sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Adíos.

Então, eu vou procurar aqui pelas gavetas o que sobrou de nós dois e o que há de você ainda e há muita coisa dentro de meu peito. Não sei ainda o que vai permanecer e o que eu vou deixar que você leve, talvez eu deixe tudo comigo, guardado a sete chaves, onde vezenquando eu vou abrir um pouco para que entre um pouco de ar para que não deixe que nada mofe, para não criar poeira. Ouvir as músicas e se lembrar de cada detalhe de cada lugar e de cada palavra que dividimos. Sentir ainda sobre os lábios o sabor do café, do vinho, do wisky, da vodka. O sabor de algumas poesias, de algumas declarações inesperadas, de algumas lágrimas. Sentir você envolto nos meus braços, no meu carinho, no meu amor. Apenas sentir. Mas as coisas que valem a pena sentir. Talvez você nem seja esse de que eu vá me lembrar com um sorriso entreaberto e com uma imensa saudade. Mas eu não quero que seja esse vazio interminável que teima em pulsar dentro de mim

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Um velho vaso.

Estou olhando pelo lado de fora da janela e estou vendo o nosso vaso, ao longe. Você não regou as plantas, estão meio secas e as flores parecem que estão mortas a algum tempo. De longe o vaso parece intacto, eu tenho vontade de rir um pouco, me controlo para não parecer patética.Mas só nós dois sabemos o quanto esse vaso já foi consertado, noites e dias a fio que nós dois, íamos colando os pedaços sobre outros pedaços, e nem sabíamos onde colar os pedaços, íamos colando em qualquer lugar sem se importar com o resultado, se ele ia conseguir se manter firme. E nunca achávamos defeitos nele, por mais remendado que estivesse, por mais frágil que estava. Achávamos lindo, que jamais iria se quebrar novamente e se quebrasse, oras, tínhamos cola. Mas agora, vendo com outros olhos, meio míopes admito, eu vejo as imperfeições dele. To olhando pros meus dedos cheios de cola e sabe, cansei de remendar coisas.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Com olhos mínimos e imensos.

O nome era José
estranho dar um nome assim tão comum a algo incomum
tipo uma iguana com mínimos olhos imensos de narcóticos dentro de um ônibus
Mas você se fixou a isso e eu à janela empoeirada onde tudo é passageiro, onde nós somos passageiros dessa paisagem que se modifica a cada piscar
Estou numa segunda e você num diário
cruzamos a Augusta, quase na rua Jaú até parar na Angola
um royal straight flush para o final do nosso dia
(mas nem eu e nem você queremos apostar tudo de novo no pôquer)
Os mortos ao nosso lado estão lendo jornal
e ouvimos Rita Lee e pedimos um misto quente feito de cigarros e cerveja
e explicações incoerentes prá Nietzsche e prá Ben Jor
mas não encontramos, desistimos, rimos da nossa decadência e nos calamos em respeito à Chico Buarque
Ficamos em silêncio para que nossas mentiras soem reais
sejam concretas.
Somos sócios falidos, trechos perdidos por aí
no meio de quatro pessoas que bebem e resmungam e discutem sobre a tal mulher que foi atropelada ali perto
mas ela é o assunto de quatro minutos apenas e aí eles voltam a falar de futebol e
eu aspiro os teus olhos vazios
imensos de narcóticos e mínimos de iguana
pedindo para voltar para a casa e
eu apenas peço que escute a próxima canção
porque eu vou fechar os meus olhos e rabiscar um sorriso dentro deles.
(um sorriso que eu espero em logo poder tocar e encaixar sobre o meu)



Cruzamos uma esquina e quase podemos rever aqueles olhos.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Exatamente como é igual a tudo.

Não é estar perdido, eu queria saber exprimir isso mas eu nem sei qual é o meu futuro, eu já tentei ler tarô e jogar buzios, mas essas coisas não adiantam muito quando você sabe exatamente qual vai ser o dia de amanhã. É, eu acho que estou perdido, não há outra palavra prá explicar quando a gente anda e anda pela casa e não reconhece nada, e se olha no espelho e sente vontade de se retalhar todo, e não se lembra dos finais dos livros mofados na estante e dos filmes que estão pelas gavetas. Eu poderia, aliás, eu vou afirmar que tudo é igual, todos os finais, o meu final vai ser igual a esses finais, vai ser igual ao final de todos os meus dias. Eu queria sim, muito que, sim, eu desejo que alguém abra essa porta e que fale o meu nome, que eu não sei mais qual é porque, ah , tanto tempo que eu não o ouço, ele se perdeu pelas paredes assim como os meus sorrisos, como a minha felicidade que não se encontra mais em qualquer lugar, porque tudo está perdido como eu, sim, a palavra é perdido, é perdição, é estar num cúbiculo sozinho e escuro mas, você vê o que acontece lá fora mas nada acontece aqui dentro, de mim.
Eu vou abrir a janela, tirar um pouco os livros da estante, ver se vejo alguns filmes e tentar fazer um esforço para ser feliz. É isso, amanhã eu faço.
Mas amanhã vai ser igual a hoje.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Menagé a trois

