domingo, 20 de setembro de 2009

Carta zero, décimo primeiro caminho - o caminho de Aleph

Meia noite e teus olhos perdidos na vastidão do meu pensamento vazio e indolor
que não contém nada mas comporta tudo
calculando os próximos passos em direção ao caminho do qual devo tomar com minh'alma insone se debatendo dentro do meu corpo rasgado de mágoas em carne viva
(sonhos com carne morta)
As pontas dos meus pés se equilibrando no inferno enquanto as pontas dos meus dedos tateiam alguma salvação entre um cigarro e outro e várias pontas, me valendo do que sobra. Das cinzas, das quais fênix alguma surgirá como surge o contorno suave das suas mãos em torno do meu corpo
Quisera eu ser uma pessoa melhor
mas o melhor de mim ficou para trás, debaixo do tapete da sua porta
Mas não, não quero ser alguém melhor
alguém que caiba nos seus versos
(já me basta caber em algum dos seus abraços)
mas que apenas permaneça neles.
Quisera desenhar-te rubro sanguíneo dentro de mim, cravejado de possibilidades como cicatriz tatuada pelo tempo bem no meio do peito, para que arda ao respirar e morra quando meu coração se partir, porque és tão parte de mim que em mim é você que corre pelas veias. É você que eu perco um pouco mais ao sangrar.
Quisera eu lhe ter por inteiro e não somente as lembranças a cada esquina em São Paulo, espalhado nas calçadas da São João ou sobre a mesa de qualquer bar na Augusta ou em alguma folha de qualquer árvore da Sé, o ponto exato onde você renasce em mim, que nasce em meu ventre, útero revirado por tantas noites e

cartas.

Quisera eu, não acreditar em cartas
de tarot
nas suas.

12 comentários:

Natália Corrêa disse...

Quando a lembrança corre no sangue nos resta apenas duas opções: guardá-la conosco ou sangrar até que ela se derrame por completo. Mas com ela, a gente também se esvai...

Marcelo Mayer disse...

é melhor guardar as lembranças numa bituca de cigarro. pq elas sempre vão nos consumando.

Anônimo disse...

Quisera.

Mic disse...

queremos sempre mais que lembranças.

Adriana Gehlen disse...

meu, como é bom te ler katrinis!

Anônimo disse...

texto muito belo!
aih as lembranças me matam!

beijos

Junker disse...

intenso demais!

Victória disse...

as vezes temos lembranças ruins, outras vezes a lembrança é boa e nós sempre queremos lembrá-las :D:D hehe

Julia disse...

Joguei no google o título do seu poema. Carta de tarot, o louco.

De mais a mais, eu fico mais abismada com o que escreve.

Adoro revirar seu lixo, sempre.

Lucas disse...

"Quisera desenhar-te rubro sanguíneo dentro de mim, cravejado de possibilidades como cicatriz tatuada pelo tempo bem no meio do peito, para que arda ao respirar e morra quando meu coração se partir, porque és tão parte de mim que em mim é você que corre pelas veias. É você que eu perco um pouco mais ao sangrar."

Muito bom isso.

Maria Midlej disse...

Uau, arrepiei. :)

Gostei, gostei :P

Leonardo disse...

Intenso mesmo.