domingo, 29 de novembro de 2009

O dono dos finais.

Pego as coisas pelo meio, puxo um começo mas acabo sempre é no fim. Por ser avesso a começos, acabei me tornando especialista em finais, os melhores possíveis, é só escolher. Prometo sempre que jamais farei chorar, caso não queria isso, mas caso seja uma romântica absurdamente desenfreiada, não garanto que possa ser o cara que vá segurar no teu volante e pisar no freio. Geralmente eu sou o cara que gosta de te ver perdendo o controle sob sua vida, aquele mesmo filho da puta que vai fingir que você nunca existiu em seu passado e que não vai te mandar flores, a não ser que você esteja morta e me dê motivos para isso. Desculpe-me, mas minha sensibilidade fica apenas entre minhas pernas, ás vezes, ela também se esconde atrás do meu pescoço, depende de como você quer que seja. Minhas lágrimas, só no final do ano, se meu time perde o campeonato que estava quase ali, em suas mãos. Ou se você se irritar e me der um belo chute no saco.
Mas se você for igualmente cretina, quer dizer, se você for daquelas que não se importam com declarações de amor porque, o amor está morto a muito tempo e a melhor maneira de festejar sua morte é dando para todos sem a menor modéstia, sem a menor esperança de encontrar aquele príncipe encantado, aquele cara que a sua mãe vive rezando para que apareça na sua vida, então por favor, me procure. Tenho o melhor final para esse tipo de relação. A gente começa pelo meio, da parte onde já nos conhecemos a muito tempo, e por já nos conhecermos, já nos tornamos íntimos suficientes para uma cama e todas as posições para todos os jogos. Depois, por algum motivo que não saberemos nunca, você vai saber que eu não sou o seu príncipe encantado e nem você é a futura mãe dos meus filhos, usei camisinha e você rasgou o útero. Mas sorriremos, trocaremos telefones, talvez eu lhe faça aquela promessa, te ligo amanhã, você vai sorrir e responderá, ligue mesmo e a gente marca alguma coisa prá sexta feira. Mas o nosso final sempre foi esse, não vou te ligar e você não vai ficar esperando pelo telefonema, porque vai estar com outro cara fazendo o joguinho de mulher que AINDA espera pelo príncipe encantado, e olha só, pode ser você, cara de sorte.
Não procuro finais melhores do que este, sabe, eu gosto de ser o dono dos meus finais. Talvez nem Deus se meta nos meus finais, ele não é louco. Ou me esqueceu, também esqueci ele, estamos igualmente quites.
Se me derem licença, a cama me chama. Um cigarro aceso, os lençoís fora do lugar. Mas sou cavalheiro, não direi jamais quem fez isso.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Ressaca urbana.

Despertou com um forte arrepio pelo corpo, como se inúmeros insetos percorressem demoradamente a sua pele, mas achou que fosse somente o típico frio de uma manhã de segunda feira. Tentou se levantar, mas era como se sua cama fosse um grande imã que a atraía de tal forma que, qualquer esforço seria meramente em vão. Lutou para que uma das pernas pudessem ficar para fora da cama, enquanto a outra lentamente se desgrudava dos lençóis. Após uma verdadeira batalha dantesca, conseguiu enfim apoiar os dois pés no chão e se arrastar até o banheiro para tomar banho, mas no meio do caminho, entre a sala e a cozinha, pôs para fora todo o resultado de um domingo entre quase amigos e desconhecidos agradáveis. Resmungou entre um pano sujo e um rodo jamais utilizado que aquela segunda feira seria uma merda.

- Mas que ressaca da porra!

Vestiu-se numa velocidade quase maior do que a com que o relógio marcava o seu atraso. Sua pontualidade ainda era britânica, seu chefe é que não se acostumara ainda com o fuso horário. Pegou as chaves e a bolsa, bateu todas as portas ás suas costas. Esqueceu sobre a cama a carteira e toda a sua maquiagem. Acabou deixando a si mesma sobre a cama, sem perceber.