Natália

-Eu me decidi, acho que vai ser melhor.
-Você nem sabe o que é o melhor prá você Natália.
-Claro que eu sei, se eu não o soubesse não estaria fazendo isso.
-Pensou por acaso em mim? Como eu estou me sentindo?
-Pensei, é claro que eu pensei em você. Porra, eu penso em você todos os dias, mas não dá, entendeu? Eu vou casar, é isso que eu quero.
- Você não se cansa de falar nisso, sempre fala prá me machucar mais ainda, muito mais do que já estou. Mas esse seu casamento não vai te trazer felicidade, não vai te mudar. Você está há mais de um ano noiva dele e não teve coragem de me largar ou de largá-lo e me assumir.
- Eu assumo que sou covarde, mas eu o amo. Assim como te amo
-Você sabe que não é assim Natália, você quer amar ele mas não consegue. Pode tentar, minha querida, mas eu lhe garanto que isso só vai te ferir e te frustrar mais ainda.
- Não quero pensar dessa maneira, não agora. Eu só queria que soubesse o quanto te amo, e que não está sendo fácil isso tudo.Nunca o foi, só eu sei o quanto sofro com isso. Eu queria ignorar todas as regras e ficar com você prá sempre. Mas eu não posso.
-É, eu sei. Mas entre ter ele no seu álbum de família do que me assumir e enfrentar as conseqüências e possivalmente ser feliz, você preferiu as fotos. Pelo menos queria saber o nome de quem vai te roubar de mim.
- Não seja assim tão cruel, prá quê quer saber disso? Vai fazer diferença? Se ocultei o nome dele foi para não deixar as coisas piores do que já estão.
- É, acho que sigo alguma doutrina masoquista, mas eu queria saber o nome do que está me matando.
- Porra, o que vai fazer? Ir atrás dele e contar sobre nós? Não vai adiantar, eu negarei descontroladamente.
-Eu jamais iria me sujeitar a um papel rídiculo desses. Se você quer assim, assim será. Não posso obrigá-la a seguir o seu coração. Siga a sociedade então. Seja feliz com isso.
-Por favor, sem sermões a respeito disso, eu mesma já me prego isso todos os dias. Deixe a chave na portaria, á noite eu passo para pegar as minhas coisas.
-Talvez não me encontre lá. Vou ver se passo a noite com alguém. Não é para te esquecer, deixo claro, não sou assim tão infantil, nem para te provocar ciúmes. Acho que eu quero ver como é que você se sente se deitando com uma pessoa estranha a você
-Não me importo, sabe disso. Talvez encontre a pessoa certa, torço por isso.
-Natália, eu...
-O quê?
- Nada, só não esqueça de dar comida ao gato.
- Eu colocarei.
Se despedem com um beijo no rosto, mas Natália não consegue segurar um impulso e beija aqueles lábios que somente seriam seus e de ninguém mais. Ainda sente o mesmo gosto inebriante, mas carregado de lágrimas. Evita olhar em seus olhos e segue em diante. Precisa passar na gráfica para ver como ficou a arte dos convites.

Eduardo

Eram 5 horas e ele se sentia sufocado pela gravata, por aquele anel em seu dedo e pela rotina que pouco a pouco ia esmagando a sua mente, estava angustiado para se ver livre daquele escritório e de todas aquelas pessoas que o olhavam com ares de felicidade trancafiada em quatro paredes. Sentiu vontade de abiri aquela janela e gritar o mais alto que pudesse, até que seu chefe viesse dar-lhe uma bronca e ele, respectivamente, mandasse ele se fuder. Era isso, queria que todos se fudessem, inclusive Natália.
O sexo com Natália ainda era bom, ele a amava demasiadamente, mas e aí? Do que adiantava amá-la se já estava cansado de acordar todos os dias ao seu lado, de ter decorado todos os contornos de seu corpo e saber exatamente sem surpresa alguma o que lhe provoca prazer? Jamais havia dito isso a alguém, jamais diria. Se sentia um cachorro por pensar assim. Qualquer homem daria tudo para ter uma noiva como Natália, ele sabia disso, sabia que seus amigos olhavam para Natália com desejo, e que o invejavam por tê-la, e se sentia maravilhosamente bem com isso. Natália era o seu prêmio, seu bibelô raríssimo à exposição de todos. Não era ela que o sufocava, para ser sincero sempre achou Natália distante demais, alheia a ele e a tudo que dizia respeito aos dois, era o jeito dela, esse jeitinho encantador de quem mora na lua e jamais pertencerá á Terra.Não era isso, era as formalidades, almoço com as famílias, prestação de contas, a mudança de móveis em seu apartamento, compartilhar o mesmo armário com ela, encontrar seus absorventes na gaveta da pia do banheiro, era vê-la sem maquiagem ou mijando enquanto ele se barbeia, brigar pelo controle remoto ou ver tudo ao seu redor irritantemente bem organizado.Era isso o casamento então? Só lhe faltava assumir de fato, assinar inúmeros pápeis e além de tudo o que já repartiam, repartiriam o mesmo sobrenome. Jamais negaria que a amava, mas só isso não bastava. Sabia que com o tempo, ela seria uma invasora e ele um refém.
Apesar de tudo, se sentia aliviado com o silêncio de Natália, as brigas que nunca tiveram, os telefonemas misteriosos que a tiravam de casa e o deixavam finalmente sozinho, sozinho para si mesmo, para ver tv ou fumar a vontade e desorganizar tudo. Sozinho como deveria ser.
Naquela tarde, havia sido chamado para o Happy Hour com alguns amigos do trabalho. Nunca foi de participar dessas pequenas reuniões onde os chefes eram massacrados e todos os demônios soltos.Ma especialmente hoje, sentia que deveria ir, que precisava disso para si. Só ligou para Natália para avisar que chegaria mais tarde em casa, mas ela lhe respondeu com frieza, como se não se impostasse se ele fosse a um bar ou a um prostíbulo. Ele também não se importava com ela, mas sabia que ela era fiel.
E era isso o que mais lhe incomodava.

