Eu pronuncio teu nome, nesta noite escura,
e teu nome me soa mais distante que nunca. Mais distante que todas as estrelas e mais
dolente que a mansa chuva(Federico Garcia Lorca)
Melhor desnascer do que ver esta cama desarrumada, um vazio permanente e doentio que amassa os lençois tão caros que somente minhas mãos sentiram a delicadeza e a maciez dos linhos intercalados que formam a tua pele alva cálida e alinhada á minha pele apenas.
O quarto revirado tanto quanto eu por dentro e por fora deste corpo-pensamento, mostra as roupas espalhadas pelos cantos da minha memória que são essas suas peças intímas indecifráveis sobre as minhas assim não tão intímas, meus cd's e sonhos quebrados em músicas que nunca mais serão ouvidas inteiras novamente, mas apenas em pedaços que não voltarão mais a serem inteiros, assim talvez como eu e você, em pedaços ainda menores do que nos sobraram dos pedaços que éramos antes de nos encontrarmos inteiros um do outro.
Fotografias rasgadas pela metade nos separam mais ainda do que já estamos, eu em alguma parte esquecido onde teus olhos não podem me alcançar e você debaixo da cama entre a poeira dos dias que foram e a escuridão deste meu peito amargurado e angustiado por viver satisfeito com a metade do seu amor, que não é nem a metade da sua vida.
Nossos sapatos lado a lado denunciam nossos pés nus que caminham por ruas diferentes e que afinal não nos levarão ao mesmo lugar e a lugar algum. A porta que não se fecha e que não se abre inteiramente bate continuadamente de madrugada (com o sol nos meus olhos), insistindo nessa falta tão seca quanto as flores no jarro da mesinha de cabeceira, onde guardo todas as cartas que escrevi e que ecoam tanto quanto as que não escrevi e que agora gritam para serem escritas, mas a quem eu as enviaria se agora o que me resta é uma cama desarrumada pela última vez que
fui mais do que pedaços e poeira
que você foi mais do que roupas espalhadas e músicas quebradas
que fomos mais do que fotografias rasgadas e flores secas
Fomos uma cama desarrumada.
18 comentários:
Genial, arrebatador. Você sabe fazer com que as palavras não sejam apenas palavras, mas lâminas. Tira suspiros e desarruma não só as camas, mas a alma
cama desarrumada... essa sim é uma bela imagem. mesmo que triste.
q rico... bem q eu gostaria de escrever um...
ah, eu gosto dessa musica.
Velho, nao consigo escrever. Nada, nada mesmo. Se isso nao passsar vou escrever sobre direito constitucional e teoria da constituição semana q vem no desce.
Muito boa construção e o que dela pulsa. Tocante...
a musica, o tema, a poesia... tudo muito sensível e excitante, mesmo que triste às vezes...
grande abraço!
É verdade que não te visito mais. É verdade também que não leio mais ninguém além do Hugo. Hoje cedo eu passei por aqui e quis ler e não li. Agora eu vim aqui e li e chorei. TPM unida a Iron & Wine dá nisso. São desculpas pra não falar que me identifiquei. Minha cama ainda está desarrumada, poeira fora e dentro, papel picado dos ossos são minhas fotografias rasgadas.
E faz favor de mudar essa bio aí. Seu eu escritor + fracasso gera contradição.
Putz! Desarrumou geral, Katrina.
Sem fôlego, além da cama, as imagens e as sensações me desarrumaram. E você escreve mais a cada texto.
que droga ser uma cama desarrumada.
e fomos.
Amei seu conto, sério!
não conhecia o MOJO, achei uma idéia fantástica.
beijos
Texto forte, com ótimo jogo de palavras. E há presença de emoção, vejo imagens abstratas.
Acho que todos nós temos um dia, um momento, um tempo de cama desarrumada.
Parece que é hora de arrumar a cama!
FODA!
tanto mais ao som de Piazzolla.
E me desarrumei inteira ao ler..
Uma cama desarrumada.. E um coração pulsando...
...
Beijos
cola com cuspe!
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