Em horas inda louras, lindasColorindas e Belindas, brandasBrincam no tempo das berlindasAs vindas vendo das varandasDe onde ouvem vir e rir as vindasFitam a fio as frias bandasMas em torno à tarde se entorna A atordoar o ar que ardeQue a eterna tarde já não torna!E em tom de atoarda todo o alardeDo adornado ardor transtornaNo ar de torpor da tarda tardeE há nevoentos desencantosDos encantos dos pensamentosNos santos lentos dos recantosDos bentos cantos dos conventos...Prantos de intentos, lentos, tantosQue encantam os atentos ventos.(Fernando Pessoa - Ficções do Interlúdio)Colore em tons carmins os meus olhos com os teus lábios entrabertos em breves sorrisos que arrastam essa tarde e trazem tão logo a branda lua que se espelha em teu corpo. Você leve como qualquer coisa que deixa-se levar pelo simples movimento do vento, tão leve como a nossa infância que se esconde nos rabiscos pelas ruas, das berlindas e das amarelinhas, onde eu não sabia que o inferno era jamais ter conhecido ou jogado a pedrinha no céu. O inferno era sentir aquelas tardes se evaporarem, agora somente a neblina sobre nossas cabeças, inalcansável, da qual eu respiro e sinto arder longamente em minha memória em preto e branco, tons de poeira em sépia(e porque não se pode voltar a saborear a felicidade?). E em algum devaneio que assombra meus torpes olhos, estes meus ouvidos surdos de santidades, você vem flutuando e dançando dentro e muito mais além dos meus sonhos, em algo que parece e talvez seja uma oração a um Deus muito maior do que se é trancafiado dentro de todos os templos do Universo.
Mas ele cabe exatamente dentro do nosso peito.
3 comentários:
lábios tímidos entreabertos são tudo.
fiquei afim de comprar um livro do Pessoa hoje, bonitos versos.
Mas aí comprei o Trilogia Suja de Havana, não tinha aqui em casa, tinha que ter o livro do Pedro gostoso, óbvio que sim.
Gostei.
Adorei o blog Katrina. Voltarei mais vezes.
Obrigado pela visita ao Divã ;)
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