Helena

Despejou-se sobre a mesa de um bar que encontrou ao dirigir algumas horas seguidas. Controlou-se até então, não queria mostrar a quem quer que fosse o quanto estava abalada e destruída.Mas ali, desfez-se de sua elegância e bons modos e chorou como jamais antes havia sido permitida.Não precisava mais ser educada consigo mesma, desferiu-se nomes impróprios que coçavam em seus lábios em sorrisos indecentes e amargos. Pagou por um hi-fi feito com alguma vodka de segunda,mas não se importou. Não seria um dry martini que lhe devolveria sua dignidade. Secou as lágrimas rapidamente quando viu que executivos entravam ali. Sentiu-se humilhada ao ver que todos olhavam sua maquiagem borrada e seus olhos inchados. Queria não se importar com isso, não se importar com mais nada, ainda mais ela que sempre pregou que a felicidade não estaria fundamentada no que os outros pensam a respeito dos outros. Mas é fácil dizer isso aos outros do que seguir isso ao pé da letra.
Um rapaz sentou-se ao seu lado, a gravata desfeita, os olhos também.Parecia cansado e entediado dos risos de seus companheiros. Olharam-se por alguns instantes e ela sentiu-se um pouco mais aliviada. Ele também parecia estar perdido. Ofereceu-lhe um hi-fi, mas ele não aceitou. Pediu logo um wisky, qualquer marca, e ela riu. Riu porque se fosse algum outro da sua roda social, pediria logo dois dedos de tal marca e com dois cubos de gelo, por favor. Ele não sabia tomar wisky, mas queria certamente algo bem forte para se distanciar do que quer que fosse.
- Helena
-O quê?
-Meu nome é Helena, e o seu?
-Eduardo, meu nome é Eduardo.
-Vem sempre aqui? Oh, meu Deus, que coisa horrível, acabei sendo clichê em minha cantada.
-Não se preocupe com isso Helena, eu não tinha me importado. E não, eu nunca venho aqui.Acho que não é bem o trajeto para a minha casa.
-Nem o meu, rodei algumas horas a fio até encontrar esse bar e entrar. Queria me sentir bem e sozinha por algum tempo.
-Eu não sei mais como é se sentir sozinho e bem ao mesmo tempo. Esses momentos tem sido um tanto que escassos nos último meses.
-Sozinha sempre estive, mas bem, completamente bem nunca.Na verdade, sozinha não é bem o termo. Solitária, soaria melhor.
-Pois é, as vezes eu me sinto assim, solitário. Aí eu olho prá minha noiva ao lado da minha cama e me sinto mais solitário ainda.
-Noiva?
-Isso implica em algo?
-Não, de maneira alguma.Ainda mais quando estamos do mesmo lado.
-Jogamos no mesmo time. Dos solitários acompanhados?
-É, bom, agora eu sou uma solitária completamente sozinha.
-Espero que a minha solidão seja uma fase.
-A minha não é, tenho certeza.
-Quer dar uma volta Helena? Acho que aqui não é um bom lugar para dois solitários que nem nós dois. Acho que dessa vez eu fui clichê
-Meu apartamento ou o seu?
-O seu,pode ser?
-Tudo bem, até melhor. Solitários e clichês, que bela dupla de fracassados hein!
Riem alto e mais alto que todos ali que estão se divertindo ao humilhar seus chefes e esposas.Mas é apenas seus risos que ouvem, apenas essa gargalhada melancólica que soltam. Entram no carro de Helena e somem pela noite.

