Eu quase não vejo os meus passos, eu mal vejo o caminho esparramado à minha frente de rosas e asfalto em brasa que os meus pés sentem como se o fosse tua pele em seda se rasgando. Eu vejo muita coisa ao longe, porque longe elas devem estar de mim, coisas que os meus olhos mal podem saber se são reais e os meus dedos se desfazem ao tocar. A minha vida é feita de todos os quases e de tudo que não posso ter, sob o signo de uma lua tão branca que quase é azul, que quase inspira esse ar que esmaga meus pulmões acinzentados como os teus olhos perdidos por aí e dentro de mim, que tudo vê, como as incertezas que carrego comigo aonde quer que eu vá, mas prefere cegar-se com a noite que trago junto com os meus cigarros e com todos os grande amiúdes amores que me comem como um cancêr. A tua voz cala a minha e todas as outras num silêncio atormentado de saudade que ecoa no ar que expiro.
Colore em tons carmins os meus olhos com os teus lábios entrabertos em breves sorrisos que arrastam essa tarde e trazem tão logo a branda lua que se espelha em teu corpo. Você, leve como qualquer coisa que deixa-se levar pelo simples movimento do vento, tão leve como a nossa infância que se esconde nos rabiscos pelas ruas, das berlindas e das amarelinhas, onde eu não sabia que o inferno era jamais ter conhecido ou jogado a pedrinha no céu. O inferno era sentir aquelas tardes se evaporarem, agora somente a neblina sobre nossas cabeças, inalcansável, da qual eu respiro e sinto arder longamente em minha memória em preto e branco, tons de poeira em sépia(e eu nem me lembro do sabor daquela felicidade). E em algum devaneio que assombra meus olhos quebrados, estes meus ouvidos surdos de verdades, você vem flutuando e dançando dentro e muito mais além dos meus sonhos, em algo que parece e talvez seja uma oração a um Deus muito maior do que este que é trancafiado dentro de todos os templos do Universo. Mas ele cabe exatamente dentro do nosso peito.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
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23 comentários:
Em homenagem a todas as crianças que sentem saudades de quando foram crianças e não fumavam, nem bebiam e não sabiam o que era sofrer por um sonho tocável mas inalcansável.
Acho que o teu eu lírico é um homem barbudo, com um cigarro no canto da boca e um litro de vodka ao lado.
Eu também quero cantar isso, e já estou cantando.
Porra, foi como se você desse dado um belo soco na boca do meu estômago.
Eu me lembro do gosto dessa felicidade, era de chiclê de tutti frutti.
Ai Katrina, que LINDO.
É um misto de saudade que eu to sentindo aqui, saudades de tudo. E de quando o dia 12 era o mais aguardado.
O teu eu lírico é o homem mais interessante que existe.
Eu também quero cantar isso, e já estou cantando [2]
"vejo muita coisa ao longe, porque longe elas devem estar de mim"
Katrinaaaaaaaaaa, adorei essa parte, adorei. Me identifiquei. hahahaha
beijo, Elo.
texto que me trouxe nostalgia da qual não queria me lembrar. daquela garota popular da escolinha que nunca dava bola pra mim. da tiração de sarro por usar óculos entre outras coisas
mas, lírico perfeito!
cantando contigo, agora.
"O inferno era sentir aquelas tardes se evaporarem, agora somente a neblina sobre nossas cabeças, inalcansável, da qual eu respiro e sinto arder longamente em minha memória em preto e branco, "
vou pedir pra um amigo cifrar isso, queres? ahuehae
adorei o texto, sabes te expressar muito bem mesmo.
lindo.
;*
Bom texto viu.
Passando pra te desejar feliz dia das crianças...
abraços
Hugo
eu fico orgulhoso quando entendo o que você quer dizer.
Putz, viajei legal.
Mas gostei ;D
;***
Essa felicidade infantil e verdadeira, que saudade! Era muito mais fácil dar um sorriso de verdade nessa época, até mesmo se a pedrinha saía dos perímetros do céu.
E todas as orações que faço são em nome de um Deus é maior que o mundo e não se contém dentro de quatro paredes... Está em tudo, principalmente dentro de mim.
Gostei de seus textos (embora eventualmente longos, não?, para o "tempo virtual"), gostei de seu blogue.
Um abraço.
E que este Deus maior que só existe no coração da gente, abençoe e faça a saudade ser mais fácil. Um dia ele joga do céu aquela caixinha onde a gente vai prender a saudade e deixar lá guardada. Lindo texto, você sempre prende, independente do tamanbo do teu texto. É sempre gostoso estar por aqui.
Até ;)
Ai, ai...
"Saudades da aurora da minha infância"
Ai ai...
Quero o céu em tom azul outra vez!
=**
Cada palavra sua me calou, desta vez não sei o que falar =)
Às vezes, eu queria que minha alma fosse cega.
E tudo isso é feito um sopro anímico que possuímos dentro de nós mesmos.
Às vezes ele vem de vez e varre-nos.
Continuemos, Katrina...
Não sei porque, mas não pensei em crianças, pensei em algo mais... sei lá, sensual. acho que é minha carência hahahaa
mas adorei, de todo jeito, principalmente o final.
;**
Katrina, a vontade é a de repetir o comentário do outro Rafael, ali no topo. E, quer saber de uma coisa? Vou cifrar o trecho antes do amigo da Mariana, gravo e te mando. Porque hoje eu tou Roberval, o ladrão de chocolates.
Beijo!
P.s.: Seu liricismo é perfeito, moça. Ô inveja branca! :)
é, concordo: cabe mesmo.
Não pise nos poetas de merda!
Eu já disse o quanto esse texto parece com o Caio Fernando Abreu? Aliás, você gosta dele? Pra mim ele é foda, tanto quanto a escritora-de-orkut Clarice Lispector, e parece que voce é uma coisa junta dos dois e mais várias dozes de whisky e cigarros.
deixa de ser assim, mentira, deixe não, :~
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