[Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus
olhos que são doces
Porque nada poderei dar senão a mágoa de me veres
eternamente exausto
Vinicius de Moraes]Escolheu que aquele dia seria o ideal para se declarar a ela.Uma tarde de sábado,fria com um céu absurdamente nublado,atípico de outros dias.Ela,sentada num banco de uma praça que destoava sua beleza.Era como se esperasse por alguém,todos os sábados,naquela praça até o cair da noite,e sempre fosse esquecida.Era a típica mulher em que se gritava o desejo de ser protegida,que fazia dos homens mais rudes,os mais sensíveis e dedicados.Jamais trocaram palavra alguma,nem o mais singelo e perdido olhar,mas mesmo com tal distância,ele se sentia tão próximo a ela que quase poderia tocá-la.Um toque etéreo.
Decidido,encaminhou-se até ela,temendo que aqueles profundos olhos azuis incandescentes lhe fitasse e lhe tirassem a coragem,tão pouca naquele momento.
Ela,uma visão onírica,perdida em seus pensamentos,ouviu o barulho de passos sobre as folhas secas caídas pelo chão daquela praça.Ele,tão inseguro com a reação que ela poderia ter com o seu gesto,caminhava cada vez mais devagar,esperando que em algum momento,voltasse a ser racional e que desistisse daquele seu plano ridículo de ser declarar a uma estranha,ou que,a espera dela finalmente chegasse ao fim.
Ela,olhando de fininho para aquele que sempre a observara durante tanto tempo,e que,era enfim seu motivo para estar sempre naquela praça,naquele mesmo horário,somente se retirando quando ele se perdia entre as árvores e a noite.Mal acreditava que era ele,ali,vindo em sua direção,em seu encontro.Levantou a face,para poder fixar seus olhos nos olhos amendoados dele e esboçou um sorriso angelical.
Ele,paralizado com aquele olhar tão hipnotizador,e aquele sorriso sublime,convenceu-se de que não seria possível balbuciar palavra alguma a ela.Se sentiu tão inferior,tão fraco e tão humano perante aquela mulher divinizada,que irradiava algo de irreal e de virginal.Teve certeza que ela jamais o amaria,que ela renegasse todo aquele amor nutrido a distância.Ela certamente seria tão superior a ele em tudo,que nem lhe notaria.
Ela,confusa e atônita com a reação dele.Ele,estático á sua frente,como que se estivesse arrependido de ter se dirigido a ela.Se sentiu como a mais renegada das criaturas,que nem poderia merecer um amor platônico,que não poderia ser nunca admirada por alguém.Teve certeza de que ele se enganara em relação a ela,que vira em seus olhos o quão simples ela seria.Comum demais,tola demais.Talvez nem fosse ela quem ele sempre observara,talvez tivesse sido uma outra.Hoje,com o dia tão nublado,o impedira de perceber que estava se dirigindo a pessoa errada.
Ele,ao ver nos olhos dela uma infindável confusão,uma inevitável negação ao seu amor ofertado,deu-lhe as costas e partiu.Não iria resistir ouvir dos lábios dela algo desaprovador,ou pior,que ela nada falasse,apenas se levantasse e o deixasse ali,com tantas coisas a serem ditas,com seus sonhos a lhe caírem um após o outro,a morrerem ali,perante o grande amor de sua vida.Prometeu que não mais voltaria àquela praça.
Ela,teve a certeza ao vê-lo partir,que ele era mais um que amaria,mas que lhe era impossível ser correspondida.Seria sua sina,amar.Sentiu-se ridícula ao acreditar que ele,em algum momento,pensara nela,a amara,e decidira se declarar a ela.Levantou-se,olhou ao redor para ver se ele estaria escondido atrás de alguma árvore,secou as láfgrimas e engoliu toda aquela amarga frustração.Nunca mais voltaria àquela praça.
Ele,se lembraria para sempre daqueles breves instantes em que os olhos dela encontraram os seus tão cansados olhos.Que o sorriso dela,preencheu todo aquele vazio que existia em sua vida.Foi feliz e correspondido,mesmo que brevemente.
Ela,se lembraria para sempre dos passos sobre as folhas secas que a despertaram e que precederam o momento mais inacreditável de sua vida:O homem que sempre amara,ali,em sua frente,olhando fixamente em seus olhos e lhe devolvendo um sorriso débil.Breves instantes que sonharia para sempre.Ela foi feliz,mesmo que ilusioriamente.
*Título temporário ao conto
domingo, 16 de março de 2008
Declaração*
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