Natália, Eduardo e Helena

Helena abre a porta de seu apartamente enquanto Eduardo percorre com suas mãos os contornos suaves e perfeitos dela. Fecham a porta e se despem com violência e ardor, como se pegassem fogo, um fogo doloroso que vai além da pele. Se invadem frenéticamente sobre o carpete da sala, murmurando palavras incompreensíveis e indizíveis, entre alguns gritos e lágrimas. Ambos jamais haviam sentido tal prazer com qualquer pessoa. Um prazer estranho, vazio, incontrolável e triste. Mas não se sentiam culpados, apenas se sentiam completos com a solidão que compartilharam naquele orgasmo.
- Se sente culpado?
-De maneira alguma, e eu me sinto mal por isso, eu deveria não?
-Acho que não, se não se sente é porque não fez nada de errado.
-Mas eu traí minha noiva, sabe, eu deveria me sentir um lixo.
-Mas não se sente, e aí, vai fazer o quê? Vai ficar martelando na sua cabeça como um mantra o quanto foi canalha até que finalmente se sinta como um?
-Tem cigarro?
-Eu não fumo.
-Que merda, desculpe, mas que merda!
- Tudo bem, eu acho que eu devo ter alguns aqui, em algum lugar. A pessoa com quem eu tive um caso fumava. Aliás, só fumava aqui, até disso tinha medo de assumir.
-Putz, que chato.
-É, era bem chato
Helena se encaminha nua até o quarto, e Eduardo permanece deitado exausto sobre o tapete quando, uma chave abre a porta, e é Natália que entra ali. O olha desconcertada, como se estivesse em algum filme de terror classe B, e não sabe exatamente do que mais a aterroriza, se é ver seu noivo ali nu ou a possibilidade que de ele e sua amante tenham transado.Queria acreditar o contrário, talvez com certa esquisitice, de que talvez Helena tenha sido cretina o bastante para ter contado tudo a ele e que ele, no alto de seu orgulho, tenha forçado Helena a transar com ele. Não poderia ser jamais, coincidência.
-Nat, ah, vocês duas combinaram, só pode? É algum truque malígno para testar minha fidelidade, é isso?
Natália se afasta da porta, se encosta do batente e desliza sem forças até se apoiar no chão, sentindo suas lágrimas molharem o piso do apartamento de Helena.
-Eu nem sei o que dizer, parece algo tão irreal, céus, eu quero morrer, acho que é a única coisa que eu quero agora.
Helena aparece, vestida com um roupão de seda chinesa que Natália a havia dado. Olha aterrorizada para o rosto transmutado de Natália, que parece muito mais velha e abatida do que já fora um dia. Sente-se culpada pela dor dela, e talvez pela a de Eduardo, mas ao mesmo tempo sente-se infernalmente aliviada pela verdade ter vindo a tona.
-Natália, eu não imaginava que vocês dois se conheciam...juro que não imaginava ele era o seu..
-Claro que sabia Helena! Sabia sim, por isso mandou que eu viesse aqui hoje porra! Sabia sim sua cretina miserável, sabia eu tenho certeza disso! O que é hein? Quer me machucar? Certamente contou a verdade a a ele sobre nós, sobre o nosso maldito caso, não é? Não é?
Eduardo se levanta e procura suas roupas, desnorteado pela revelação. Não sabe o que sentir, não sabe como se movimentar, apenas tenta encontrar no rosto de Natália algo que o faça acreditar que ela, que justo ela, o traía com uma mulher.
-Eu juro que eu não sabia que ele era o seu noivo, eu juro Natália, juro por tudo o que já vivemos! Confesso que eu queria mesmo que você me visse com outro, queria me vingar, queria te machucar. Sabe, eu tinha uma certa esperança de que você desistisse do seu noivo, que percebesse que poderia me perder, porra, que lutasse por nós!
Eduardo encontra algumas de suas peças e se veste se tirar os olhos dos olhos de Natália, que se fixam nos olhos frios de Helena.Sente como se lhe houvessem transferido um soco ao pé do estômago e que precisa vômitar, mas isso fica preso em sua garganta, o sufocando.
-Eu não acredito no quão cafajeste você foi comigo Natália, sabe, isso não me desce, eu não quero acreditar nisso, por favor, diz que isso é alguma brincadeira de muito mal gosto.Por favor, você não foi capaz disso, por favor, diga que não!
-A questão não é ser ou não capaz. A questão é, Eduardo, eu não sei o que lhe dizer, não acho que o deva, eu me sinto aliviada de que você saiba disso sem que eu tivesse te contado algo. Eu estou sem chão, arrasada, sem querer respirar, quero fechar os meus olhos e abri-los e só ver Helena na minha frente, dizer a ela o quanto eu a amo e que eu estou errada como sempre, é isso. Eu quis te amar, não consegui. Ia me casar e tentar isso pro resto da minha vida.
- Nunca me amou? Nunca, nem carinho?
-Tinha nojo.
- Nojo eu tenho agora de você.Olha, vou ser sincero, tinha nojo de você antes, mas eu não sabia que palavra dar a isso, de me sentir sufocado por você, por não aguentar mais isso de ver as suas coisas pela minha casa, de aturar a sua conversa vazia, desse seu silêncio, eu te enojava, é isso.
Helena então, se aproxima de Natália que se recua evitando que ela a toque.Mas Helena sorri, sorri de uma maneira que consegue tranqüilizar Natália, que consegue fazê-la se sentir segura, que a faz saber, pela primeira vez na vida, o que fazer.
-Eduardo, você é um monte de merda trancafiada num escritório. E olha, você era péssimo quando fazia sexo oral querido. E mais uma coisa, estou completamente aliviada por você saber da verdade, mesmo que tenha sido da pior e mais cruel maneira possível. É óbvio que eu estou puta com a Helena, mas eu a amo e perdoá-la será fácil. E pela primeira vez na minha vida, eu estou pouco me importando sobre o que vão pensar.Se quiser, sinta-se a vontade para ir falar para nossas famílias que não haverá casamento porque eu sou lésbica, sempre fui e nunca vou deixar de ser por pinto nenhum.
-Não, quero que você seja então tão mulher quanto está sendo agora e conte isso a todos. Vá lá, conte como contou para mim, se é que não se importa mesmo. Eu não vou dizer nada, essa vai ser a minha maneira de me vingar do que você me fez. Tomara Nat, tomara mesmo que você sofra com a verdade
Helena então se aproxima de Eduardo e transfere-lhe um tapa. Eduardo pula em cima dela mas Natália arremessa sobre sua cabeça uma estátua de bronze. O sangue escorre do ferimento feito pela agressão, ele está desmaiado, a respiração muito fraca. Natália então pega a estátua e volta a transferir-lhe novos e violentos golpes até que, uma poça de sangue se forma ao redor do corpo dele. Helena apenas olha aquilo abismada, sem saber como reagir, mas sente-se orgulhosa por Natália.
Natália também observa o corpo, corre em direção aos braços de Helena e suja seu roupão de seda com aquele sangue. Se beijam intensamente e se amam ali mesmo no chão, ao lado do corpo de Eduardo.

-Qualquer coisa, eu digo que ele tentou te estuprar. -Sussurra no ouvido de Helena

sábado, 17 de janeiro de 2009

Tela surrealista interminável

Escrevi o seu nome na janela do ônibus de volta para a casa, mas eu estou aqui e o seu nome permenece lá percorrendo toda a cidade, numa longa jornada sem fim até que, leiam e saibam o quanto eu te amo e faria qualquer coisa para redicionar os meus dedos que estiveram naquela janela e que estão aqui escrevendo essa enorme baboseira sem fim mas
queria que você estivesse comigo quando eu sentei num boteco e eu só ouvia o barulho incessante da rua que era como qualquer canção que me lembrasse de você
e quando uma peruana me perguntou onde é que eu queria chegar e eu não entendi nada
mas respondi que eu estava longe demais de onde eu queria estar
e aqui, no meio de duas avenidas atravancadas de pessoas familiares a mim e
de carros ônibus motos e o caralho a quatro
é o meu lar
porque aqui está o meu coração
[quem disse isso, não lembro, mas todo escritor não quer ser lembrado por seu nome mas pelo o que escreveu e que no final de tudo é o que fica nos lábios alheios]
e também é aí, onde você repousa
[ou assim como eu se sente perdido por não saber onde é que quer chegar]


E tudo é tão sujo e tão belo é tudo tão demarcado por pessoas que
fazem da cidade a sua grande tela surrealista
onde eu encontro facilmente o seu sorriso, porque
[você riria comigo dessa minha opinião, mas São Paulo é uma tela surrealista ainda a ser finalizada por algum grande artista, sempre existe um vazio nessa tela onde qualquer um pode completar]
[e eu completaria com tudo isso que eu quero lhe dar em todas as cores inimagináveis e dadaístas]