Correu pelas ruas acumulando sobre si a poeira do cotidiano daquela cidade que parecia engolir a todos, um grande triturador de sonhos e pensamentos. Um liquidificador de sentimentos e planos sobre as suas imensas avenidas retas e sujas de asfalto. Precisava chegar a tempo em seu emprego, não era a primeira vez que corria contra o tempo mas era a primeira vez que sentia que seria inútil, que talvez não conseguisse chegar lá, sensação tão certa quanto o estômago revirado e a cabeça dolorida. Como se os seus próprios pensamentos fossem os causadores daquilo.
Não adiantaria pegar um ônibus, mesmo que quisesse, a cidade estava emaranhada em um trânsito caótico e infernal. O que lhe restava era correr até chegar a uma estação de metrô e ter a sorte de não precisar enfrentar fila alguma. Seus sapatos novos pareciam desgastados demais, sua roupa branca parecia refletir o asfalto, num tom de cinza muito parecido com os seus olhos da cor do céu que anunciava algum fim, talvez do dia. Lembrou-se que estava sem maquiagem, o rosto limpo de qualquer mentira, era ela, uma mulher atrasada para tudo. Principalmente para si mesma. Olhou novamente para o relógio, amaldiçoou mais uma vez a ressaca, o trânsito, o sinal que não abria nunca. Talvez tivesse sorte se corresse.

E correndo não percebeu que o trânsito então, como um laço mal feito, se desatou de repente, e ela, um mísero ponto tão cinza quanto a rua, cinza como seus olhos que anunciavam algum fim, estava no meio de todo o movimento das rodas, dentro do coração selvagem de pedra que pulsava. Viu apenas como um borrão vermelho, algo a se aproximar tão rapidamente de si que a atravessara. Apenas sentiu o seu corpo estar tão leve que poderia voar sobre todos aqueles carros e cair delicadamente sobre o asfalto quente e seco. Ouviu ao longe pessoas gritando, buzinas enlouquecidas e passos quebrando mais ainda o seu corpo. Não sabia o que estava acontecendo exatamente, mas sabia que chegaria muito atrasada e que certamente seu chefe lhe daria um aviso prévio, então, esse era o fim. Não conseguia abrir os olhos para se certificar se estava próxima ao prédio do seu trabalho, o sol queimava seus cílios e algo a impedia de abri-los. Ouviu quase que surdamente algumas sirenes e, quando finalmente conseguiu, com esforço igual ao que teve ao se levantar, abrir um dos olhos, viu ao seu redor várias pessoas e algumas câmeras.
Estava atrasada, estava suja, estava esticada dilascerada numa avenida, estava sem maquiagem e ainda por cima queriam fotografá-la. Amaldiçoou a todos, mas principalmente a ela mesma, por ter esquecido o seu estojo de maquiagem sobre a cama.
Não queria aparecer assim, na capa de qualquer jornal, como se estivesse morta. Só estava com ressaca, só isso.

-Mas que ressaca da porra! - disse, antes do seu dia terminar.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

