Do outro lado da linha a voz diluía-se como o gelo no copo com um resto de coca cola e vodka deste lado da linha, de estômago embrulhado em papel toalha absorvendo todo o amargo de um dia complicado, mais um dia, tantos outros. O outro lado fica em silêncio, ouve-se uma porta rangendo com o vento que, do outro lado da linha, escancara as janelas e derruba um porta retrato vazio, comprado no dia anterior para preencher o espaço vazio da sala com a foto de um casal desconhecido, que no imaginário, era substituído inúmeras vezes. Deste lado da linha continuava, sobre o dia complicado, sobre a vontade de desaparecer completamente em alguma viagem astral ou de bike pelos pampas argentinos. Do outro lado reage, um riso sarcástico quiçá, percebe-se batidas de leve na mesa de madeira, alguma canção antiga ou código morse? Deste lago regurgita mais algumas reclamações, desaba um pouco na intenção de que do outro lado algo seja notado. Xinga, ofende, manda pro inferno e "vai tomar no meio do seu cu", com aquele sotaque mezzo paulista mezzo gaúcho e ri no meio do outro palavrão, e cu tem meio? Do outro lado ri e é claro que não, mas é algo a se pensar. Essa semana eu tentei mais uma vez, deste lado diz, até onde você resistiu? Do outro lado silenciou-se, alguns barulhos na linha indicavam a interferência de uma onda de rádio ou de celular, e ao se estabilizar ouviu-se apenas deste lado uma linha que caía cada vez mais no abismo.
Ninguém precisa fugir da realidade, ela também está em fuga
quarta-feira, 2 de maio de 2012
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4 comentários:
Teus textos me impressionam profundamente, Katrina. É muito bom lê-los :)
o problema é que a resistência não tem limites, por isso xingar pra todos o lados.
A realidade foge e isso assombra .
Gostei do seu cantinho.
Bjos
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