E tudo trancorre tão rapidamente
isso de andar e andar e perguntar onde é que fica esse lugar que eu quero chegar
e eu sei
mas é sempre bom perguntar porque
eu já me perdi uma vez, tantas vezes
[e eu acho que eu voltei a me encontrar em você]
que, novamente eu estou aqui
e você nunca saiu daí
[mas eu sei que eu andei sobre tudo aquilo que você andou e
andamos juntos e pintamos juntos e descobrimos mais cores
para tudo isso que se chama amor]

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Entre vultos

Poderiam ter dito tudo o que precisavam dizer mas preferiram não dizer nada quando aquela porta se abriu. Nenhuma palavra era mais sincera do que qualquer palavra, mas Vinicius e Tom cortavam aquele silêncio como se A felicidade fosse uma navalha de um fio muito afiado. A breve abertura da porta encheu a sala com uma abstrata claridade que revelou um vulto esparramado na poltrona e uma brasa flutuado pelo ar em vagos gestos e um outro , em pé à porta, que observava atentamente com fundos olhos negros quase invisíveis o vulto à sua frente, esperando que ele fizesse qualquer coisa que calasse Vinícius antes de tristeza não tem fim, felicidade sim, mas ela estava intacta em seu silêncio. Em movimentos alcóolicos, ele caminhou até aquela poltrona onde ela estava desfeita, olhando fixamente para a brasa que se consumia e consumia seus olhos furta-cor incontroláveis, indizíveis.
Ele sorriu, ficou ali tentando encaixar o seu sorriso nos olhos em brasa apagados dela, que apenas murmurava cai como uma lágrima de amor, mas as lágrimas não eram de amor, eram salgadas e secas demais que quase desalinhavam o seu rosto. Ela o olhou, ele se desviou. Não conseguiu sustentar aquele olhar pesado de ressentimento que ela guardou por tanto tempo dentro daquelas palpébras etéreas. Sentiu-se inerte, ainda o perfume mais profundo dela lhe corroendo por dentro, ela ali tão próxima e tão distante dele a poucos centímentros, uma muralha que o impedia de tocar o seu rosto, de fazê-la ouvir o quanto sentia, que se, ela lhe desse outra chance, porque não, ele mudaria mais uma vez. Mas ela também mudou, era outra mulher dentro daqueles olhos impassíveis de piedade.
Disse "preciso dizer mais alguma coisa?"
"não", ele deveria dizer, mas apenas voltou para o quarto e fez suas malas. Ainda os restos dela por suas roupas, ainda restos dela mais inteiros que ele dentro de seu próprio corpo. Restos mínimos dele pelo quarto junto com a poeira que no dia seguinte ela varreria do chão. Ele um resto de si próprio em poeira que outras varreriam de suas vidas.
Acendeu a luz da sala para deixar a chave sobre a mesa.
Ela era um vulto apenas a meia luz. Ele era um vulto completo

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Tragédia grega OU um drama vagabundo em um ato.

(o palco está escuro e só se ouvem alguns passos)

(ouve-se algo cair)



(uma luz se acende sobre Travis)



Travis : Hey, você aí do chão, está bem?
Perséfone : Ah, você que tropeçou em mim?
Travis : Acidentalmente sim, quer uma ajuda aí prá se levantar?



(oferece a mão a Perséfone que a recusa num tapa)


Perséfone: Não to precisando de ajuda de ninguém, valeu.
Travis : Mas é perigoso ficar aí quase no meio da rua.
Perséfone: O máximo que acontece é isso. Algum bêbado tropeçar em mim.
Travis: Eu estou sóbrio, só que eu não te vi aí. Essa rua ainda por cima é mal iluminada prá caralho.

(Travis se encosta num muro enquanto Perséfone se levanta)

Perséfone: Já to acostumada com isso
Travis : Você mora na rua, é isso?
Perséfone: Até tenho casa sabe, mas aqui é o meu lar. Me sinto mais segura aqui do que entre quatro paredes.
Travis: Conta outra, as ruas são perigosas demais, só se você for alguma viciada, aí dá prá entender porque prefere ficar aqui.
Perséfone: Olha só, por isso rejeito ajuda de pessoas miseráveis como você, miseráveis de velhas opiniões e rótulos. Só porque eu prefiro isso aqui do que uma cama, é porque eu sou uma viciada ou uma puta? É isso?


(empurra Travis contra o poste)


Travis : Calma aí, não quis te ofender, juro que não era a intenção pô, mas não é normal uma pessoa que não tem vício algum preferir uma rua do que uma casa.Sei lá, é estranho.
Perséfone: Tem gente mais estranha que isso e vocês nem percebem porque acham a coisa mais natural do mundo. Aliás, qual teu nome hein?
Travis :Ah? Travis, escrito com a mesmo, e o teu?
Perséfone: Nome engraçado o teu, o meu é Perséfone
Travis: É, eu gosto do meu nome. Minha mãe tinha visto um filme quando estava grávida, aí colocou o nome do personagem em mim. Travis Bickle, o nome do cara. Taxi Driver, já viu?
Perséfone: Devo ter visto.
Travis: O teu nome também é legal. Eu acho que eu já devo ter ouvido ele em algum lugar. É de alguma música?
Perséfone: Não que eu me lembre.


(Perséfone se senta na calçada e Travis faz o mesmo)


Perséfone: Mitologia
Travis: Ah tá. Bacana.
Perséfone: Egípcia.
Travis :Bacana mesmo.
Perséfone: Bem ignorante você hein!


(Perséfone dá uma gargalhada enquanto Travis olha para o chão encabulado)


Travis: Nunca fui muito chegado nessa coisa do Egíto antigo, essas paradas.
Perséfone: É Grécia antiga. Mitologia Grega. Eu me recuso a transar com um cara que não saiba quem foi Perséfone.
Travis: Se eu quisesse algo com você então nem rolaria né?


