sábado, 11 de dezembro de 2010

Litterae non entrant sine sanguine

O escritor e seus múltiplos vem vos dizer adeus
(Hilda Hilst)


Estou me vomitando. Não estou vomitando verborragicamente tudo o que agonizou um dia e morreu dentro de mim sob o signo do mais patético desespero muito menos quero dar sentido a uma dor que somente foi sentida por mim, dentro do vazio desta carne amorfa e trêmula. Estou me livrando dos meus resíduos superficiais, ajoelhado a uma privada, os lábios abertos balbuciando uma oração a qualquer Deus que ousou residir nesse altar que carreguei dentro do meu peito até que me revoltasse e com ódio, arrancasse com as minhas próprias unhas, sem a ajuda dos dedos, a única vida que me dei o direito de possuir. E usei o seu sangue para proferir insultos contra sua imagem e semelhança através das letras que hoje formam palavras impronunciáveis, as mesmas palavras que me fizeram. Isto, este que se vomita. Isto, este que se perde entre uma descarga e outra e nunca se vai, permanece, por vingança. Isto, este que carrega o doce fardo de reescrever a vida como gostaria que ela a fosse, possuí-la com todo o tesão que explode suas calças e fecunda o universo.

Mesmo doce o fardo escrito amargo com sangue dos lábios que o vomitam.



*Litterae non entrant sine sanguine - A letra, com sangue, entra.

8 comentários:

Paulo Vitor Cruz, ele mesmo disse...

diria eu q ficou humano, pela sangria toda...

MissUniversoPróprio disse...

Por vezes a escrita é esse descarte, esse vômito, esse transbordamento. Por vezes, é necessário escrever, para se reescrever e se reinventar, dia após dia.

Obrigada pela visita e pelo comentário tão pertinente.

=**

Al Reiffer disse...

Grato pelo comentário, e parabéns pelo teu blog, gostei do que aqui vi.

Vital disse...

"esse pileque homérico no mundo..."

Luís Monteiro disse...

Que texto lindho"
Ah, fazia tanto tempo
que eu não lia algo assim.
Simplesmente adorei"
bJWS"
"(*_*)"
TE sigo, me segue?¿
http://nostudinhos.blogspot.com/

Nathan Elias Fernandes disse...

Emocionou de verdade!Eu sempre acho sensacional essa mistura de coisas podres com sentimento!

Camila disse...

muito profundo... poético.

deh. disse...

"Isto, este que carrega o doce fardo de reescrever a vida como gostaria que ela a fosse, possuí-la com todo o tesão que explode suas calças e fecunda o universo."

Quero repetir pra não esquecer (como faz o Ṕequeno Príncipe).