Agora que esta sensação de amargura e de fracasso me dominam,sinto-me despida de qualquer orgulho fútil para lhe dizer com angustia que afoga minha garganta num doloroso e humilhante grito interior,um velho peso despótico em minha alma:Peço que fique e que me ame.
Ame esta mulher de grandes e profundas olheiras provocadas pela insônia,de tez pálida e seca pela má alimentação,de dentes amarelados e podres pelos cigarros,estes,que lhe deram um cheiro forte característico desde as pontas dos dedos até os fios de seu cabelo oleoso com caspa bagunçado e embaraçado.De nariz sempre vermelho de tanto coçar e de interior em carne viva,de olhos também sempre muito vermelhos com pupilas dilatadas e baços.Lábios secos descascados e em sangue.De roupas,as mesmas de sempre,velhas rasgadas e fétidas.De dores estomacais crônicas e prestes a ouvir a qualquer hora de qualquer médico que já possui cirrose.Ame-a desesperadamente.Peço que fique e que me ame.
Ame esta mulher que chama de lar as ruas,que se mistura aos mendigos e se sente como tal.A viciada errante desesperada de cocaína,que vendeu tudo que tinha de valor e se vendeu a tantos homens e que roubou para se manter no controle do seu mundo para se sentir.Sentir a si mesma sem nojo e sem desprezo e sem horror.E no final,quando a chave branca de mármore desfarelada que abre a porta que lhe dá acesso a esse mundo se perde no vento ou se diluí até desvanecer em seu organismo,retorna a fracassada mulher violentada imunda vomitada debilitada ao seu ciclo.Ame-a delicadamente em cada vão detalhe.Peço que fique e que me ame.
Ame essa mulher de tantas tentativas de suícidio sem sucesso obtido.Algumas marcas pelo seu corpo denunciam isso.De tantas lágrimas ácidas que lhe corroíam a face dando lhe como cicatrizes algumas rugas.De ar cansado e infindável tristeza ao se olhar no espelho e ver a imagem do que se tornou e ter plena consciência e certeza disso de ser aquilo e chorar e tentar se matar e ao não conseguir recorrer ao consolo do álcool sempre tão barato e vagabundo ou da cocaína quando por sorte há algum dinheiro ou alguém com piedade.Ame-a por pena.Peço que fique e que me ame.
Ame essa mulher que foi feliz um dia ao lhe ter.A que lhe fazia sorrir com simplicidade e espontâneidade e se sentia quase que honrada por isso.A que contornava seu rosto no escuro silêncio da noite sem errar nenhum traço.A que lhe dedicou único amor intenso puro sincero e eterno.A que se entregou violentamente por isso.A que lhe ofereceu o hímen e sua alma.A que você rompeu com tamanha violência e brutalidade a alma e o hímen.A que você mostrou nos mínimos detalhes todas as dores que uma mulher poderia sentir,várias vezes para que aprendesse.A que você jogou contra um abismo de sombria e impotente resignação,fazendo-a se refugiar em sua solidão.Ame-a por culpa,por regeneração própria.Ame-a sincera e profundamente como nunca amou.Ame-a por tê-la transformado em algo que você é e nega e tenta fugir por medo,medo das pessoas por elas não te aceitarem:Um cadáver em decomposição.Ame-a porque você sabe,sabe que somente ela te amaria e te aceitaria tal como você é.Todos querem amar e serem amados.Peço que fique,fique aqui.E que me ame.Ame
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sábado, 3 de maio de 2008
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16 comentários:
Recomendação para esse texto: puxe a respiração e prenda. Não há como inspirar e expirar, nem uma única vez, em meio a tanta intensidade e falta de espaço.
Um sucesso, babe!
Peço que fique e que me ame.
Ácido. Um pouco confuso e exagerado.
E de uma beleza quase culposa.Porque é forte, sujo, escuro, triste.Mas belo.
Dor e gozo tem quase o mesmo gosto.
Mui bien... Texto intenso e de sensibilidade única..
Coisas raras
cada palavras com extrema emoção:
"e tantas lágrimas ácidas que lhe corroíam a face dando lhe como cicatrizes algumas rugas."
Muito obrigada pela visita ao meu blog! Fico feliz que tenha gostado,eu também gostei muito dos seus textos!...Com relação ao título do meu blog,ele faz referencia a uma música francesa que adoro''La vie en rose''de Edith Piaf...rsrsrs =*
Vi seu comment no Menina Lunar. Ninguém é o mesmo depois de passar por lá.
Por isso, sua reação. Este post aqui também é intenso. Valeu a viagem. Depois volto pra ler os anteriores.
Meu bjoooooooooo!!!!!
Realmente... também achava que era de Pessoa, mas tive a informação que Alváro Campos que o escreveu e Fernando Pessoa tem levado o crédito, mas ainda vou pesquisar a fundo...
Valeu pela observação...
Seu Blog é muiiiiiitissimo interessante viu????
Um Abraço
acho que assim esta bom.
né?
Lindo e trágico como gliter em pó de vidro.
Lindo e trágico como todo amor.
Translúcido,
maldito amor ordinário.
Uma viagem para dentro.
sádico amor literário!
Ponto.e beijo
Olá, Katrina!
Passei por aqui e gostei do teu blog.
Abraços pernambucanbaianos...
Germano
www.clubedecarteado.blogspot.com
Nossa!!
Letras fortes as tuas! rsrs
Gosto de letras fortes!
Passando também para agradecer sua passagem no meu blog!
Abraços,
Letícia.
Há palavras que parecem escritas com sangue, vindas das entranhas. Estas são assim.
Ah, tu abriste os comentários agora. Leste-me?
abril. comentando. despedaçado e extasiante aos pedaços. prendido entre os dentes após um rasgo certeiro sob a pele. e respira feito um bicho. a presa na boca, os olhos imperativos da posse. ah
a não ser a minha vida...
q bonito isso, viu?
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