duro só de pensar em beijá-la, tinha que se controlar, jogar aquele tesão todo no seu sax. Ele era seu membro rígido, seu motivo de orgulho perante todos os homens, o que levava as mulheres a orgasmos nunca antes atingidos, e elas, e eles, e todos, pediam mais e mais e mais. Grandes noites no Lazy Bird, grandes trepadas com o público. Fazia tanto sexo subjetivo que sentia falta do explícito.
Lazy Bird, casa cheia de cãos como ele, tão absortos em seus infernos pessoais paradisíacos que não percebem sua grande entrada. As putas, de canto, o sorriem, sorriso sujo de gozo alheio. Mas ainda assim, o mais puro de todos os sorrisos, o de reconhecimento. Devolve o mesmo sorriso de reconhecimento, o que seriam dos homens, sem as bocetas amigas das putas?
Toma o palco como seu, por direito. Despe seu grande membro dourado, encaixa em seus lábios. Uma pausa, um suspiro.
Como um anjo destituído de paraíso, estaria ali, com sua música-oração-a-um-deus-maior-que-aquilo, fazendo com que todos, inclusive ela, se entregassem á redenção. Que se perdoassem de seus pecados, de todos os pecados. Onde as putas seriam pobres moças virginais e ela, demônio, mais um anjo como ele.
Era o que queria, mas dos lábios, era só sexo que saia. Era sexo que invadia aquelas carnes, era sexo que aquele olhar ansiava, era sexo que o movia, que dava vida ás notas. A alma incendiava aquilo, os olhos eram apenas brasas. Os lábios, chamas.
O amor supremo, esse ficaria apenas no seu peito. Única coisa pura que poderia oferecer a New Orleans em noites como essa.
Na última nota soube, não adianta. New Orleans toca sua própria música.
28 comentários:
Recado para Bernardo:
Quem mandou me comer sem proteção? O resultado é esse aí, nosso filho.
Dilascerante!
Dá até orgulho de ser amigo seu.
Recado para bernardo:
Continue comendo ela.
Recado para Bernardo:
Continue comendo ela, diariamente.
All that Jazz!
Estou sem fôlego, eu consegui por alguns minutos sentir todo esse ar de New Orleans aqui em Curitiba.
E ouvi, claro, a única canção de amor que New Orleans conhece.
Mag-ní-fi-co Katrina;
eu digo: esperem cinco minutos que estou no cigarro pós-sexo.
que tal um pouco de jazz para as putas da augusta?
hahahah qm mandou ele tirar a atençao...hehehehe
eu volto pra ler com mais atenção.
Uma amiga minha mudou-se para SP e disse que aí é muito poético. Cada dia que passa eu concordo mais com isso.
quanta criatividade vejo em seu texto, rs, to até te seguindo, bjs
Sei que estou devendo visitas para você, mas juro, que quando o meu super nervosismo e a minha angustia passarem eu venho, leio tudinho, duas vezes, e comento cada coisa que eu achar! Prometido. :D
Bgs me liga (k)
New Orleans é logo ali.
prazer katrina
to aqui segurando o teto de vidro da minha casa
depois de te conhecer imagino q nada será como antes
bjos
Nossa, ficou irado o texto, muito bom!
(gostei do recado pro Bernardo... ahahuahuaha)
bjs
ALOK, Bernardo.
Minha cara parceirinha (futura) de blog:
New Orleans está dentro de você, não adianta. Você é jazz.
E eu já lhe disse que é minha escritora mais do que favorita?
É uma pena que nem a geração perdida nem os beats soubessem captar a efervecência do Jazz enquanto ela acontecia. Tem o Ragtime do Doctorow e mais nada.
Se o Borroughs se juntasse com o Bukowski e o Kerouack para escrever sobre jazz eles não seriam tão sórdidos e etéreos, ao mesmo tempo. quanto o texto. Adorei bastante. Continuem ignorando camisinhas.
o fim é sempre bom em historias assim :)
gosteei
Incrível, simplesmente.
Nunca me senti tão perto de New Orleans como agora. Vi o saxofonista diante dos meus olhos, com seu membro dourado, e as putas ao redor em espasmos de paixão.
Com que intensidade a música da realidade se manifeata em inspiração tão contundente.
Cadinho RoCo
Tu é um abuso, escrevendo. Um abuso.
Nunca sei comentar. Ainda bem que são só rasuras.
[E é raro alguém me emudecer, em palavras].
Toma então esse silêncio ensudercedor, Katrina. Ele diz o mundo.
Um beijo.
E New Orleans ficou tão perto....
Belíssimo.
beijo
vc é detalhista, eu viajo mesmo, sinto-me na história...me gusta
o amor supremo é uma mescla de vários sentidos, entre eles o sexo, ou o prazer da carne, mas sem a paixão de uma alma quente, não será senão pura a ilusão.
Melhor que samba!!!!
Jazz!!1
amei o final, e o inicio tmb, e o meio tmb, ér, HAUFHAU, na verdade, amei o texto completamente, incrivel
Amei tudo fiquei até arrepiada, só tem uma solução, vou te seguir =O
Beijos
Adorei
esse texto soh me fez pensar em uma coisa: preciso comprar um trompete... e aprender a tocar chet baker...
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