segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Tratado geral aos ignorantes de lirismo que se julgam poetas do apocalipse

A poesia não é feita de palavras que como pedras machucam se atiradas ou nos fazem cair pelo caminho no chão da compreensão, a poesia é feita de emoção e se seus olhos vêem palavras á sua frente então você é cego de lirismo. Se você quer construir um poema então você é o mármore sobre qual a poesia insiste em lápidar algo e tanta insistência faz da poesia cansada e envelhecida a cada linha de expressão que ela demonstra. Se você quer atingir alguém com um dicionário, deixe suas palavras complexas de lado e volte 100 anos antes e brinde com os paranasianos a decadência da emoção pela beleza. A poesia atinge com a simplicidade de um murro nas paredes que nos prendem em cavernas, e nada pode prender ela a não ser os nossos lábios. Não escreva para minorias, que muitas vezes pode ser unicamente você, não torne sua poesia solitária num buraco negro de mesmices. Escreva para seus iguais em alegria e dor, loucura e salvação, mesmo que eles nunca tenham feito uma faculdade de letras ou jamais saibam da importância de Ezra Pound e Whalt Whitman para a poesia que você despeja continuadamente em algum lugar onde eles jamais a lerão. Se a sua poesia não sangra é porque você ainda não sangrou suficientemente nessa vida e nem sangrará se seus pais depositam mensalmente em sua conta bancária uma quantia razoável da sua mesada para que você desista das lâminas e da vida.

12 comentários:

gipicles disse...

há quem se importe com vírgulas.
mas seria melhor que se importassem com o que existe entre elas...

Gustavo disse...

A Vanessa estava ouvindo Coltrane no MSN, eu vi e conversei com ela, porque Coltrane é um grande jazzman (ainda que Cortázar não gostasse tanto dele). Ela me disse que ouvia Coltrane pra se inspirar e me mostrou o início de um texto - esse texto, o qual comento - que me lembrou um bom take de um genuíno Jazz. Uma improvisação cheia de vigor e ímpeto, questionadora, com muito swing. Já tinha adorado. Mas era só o primeiro parágrafo - o "Acknowledgement" de "A Love Supreme".
Quando vim ler o texto inteiro, encotnrei o que, no disco do Coltrane, são aquelas percussões abaladoras, e que aqui é uma frase cabal, incontestável. "Se a sua poesia não sangra é porque você ainda não sangrou suficientemente."
Bravo, Vanessa, bravo!

Adriana Gehlen disse...

uau.
vai pro meu facebook essa. hehe
:)

.maria. disse...

concordo parcialmente. É preciso de fato tornar a poesia menos solitária e grande o suficiente pra encarar maiorias, assim como a música faz com competência. Particularmente, sou mais do funk do que do silêncio. Mas há quem sinta o prazer da estética endurecida, e eu sempre vou ser favorável ao prazer, mesmo que não seja o meu. E devemos de certa forma agradecer aos parnasianos, sem eles o movimento artístico mais bonito deste país, a Modernidade, não teria feito tanto sentido. Agradeço aos novos parnasianos, sem eles a sua poética não seria tão bela.

Katrina disse...

Então Maria, não julgo os paranasianos, a poesia deles foi tão grande que atravessou o séculos e em contra-partida, vieram os modernistas para protestarem o seu lugar.
O que me revolta é quem faz da poesia um espelho pro seu ego, para mostrar aos demais o seu alto conhecimento em linguística, esquecendo que a emoção é necessária. Nada contra a estética, mas que seja feita sem o auxílio do ego.

Anônimo disse...

"O que me revolta é quem faz da poesia um espelho pro seu ego, para mostrar aos demais o seu alto conhecimento em linguística, esquecendo que a emoção é necessária. Nada contra a estética, mas que seja feita sem o auxílio do ego."

Tipo você?
Ah, tá.

Daniel disse...

Direto e reta a sua postagem Tão boa quanto uma ótima poesia.

Apesar que eu já fiz poesia assim como descreveu. Não é das melhores e nem atemporal, vamos assim dizer, mas tinha um significado para mim.

Beijos

Mayara Almeida disse...

Olá Katrina,

gostei do seu texto pela exposição de sua opinião e também pela maneira clara como escreveu.
Não curso letras nem sou uma especialista na língua portuguesa, tão pouco da literatura. Como você, acho importante a gramática e os grandes nomes da história mas o no final das contas o fato é (como já dizia Lispector) "ou toca ou não toca". Acredito que esse sempre será O ponto de qualquer poesia.

Bom texto,
Até uma próxima.

Katrina disse...

Que nada anônimo, isso tudo foi para você (:

(vai trabalhar vai, inutilidadizinha pública)

R. disse...

eu não sei escrever,
e isso é bom.
viva!

Paulo Fodra disse...

Lirismo é o que as pessoas usam para esconder a falta de eloquência. Mesmo que eles conseguissem, por mero acaso, aprisionar qualquer sentimento entre as arestas de duas palavras comuns, não se dariam conta. Como você disse, só quem sangra sabe como é...

Beijo

otto M disse...

Sofrimento é necessário, sim, para quem escreve, mas está longe de ser tudo. O leitor, por sua vez, também tem que ter uma certa sensibilidade, um histórico de sofrimento, para compreender certas sensações às vezes tão subjetivas.

Enfim, nunca será possível ser unânime ao falar de emoções.