She took a long cold look

Ficou sorrindo como se um elefante pudesse se dissolver em seus lábios enquanto eu apenas continuava a bater uma como se fosse o pai dela. Eu lembro dela perguntando a todo momento se estávamos doidões, eu adoraria, dizia, que tívessemos mesmo um motivo para isso, mas você nunca trás nada além do seu madcap laughs debaixo das pernas, quer dizer, acho que podemos ficar bem doidões só com isso e alguns hi-fis, o que acha?
Ela era fraca para bebidas, careta demais para drogas, mas fingia overdoses ouvindo Syd Barret para me agradar, não sei, queria matar minhas saudades da época em que eu ficava chapado só de me lembrar de woodstock. Geração saúde, menina, sou o garotão de 50 anos que abandonou o pozinho e a picadinha para encher a cara de jack daniels sem gelo enquanto me masturbo ouvindo meus lp's raros, prá jogar na cara dos jovens que nem você que o som deles é melhor, qualidade saca?
Lembro que lhe pedia que não fechasse os olhos, não importa se você vai gozar em instantes, continua com a porra dos olhos bem abertos, eu pedia, the beauty of love's in her eyes,
She was long gone long, long gone
eu te amo, ouvi bem perto do meu ouvido, procurei seus cabelos por toda a cama, apalpei entre minhas pernas e mesmo assim não encontrava seus cabelos para um carinho, eu queria ir abrindo eles, na verdade, deixando que eles se escondessem entre meus dedos até que sua orelha aparecesse, eu a morderia na pontinha para que você estremecesse e aí sim, encostaria a minha voz em sua imaginação e diria o quanto eu te amo minha garota. Mas você estava estendida no chão rindo, rainha de copas a espera de Alice.
Eu tinha o sorriso do gato de Alice, talvez lhe faltasse mais coração para ser a rainha.
-Syd poderia ser o chapeleiro maluco?

-Tá louca? Ele sabe dos caminhos, eles nos trouxe aqui. Ele é o coelho branco, a porra do coelho mais branco que existe.
- Ele brilha em nós.

-E você está louca.

Ela sabia que eu odiava esse papinho romantizado em falsete, eu tava velho demais prá loucuras assim e ainda mais sem porra nenhuma. Mas naquela incessante gargalhada ela só me pediu, entre um gole de ar e outro, que a chupasse.
-E por favor, seja romântico.

E fui, faixa 3, volume baixinho.

Honey love you, honey little,
honey funny sunny morning
love you more funny love in the skyline baby
ice-cream 'scuse me,
I've seen you looking good the other evening

(cantei bem perto daqueles lábios enfurecidos de juventude. Não me importei se a porra dos olhos dela estavam abertos enquanto gozou)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Antologia de uma escritora fracassada

De Francisco Jamess, com minha co autoria involuntária de um leito hospitalar


“To com 40 de
febre. Se morrer
fica com os
meus livros e
prepara uma
antologia de
tudo o que eu
escrevi?

Remetente:
Katrina

Enviada:
19/11/2009
07:32:20 pm”

“Claro, pode
deixar comigo.
Eu cuido de tudo.
Mas sua
antologia vai ser
muito maior,
meu. E os textos
de quando voce
for uma velha
brava com
problema de
pulmao serao
imortais.

Enviada a:
Katrina

Data e hora:
19/11/2009
07:37:36 pm”

eu acho mesmo que ela ainda escreverá
algo vivo, de vida mais longa
que os 60, talvez 70 anos
que o cigarro a deixará viver.

há uma senhora de 75 anos
que vive cachimbando na calçada
de frente pra minha casa

ela provavelmente morrerá
de velhice.


(Pena Jamess, que eu ainda não escrevi um poema para a antologia)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Aviso a New Orleans

Co autoria de Leandro (não menos do que minha metade)


Verbalizo os seus encantos e os seus desejos de afrodite. Deixo solto o compasso. Você alcança as nuvens em seu samba enredo, ficamos afoitos no chão te aguardando. Não temos o seu tempo, o tempo de um suspiro, estamos atrás enquanto você passa. Eles comem os sonhos de padaria e nós lambemos os dedos sujos de sangue.
Sangue do nosso ventre

[dos nossos dedos rasgados de imperfeições & fracassos contínuos mas que usamos nesse nosso sexo selvagem solitário com as palavras
Pegamos amores emprestados e lhes damos corpo e alma mas só até o próximo ponto final
onde senhores de nossas míseras verdades mais do que falsas
lhe damos um tiro a queima roupas com um sorriso de satisfação
e ressussitamos
num proximo poema
talvez?.]

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Louca.


