Abriu o portão e pegou as ruas, pegou como se fossem maleáveis, tal como se moldasse um caminho por entre elas com a ponta dos seus pés de falsa bailarina na corda bamba do desespero. Não olhou muito para a frente nem para os lados. Queria apenas olhar para a calçada, pular os quadrados em preto e branco, sim e não. Ainda restava um pouco do dia, o sol quase morrendo sobre sua cabeça, pesada de preocupações. Estava assim, e não estava. Uma sombra deslizando pelas paredes, quase escorrendo pelas calçadas até os bueiros.
Riu, riu um pouco da própria imagem que se imaginava ser. Algo como uma mulher muito bem vestida e muito bem maquiada mas com os saltos gastos e quase quebrados, indo em linha reta a qualquer lugar em que a vejam não como uma mulher muito bem vestida e muito bem maquiada mas com os saltos gastos e quase quebrados, mas como uma mulher miserável em trajes patéticos e com o rosto numa caricatura circense que precisava de ajuda para carregar o peso das lágrimas que, inutilmente, segurava em seus olhos. Mas ainda seria para todos os que passavam ao seu lado a mulher muito bem vestida e muito bem maquiada mas com os saltos gastos e quase quebrados que, sem motivo nenhum, se jogara na frente do primeiro carro que vira.
Mas a tristeza, ah, ela é invisível a olhos que não sejam os que a carregam.
segunda-feira, 11 de maio de 2009
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4 comentários:
Esse texto me fez pensar se somos aquilo imaginamos ser. Talvez sejamos uma pessoa diferente na cabeça de cada um que conhecemos, inclusive na nossa mesmo. E o finalzinho do texto, "mas a tristeza, ah, ela é invisível a olhos que não sejam os que a carregam."
Nem sempre verdade, mas amei a frase!
Bjs!
Tão profundo, tudo que tu escreve é bem profundo. *--*
amei.
beijos.
a felicidade do pobre parece a grande alegria do carnaval. e se o amor é uma fantasia, eu me encontro em pleno carnaval.
"Mas a tristeza, ah, ela é invisível a olhos que não sejam os que a carregam."
Po, mto foda
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