(Travis também acaba rindo junto com Perséfone)


Perséfone: Se não tivesse me chamado de viciada, até dava para você mesmo sem saber disso.
Travis: Então, quem é Perséfone?
Perséfone: Se refere a mim ou a outra?
Travis: De quem que você quer que eu sabia?
Perséfone: Das duas, mas vou falar da outra, mais interessante. De mim você fica sabendo depois
Travis: Pode falar então dá outra, a sua xará
Perséfone: Ela era filha de dois deuses, Zeus e Deméter. Zeus era o equivalente ao Deus Cristão, sabe, to meio que explicando por cima, mas ele era o Deus Supremo saca? Deméter era a deusa da Agricultura. Como Perséfone era muito bela, acabou atraindo a atenção do Deus do inferno, que se chamava Hades. Ele acabou sequestrando Perséfone e levando-a para o inferno.Nisso a mãe dela acabou caindo numa profunda depressão e nada mais nascia das terras, sabe, ninguem mais colhia nada, tipo seca do nordeste cara.
Travis: E aí?
Pérséfone: Aí Deméter pediu ajuda a Hermes, que era meio irmão da Perséfone, para ir buscá-la no inferno. Aí quando chegaram lá descobriram que ela havia comido uma romã que tinha sido oferecida por Hades. To sendo chata?


(Travis acende um cigarro e ofecere um a Perséfone que aceita e acende)


Travis: Continua, o que acontece depois disso?
Perséfone: Ah, já que ela havia comido algo vindo de Hades, era porque havia aceitado morar com ele.Sei lá,acho que ela tinha se apaixonado por ele, algo assim. Aí a mãe dela propôs um acordo com Hades de que, a filha iria passar uma temporada com ela e a outra com ele. Nisso surgiu as estações. Primavera e Verão quando Perséfone está com a mãe e Outono e Inverno quando está no Inferno.
Travis: E agora você está onde Perséfone?
Perséfone: No inferno cara.



(As luzes se apagam)


(Voltam a ser acesas e reaparecem Perséfone e Travis. Estão caminhando em volta do palco como se estivessem caminhando por uma rua reta e bem iluminada. Perséfone usa um vestido branco que reflete toda a luz que cai sobre ele e seus cabelos são vermelhos quase da cor do sangue)


Perséfone: Sabe quando você sabe o caminho e se sente perdido? Eu devo ter ficado entre o inferno e a Terra, acho que isso.
Travis: Mas como é que você se perdeu?
Perséfone: Quando a gente se perde, a memória conspira para que se continue perdida. Se eu soubesse como voltar ao que eu era, eu voltaria. Eu sei o caminho mas não sei como voltar a ele, é mais ou menos isso.
Travis: Que coisa de doido isso, saber voltar e não se lembrar como. Mas e aí, porque você mora na rua?
Perséfone: Me sinto menos só na rua. Em casa ninguém esbarraria em mim e me ouviria, ou me levantaria do chão. Não que eu more nas ruas, eu sempre acabo voltando para a casa.Mas prefiro muitas vezes estar por aqui.
Travis: Foi sorte sua hoje. Amanhã pode ser alguém que tenha essa vontade de matar mendigos, eu vejo isso toda a hora nos jornais.Não que você se pareça com um mendigo, mas estava ali jogada no chão, quase lembrava um, naquela escuridão toda.
Perséfone: Não tenho medo, acho que até que fariam um favor para mim. Me fariam voltar para onde eu jamais deveria ter saído.
Travis: Você é uma louca depressiva, só pode
Perséfone: Pode ser, você também é, com um nome desses, até eu seria.

(Perséfone corre um pouco mais para a frente de Travis e se vira para ele com os braços abertos.Começa a ventar e os seus cabelos se esvoaçam, tampando seus olhos)


Perséfone: Hey Travis, eu vi o filme! Tá afim de alugar um taxi e me salvar?
Travis: Nem de menor você é, e muito menos viciada e puta.
Perséfone: Travis, ohh Travis, pegue sua arma e venha matar meus demônios!
Travis: Caralho, você gritando assim vão achar o que de mim? Que eu sou um bandido, no mínimo!
Perséfone: E que eu sou Perséfone, esposa de Hades, a dona de casa do inferno. Ah, o que que há nisso Travis? Nunca teve vontade disso antes? Ser mesmo o Travis?
Travis: Tá afim de voltar pro seu lar é?


(Travis se aproxima de Perséfone. Estão cara a cara, quase podem sentir a respiração um do outro. Travis tira uma mecha de cabelo que cai sobre os olhos de Perséfone)


Perséfone: Eu queria saber onde é que eu tô cara. Eu sei que ali eu estava no inferno, ali onde você me encontrou. Veio a mando de Hermes e Deméter?
Travis: Não, acho que vim por conta do destino
Perséfone: Pensa comigo, eu estava ali jogada na sargeta, no inferno que é estar solitária até de si mesma, eu tinha me deixado sozinha, olha só que loucura! Aí me aparece você
Travis: Eu tropecei em você, podia ser qualquer outra pessoa. Eu poderia até estar bêbado e tentado te estuprar, parou para pensar nisso?


(Perséfone envolve Travis num abraço enquanto este acaricia seus cabelos)

Perséfone: Pensa, você é meio que o Hades, mas tá me trazendo prá luz. Hades seqüestrou Perséfone prás trevas.
Travis: E eu por ventura te seqüestrei?
Perséfone: Essa rua aqui é mais iluminada que a outra né?
Travis: É, dá até prá ver bem a cor dos seus olhos.
Perséfone: Você me convidou para a luz. Tá que não me seqüestrou mas, vamos deixar como se fosse um seqüestro ok? De certa forma foi porque eu vim meio que contra a minha vontade

(Perséfone sorri e Travis corresponde ao sorriso)

Travis: Tá legal, eu te seqüestrei e daí?
Perséfone: Não pode mais me deixar ir embora daqui, você me ofereceu cigarro!
Travis: E o que isso tem a ver...

