Para Erik.
Ainda é vívida a lembrança daquele Astor, tocado num dia estranho na subida da rua Augusta, do seu braço envolvendo a minha cintura, movimento impensado talvez, com medo de me perder naquele instante entre um Adíos Nonino e Por una cabeza, que eu pedi com certa insistência para guardar para a posterioridade, mas que você nunca soube, que eu seria sua para sempre a partir daquele instante. Eu também fui sua dentro daquele ônibus onde, eu tremia de medo pelo acidente a nossa frente, talvez provocado pela minha insistência de não perder o ponto, mas meu destino era exatamente aquele, onde você acomodaria minha cabeça em seu ombro e cantaria em meu ouvido o que hoje é a música da qual me acalma, apesar dos soluços provocados pela sua falta. Fui sua em cada espera, em cada volta. Em cada esquina da consolação, em cada rua do centro. Na minha rodoviária, na sua estação de trem. Fui sua em cada cômodo, em cada pedaço. Em cada dia de chuva eu também fui sua, assim como em cada dia de sol. Até quando meu humor se ausentava e minha amargura destilava o meu veneno sobre você, eu também fui sua.
Fui sua até quando não era, e esperava para que fosse.
(e ainda sou, mesmo achando justo não o mais ser)
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Seguimento linear adjacente.
Você sorriu e deixou cair dos seus lábios muitas verdades das quais prefiro me deitar com as mentiras
bêbadas
embaladas por muitos planos retângulos
móbile
sonhos de padaria.
bêbadas
embaladas por muitos planos retângulos
móbile
sonhos de padaria.
domingo, 5 de setembro de 2010
Quando se lembrares do que é, já terá sido outra.
"Alguns doutos em ciências descobriram que quanto maior o intestino, mais místico o indivíduo. E quem mais místico que Deus? Grande Intestino, orai por nós."
Hilda Hilst
Hilda Hilst
Você me pergunta porque eu não enlouqueço, esqueço de dizer que eu só queria morrer por hoje e fechar a conta, mas o garçom oferece mais uma cerveja. Você esquece que estou rindo e se compadece dessa minha dor em suaves linhas num papel , mais aparentes do que as linhas que disfarço com maquiagem. Segura a minha mão e massageia o vão entre os meus dedos, fica dizendo das coisas que sonhou para nós e que por um triz, eu não percebi a tempo. Digo: "há vários pontos de convergência entre nós, principalmente do meu ponto de partida e o seu de chegada. Talvez eu esteja mesmo anos-luz de você e o que você tem em sua cama é apenas um espectro do que o meu passado deixou para trás" Você vai retirando camada por camada dos pós do meu rosto, desde o compacto até a mais fina poeira do dia a dia, mas não consegue ver o meu rosto por hoje, além de um intenso labirinto onde dois olhos te pedem socorro mas que você entende que querem apenas que você me foda mais do que a vida. Prefere ouvir os lábios entre as minhas pernas do que os que resmugam sobre a dívida no banco & como o dia a dia tem me retido aos poucos mas
você acha que eu vou morrer, eu lamento profundamente em não acreditar mais nisso.
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