(Jamess me vê através de traços de giz)

quando você declama poesias em cima de
uma cadeira de bar
e recebe aplausos tímidos
e um bêbado beija sua mão em reverência

quando você tenta ligar para a Duda Rabuda
num orelhão em frente ao prédio do INSS
e constata que ela só pode estar dando
pois não atende o telefone
e você vê um mendigo sobre o viaduto
contemplando os carros da avenida à noite
o olha nos olhos
e ele te estende uma garrafa de aguardente
depois de um "oi" gutural

e você nota um grupo de pessoas vestindo panos longos
um manco, um velho e algumas mulheres
vestindo panos e cordas
e uma criança entre eles
menina ágil e curiosa sobre estas duas pessoas do mundo
que corre a ver a foto digital que você tirou
do grupo
depois de um pedido anormalmente espontâneo
de sua parte
e você aprende um sinal de paz
dessa religião esquecida
e lhes agradece com sorrisos
e zomba de um crente na praça da Sé
que te responde furioso
"hoje você zomba, amanhã você desce!"

e você se senta na escadaria da igreja
e fotografa lixeiros
velhos
e um indigente solitário
e tira poesia de uma vendedora de amendoins no trem
e depois disso me diz
"tenho medo de você
você é louco..."
eu me rio satisfeito
pois com este espírito
talvez um dia você me alcance
e jogue fora sua TV

ou quiçá você a continue assistindo
e isso te torne mais louca
que eu.

(Francisco Jamess, que além de ser um dos melhores poetas com quem tive a oportunidade de dividir cervejas, risadas e desabafos em escadarias da Sé, por pura obra do destino, é meu melhor amigo também)

domingo, 15 de novembro de 2009

Revolta cubista.

(Tete Domo - Picasso)


Inimigos da saudade
Inimigos das lágrimas
Inimigos de tudo o que eu amo ainda
(Apollinaire)




Você me pintou de uma maneira tão real que agora ao me ver em suas tintas percebo os borrões em que me tornei, a imagem dos teus dedos não é a mesma do meu espelho, no vai e vem de decompor e recompor a realidade, que escorre pelos ralos como meus pedaços fragmentados por suas lâminas, palavras. Cores vivas que morrem em cada suspiro.
Desconfio amargamente de que estaremos cada qual em sua Babel, no alto da torre gritando coisas das quais nunca conseguiremos entender ou coisas das quais preferimos não entender, no final serão sempre algumas pinceladas violentas numa tela que sangra sem entender.
O teu sorriso quebrado & espalhado pelos cantos da minha tela
fascina.

Pela socialização do conhecimento.

Minha estréia no famigerado blog PARECE MENTIRA MAS NÃO É

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Nota abstrata.

Para o amor que não cabe em palavras ou tristeza.

Tirei meus soldadinhos de chumbo das caixas para que eles vissem o mundo pelo qual eles deveriam lutar e vi em seus rostos que estavam exaustos de matar essa minha infância que insiste em me visitar. Sequei as últimas lágrimas da noite mas que seriam as primeiras da manhã em eu soube que seria devorada por um vazio maior do que se encontra pelas ruas e elas gentilmente me ouviram como ouviriam qualquer um que lhes dessem a atenção necessária para também as ouvirem em sua linguagem amarga e triste, composta de miséria humana, remorso e fracasso com uma nota de violência. Eu poderia tocar qualquer samba, em prelúdio quem sabe até em interlúdio & ele poderia soar como uma benção de algum sábio louco ou obsceno como uma profecia que anunciava desde sempre a sua vinda à minha vida para que a roubasse momentaneamente sem que eu a percebesse, porque até então, eu não sentia a falta da minha vida ausente pelos cantos.
E mesmo que de volta, a vida
me olha como estranha.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Sob uma lua de tango.

