Para Bernardo
Dentro dos sonhos estão os sonhos
(Jorge Luís Borges)
Haverá uma estação onde algum trem azul dormitará e nos encontraremos sob uma lua de tango, assim como somos hoje e que não sabemos como seremos amanhã, mas talvez você continue o mesmo mas eu serei mais uma, outra qualquer. Você estará com um cigarro entre os lábios, dessa marca que eu inutilmente guardo uma caixa vazia dentro da bolsa e que de vezenquando quase acredito que o seu cheiro deve ser o mesmo dele.E será colorido, tão diferente desse preto e branco ao qual a minha memória já está acostumada a desenhar em cada espaço vazio de mim o seu rosto, e eu serei desfocada ou pela metade, como geralmente sou.Nossos passos sobre a plataforma terão o ritmo de alguma velha música do não tão velho assim Coltrane e talvez a sua voz acabe mesmo tendo a mesma intensidade de Nick Cave e quem sabe ela acabe se impregnando na minha voz com a mesma suavidade de alguma canção-poema de Dylan.
Então você embarcará neste trem azul da cor do céu de inverno que também pode ser a cor dos teus olhos, antes mesmo que o seu olhar, o meu olhar, o nosso olhar faça de todas as noites uma única noite, enquanto eu procuro no seu adeus alguma nota de algum blues.
E o que resta apenas é o resto de um cigarro, assim como o resto de algumas das minhas cinzas
assim como alguns desses sonhos.
2 comentários:
será em um trem azul, por volta da meia noite. eu serei um resíduo de lucky strike, será o nome da única música que escreverei, se é que escreverei alguma. talvez escrevesse durante todas as noites, em uma noite, não saberia explicar o que é isso. eu diria que é jazz.
e a guimba rolaria pelo chão, e debaixo da sola do meu sapato ela engasgaria uma última fumaça fazendo contemplar o dia que cave cantou feito dylan.
e fará falta aquela chama aqueles olhos e talvez não haja perdão por embarcar novamente nesse grande trem azul.
c'esta la vie.
e eu já disse um obrigado imenso hoje?
e o que resta é delirium...
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