(Perséfone beija rapidamente os lábios de Travis, que recua um pouco)

Perséfone: Ela aceitou uma romã de Hades. Eu aceitei seu cigarro.

(Final do primeiro ato)



domingo, 11 de janeiro de 2009

Noite passada.

Você deveria ter a abraçado e ter dito algo cara como:
"ah, foi muito bom ou você é péssima ou adeus, caí fora da cama"
mas a deixou ali com algumas reticências e com aqueles velhos desejos despudorados e aquele rosto desmanchado de maquiagem te esperando enquanto você ia pegar uma cerveja e ia se arrepender talvez disso e ela não se arrependeu porque não tinha do quê, ela nem te amava direito, você sabe, ela pensava em outro enquanto estava sobre você e por isso os gemidos dela não eram exatamente de prazer e por isso ela não estava assim tão relaxada. Mas ela queria ter ouvido algo bom no final ou um abraço talvez, ela estava ali enrolada num edredon sujo de lubrificante mas ela estava suja de sexo mas ainda assim, estava pura como o que ela sente por você. Ela bebeu o resto do vinho que sobrou do resto daquela noite e ela queria ainda o seu abraço só para saber que tudo estaria bem e que isso ia passar, essa incrível falta que ela sente daquele cara que ela ama demais e que não consegue dizer isso sóbria por medo de assustá-lo e perdê-lo, mas ela está ali na cozinha fumando e chorando dizendo a você isso porque em você ela confia, sempre confiou, ela está ali mais desprotegida do que nunca, está bêbada muito mais de amor do que de cerveja e vinho, e você sabe olhando dentro dos olhos dela quando ela fala sobre essa falta que ela sente, porque você sabe que ela nunca esteve tão bem antes e que ele é o que a sustenta , o que a faz se sentir mais forte mesmo depois de uma noite como essa, porque ele é o grande amor que ela sempre esperou para sentir e para viver e ela está o vivendo da maneira mais simples e sincera que existe, é ele que brilha nos olhos dela agora enquanto ela chora enquanto está encostada na geladeira fumando e olhando para o céu sem estrelas, tentando dizer a você em palavras o quanto ama desesperadamente ele e que tentou dizer a ele isso hoje mas não sabe se agora ele vai ser obrigado a alguma coisa e ela não quer isso, ela só queria que ele soubesse desse vasto e incontrolável amor que ela sente e que nem uma noite poderia apagar ou diminuir ou a fazê-la desistir.Você entende é óbvio, você que se encontra em todas as suas paixões mas principalmente no alcool, você carrega dentro de si o mesmo amor que ela carrega, o seu que tem os olhos mais puros do mundo e que quando sorri tudo vira primavera, ah, e vocês compartem esse amor, vão buscá-lo no sul mas não importa onde quer que ele esteja , vocês o buscariam em qualquer lugar, então, só lhes restam o silêncio porque cada qual entende a dor do outro e, sim, surge um abraço, aquele que ela precisava e que você também precisava. Mais uma palavra estragaria tudo.
Amanhã será mais um dia de espera para os dois.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Próximo trem.

Estarei aqui, como sempre estive esperando por você, nesta plataforma onde todos os trens passam e se cruzam e todos embarcam, estarei te esperando para que eu possa embarcar no qual me levará ao nosso destino. Há uma lua de fel que escorre e me lambuza mas eu, estarei aqui te esperando para que você me limpe dessa amargura e desse medo de que o próximo trem seja o do nosso destino e você não esteja ao meu lado para me entregar o bilhete azul que são os seus olhos imersos em jazz.



O tempo escorre e corre e se desmancha no meu rosto que já tem algumas rugas e marcas de trilhos e faz algum frio nesta plataforma em que os trens passam rápidos demais por mim e sobre mim que sinto por toda a minha pele como se fosse o tempo e seus ponteiros, e não páram, ontem eu vi uma pessoa e ela sorriu e conversou comigo e por alguns intantes eu achei que iria embarcar com ela, mas eu prometi que iria lhe esperar e é o que estou fazendo e é o que farei até que você apareça ao longe, com o seu enorme sorriso mais puro e mais sincero que as teclas de um piano que eu ouço sempre, porque sempre estarei aqui te esperando.


Vem mais um trem e eu sei que não é o nosso, ainda não chegou a hora de embarcarmos e o destino é paciente, vai saber nos esperar.



Talvez você seja esse que se aproxima, pois venha, nosso trem já está se aproximando e eu quero logo ter esse bilhete imenso de jazz com seus olhos azuis.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Sim.

-O que importa mesmo é o sim- disse Cal- No final ela sempre voltará ao sim

(Sylvia Plath)

Sim

Veemente e uníssono.

O sim que a despiu de seus pudores e a vestiu de desejos tão novos e surpreendentes que jamais pensara em sentir, que a fez o amar tão profunda e sinceramente que, ela estava ali em sua frente, disposta a se entregar pela primeira vez ao homem que queria acreditar que amava, que queria acreditar tão profunda e sinceramente que a amava e que, desejava mais do que qualquer outra coisa acreditar que poderia amar e ser amada.Ele apenas a beijou, enquanto a abraçava, talvez sem saber com o que fazer com aquele corpo que se entregava tão desesperadamente que não havia medo algum naqueles movimentos em direção ao seu corpo e dúvida naqueles olhos que percorriam o seu corpo nu com curiosidade.Ela sentia todos os medos do mundo pulsando dentro dela como se fosse a eles que ela estivesse se entregando, e não ele, e o seu corpo recuava de encontro ao corpo suado e estranho dele que os seus olhos iam descobrindo aos poucos, aquele corpo que ela sabia que não amava e que não iria conseguir amar.


