Para João Ricardo
Estamos dançando descalços esta noite e você põe os seus pés sobre os meus talvez para não sentir frio ou apenas para ficar no meu tamanho, enquanto essa estranha música se desenha no ar.Eu te conduzo entre velas espalhadas pelo chão e taças com restos de vinho mesmo sem saber os passos, e você apenas confia em mim com este seu olhar fixo no além desta sala e esse seu sorriso tão espalhado por todos os cantos da minha vida.Eu tenho a leve e certa sensação de que estamos flutuando em nossa última canção, em nossa última dança, em nosso último contato corporal, nas minhas últimas lágrimas que tocarão a sua pele translúcida.E eu estou com medo desta música terminar, de você se despedir e nunca mais voltar.E eu te quero, meu deus, como eu te quero para sempre sobre os meus pés dançando entre essas taças e velas, flutuando.
Eu te abraço e te deito delicadamente no chão mas você não parece se importar.Ainda dança e flutua pelo ar em sua ilusão de felicidade, que afinal eu nunca lhe porpocionei.
Eu vejo morrer o outono em seus olhos da cor da minha morte e incertos como a minha vida, e uma rosa cárnea desabrochar em primavera entre suas pernas embebidas em fel e que eu não posso tocar ou colher.Tentativas inúteis entre seus movimentos delicados conforme a canção que ainda preenche o ar durante nossa última noite.
É fácil pensar em suícidio quando não estou com você e é melhor manter-se ébrio quando você está longe e eu sei que mesmo que volte, ainda estará longe dos meus braços e do meu amor.Minha benção e minha maldição e toda a desgraça da minha felicidade incompleta.
Entre cigarros e papéis nunca surgiram poesias à você por mais sujas e líricas que fossem minhas inspirações noturnas após o sexo, quando eu me sentia sozinho em seu corpo vagando pelo vazio do seu amor.
E você continua pura entre meus braços que se confundem entre os seus, nessa dança frenética sobre o carpete onde você não quer mais ser conduzida e quer que troque a canção, mas eu quero que seja esta e pego suas mãos que antes já foram minhas com tanta calma e as faço percorrer pelo meu corpo em febre.Seus gritos me soam como uma oração a algum Deus muito bom.Gozo sentindo suas lágrimas misturadas a todos os meus fluídos, enquanto você se afasta de mim procurando mudar a canção.
Agora ela é triste, assim como os seus olhos.
Agora ela é desesperadora, assim como o seu adeus entre gritos de ódio e taças quebradas de vinho e sangue pelo carpete.
Agora ela termina, como em breve farei com a minha vida.
Estou dançando descalço mas ainda sinto o peso dos seus pés sobre os meus.
Dancing Barefoot~Patti Smith
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
7 comentários:
Tsc... Você ta indo mais longe do que eu imaginei Vanessa... Eu to começando a gostar mesmo de você e isso não é bom
Já senti esta vontade de trocar a música, mudar o ritmo.
texto lindo, ma-ra-vi-lho-so.
é um belo texto, mesmo. gostei bastante -- e como gosto de todos esses detalhes, desse mundo real de detalhes.
demorei a aparecer. ô universidade que acaba comigo. mas vou aproveitar a madrugada de insônia pra me perder um pouco mais nos textos anteriores.
um beijo. =*
Começei me perdendo em jardins, hoje me perco sempre que tento me encontrar.
texto otimo!
adorei..
não é facil ser carolina,ultimamente venho escrevendo sobre mim...sobre eu carolina..tem sido bom!
Mudar de vez enquando, antes eu so escrevia de pessoas, coisas, minha vida..nunca sobre mim, agora as coisas estão ficando até mais faceis, estou me conhecendo melhor..
bjO
definitivamente favoritei.
eu achei muito bacana.
digo isso, como fã da p. smith há muito tempo.
me surpreendeu...
parabens, garota!
Rô
Postar um comentário