-Vai doer?

-Só se você quiser.Mas é só esquecer que pode doer, tenta entrar no clima e confiar em mim

.-E se eu não confiar?

-É porque você não me ama. Se me amar, vai confiar e não vai doer.

Então ela tentou fechar os olhos e imaginar que confiava nele, que ele era o grande amor da sua vida e todas essas coisas clichês que meninas da sua idade pensavam enquanto ela era absorvida pelos livros de poesia simbolista e beat, onde não encontrava razão alguma para acreditar que o amor era algo em que poderia acreditar e se entregar.Os joelhos dele tocaram os dela, tentando abrir suas pernas para que ele pudesse saciar o seu desejo. Ela o sentia entrar em seu corpo como um objeto estranho e quente enquanto ela era um recepiente frio, e , aquela dor insuportável inundou o seu corpo como se ele estivesse lhe perfurando com uma navalha, e talvez se fosse outro, pensava, se fosse algum outro em que pudesse fechar os olhos e imaginar que confiava e que amava, talvez a dor não existiria, talvez aquele sangue não escorreria, talvez aquele nojo não a invadiria e ela não teria vomitado logo após o tão esperado adeus dos dois corpos.

Ela teria desejado jamais ter dito um sim.

Apenas minha imaginação

Me desfaço em seu corpo e dentro de você vou me encontrando e procurando com muita calma esses pedaços que ainda faltam, e que eu procuro com tanta calma como se isso fosse adiar o amanhecer. Contorno o seu rosto e contorno o meu, e se há algum sorriso no meu eu desenho nos teus lábios e se há um sorriso nos teus lábios eu desenho uma suave gargalhada vinda dos meus, tão gostosa e tão sincera por ver um sinal de felicidade em você provocada por mim. Guardo com tamanho cuidado, como faço com os nossos lp's antigos que contém todas as nossas canções, todos os "eu te amo" pronunciados por você e que são mais e tão mais preciosos que as canções sussurradas ao pé do ouvido que se espalham por nossa casa. Me refugio em seu peito tentando estar ali dentro do seu coração e fazê-lo bater junto com o meu, num só compasso, até que eles se fundam em um só.
Mas o dia amanhece, mais uma vez eu sei que foi inútil tentar adiar, eu nunca consigo isso afinal das contas. Vejo os lençóis desarrumados e os travesseiros fora do lugar, mas não encontro você ao meu lado. Ando pela casa, invado ávida o banheiro naquela esperança tola e desesperada de te encontrar ali tirando de você o que restou de mim, mas você não está lá, assim como nunca esteve na minha cama.
Te vejo pela janela e você nem sabe que eu existo.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Memórias póstumas após o nascimento de janeiro.

Teus olhos explodiram naquele céu e [no céu da minha boca explodiram os meus desejos] entre aqueles prédios fálicos que gozavam sobre todos nós e sob o nascimento de janeiro [e a morte de dezembro que eu nem tive tempo de chorar]
eu soube que eu te carregaria dentro de mim por mais um ano e teria o peso de [milhões de borboletas no meu estômago] uma folha de guardanapo da qual eu rascunho isso enquanto os meus amigos me servem mais uma dose de conhaque e eu me sirvo de mais uma dose de [amor, o mais puro que tiver, eu lhe peço] vodka, eu sou fraca demais para qualquer outra coisa que não seja isso, e eu já sou fraca para qualquer coisa até para isso [então alguém ri e me diz que eu terei de beber o que eles compraram, então tudo bem, eu tenho que me conformar com o que eu tenho ao meu alcance]
Todos correm sorrindo ganhando aquela avenida, a mesma de sempre dos meus sonhos [e que percorre a minha pele] tão suja quanto [os meus pensamentos, o meu corpo, os meus olhos] um grande aterro sanitário chamado paulista [como todos os que nascem ali, como janeiro], bêbados e possivelmente alterados [com qualquer coisa, mas eu apenas usei amor e nada mais do que esse grande e vasto amor que eu sinto dentro de tudo que existe] gritando a plenos pulmões [um pouco acinzentados de todos os cigarros que eu traguei] o quanto eu quero de 2009 que ele seja clichê o suficiente para que todos sejam felizes[e ninguém será,todos nós sabemos porque sabemos que não seremos felizes, sempre faremos o possível para que isso não aconteça com os nossos erros imprevistos] e que todos amem[ amém, e eu espero amar demais e ser tão amada quanto] e que todos, ah, eu queria gritar em silêncio
e eu quero me perder deles, perder-se de mim [mas não de você] mas eu tenho medo
esse medo idiota que temos de não encontrar um lar ou voltar sozinha a ele [se o voltar, não olhe para trás, não olhe para as garrafas quebradas, para os amigos quebrados, para os seus sonhos quebrados]
e correndo eu esbarro em quem eu não conheço [mas me reconheço nele] e que assim como eu e tantos outros[os meus amigos, que agora são as mais de 2 milhões de pessoas que estiveram próximas a mim e que compartilharam a explosão dos seus olhos no céu virginal e puro de janeiro com todas as infinitas estrelas de promessas] é mais um perdido na imensidão paulistana dessa avenida de braços [e pernas] abertas para todos aqueles que querem se refugiar [ou se perder] por uma noite apenas [ou para o todo o sempre da sua pequena e breve vida]
[e miserável]
E eu te verei em breve, quando
[eu fechar os meus olhos imersos de ressaca&poeira&todo o amor que houver nessa vida e algum remédio que me dê alegria antimonotonia e um trocado para dar garantia]
em sonhos
[logo pesadelos, quando eu acordo e saberei que é janeiro e que, sim, é mais um mês que não estará ao meu lado é mais um mês que me separa dos teus braços é]
mais um mês que estarei aqui [te amando]