Você acorda meu corpo de todas as promessas e imperfeições desse mundo amassado dentro da minha cabeça com seu cheiro agradável dos maços de cigarros que comprei na noite passada e que roubou alguns como roubou boa parte de mim, e canta em meu ouvido nossos velhos tangos de amor, desse que se foi há muito tempo atrás sem nos dizer adeus. Acompanho suas pernas que envolvem as minhas e as tragam num suspiro único como Gardel jamais conseguiria fazer
agora estátuta de pedra, não diferente de nós, num último tango silenciado por um cigarro que acabou e que espera encontrar outro para preencher esse vazio de todas as canções.
Em algum lugar desejaria que eu fosse quem ama
mas não desejaria que fosse ninguém, se já é quem eu amo e o universo todo já se estremesse em paz ao sentir isso.

Então vou almejar um céu do qual possamos compartilhar já que somos pó perante tudo, perante a essa estrada em que nos perdemos e que tantos outros se perdem e chamam diariamente de vida, e a minha se torna um pouco menos vida, muito mais destino, ao cruzar meus passos aos seus sob uma lua de tango & dizer com a voz embriagada de nostalgia que você me conduz para dentro dos meus sonhos de Ícaro sem nenhum medo de alcançar o sol
& mesmo Ícaro de asas de carne e sorriso infantil
eu me derreteria por você.

Presente

Obrigada Junker pelo presente *-*
Um desenho com uma máquina onde eu mato pombos, uma xícara de café, um cigarrinho e HENRY MILER MALANDRÃO E GOSTOSÃO é daqueles presentes dos quais eu nunquinha vou me esquecer, mesmo.

Obrigada também, Luna, Hugo, Rafael, Leandro, Junker e Bernardo, por abraçarem a minha ideia absurda (da qual em breve todo mundo já vai saber).

Enfim, é o basiquê.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Do final, não muito longe do começo

Jamais acreditaríamos no final, mas finais existem e finais sempre vão ter algo de triste, algo de perdido, algo de jamais ter chegado ao paraíso e sentir finalmente que tudo valeu a pena. Mas agora eu só sinto os seus abraços cada vez mais distantes dos meus e se eles se encontram, é como se envolvéssemos o nada. Você sente os meus lábios mais frios e mais rígidos, eu sinto o seu coração cada vez mais fechado ás minhas palavras de carinho e eu me sinto cada vez mais falso ao pronunciá-las. Seu corpo vai se tornando cada vez mais seu e o meu corpo vai perdendo cada vez mais o resto do seu, então, a gente começa acreditar mesmo que isso é o final.

Eu não disse que seria, você nunca soube que seria, então vamos pagando esse preço caro que é viver os últimos dias como se eles fossem os primeiros dias: dois estranhos numa tentativa de se conhecerem numa cama enquanto tentam se esquecer do que já viveram com outros, sem nenhum êxito ao passo que precisam se agarrar aos outros ontens, procurando um no outro algo a se amar, algo no que acreditar. Mas encontramos dois corpos cansados e tristes que se repelem no espaço universal de uma cama.

Eu queria que fosse, você sempre quis que tivesse sido, então só nos resta esses pedaços que deixamos para trás, alguns sorrisos, algumas sinceridades,umas lágrimas de felicidade e aquelas surpresas agradáveis. Mas o que ficou, o que nos restou mesmo, foi esses sorrisos falsos e sarcásticos, essas sinceridades sinceras demais, essas lágrimas após brigas intermináveis e essas surpresas desagradáveis.

Eu tentei vencer, você achou que já houvessemos vencido, mas estamos nessa batalha ainda. Fechamos nossos olhos e por instantes, somos novamente tudo o que jamais deveríamos ter deixado de ser, mas então acordamos, não te reconheço e você finge o mesmo e é isso que seria o resumo desse pesadelo que vivemos. Me pergunto como isso foi nos acontecer mas são seus olhos sem maquiagem que me respondem com a mesma pergunta. Só nos restam proclamar o fim, mas o fim do quê, se já ultrapassamos todos os pontos finais e finais felizes que existem?

Mas não acreditamos em finais se ainda estamos não muito longe do começo.

domingo, 8 de novembro de 2009

Você tranca o planeta

Os acasos não me assustam
são eles que se assustam
com o que eu faço.

Domestico minhas vontades para não ser mais uma mera personagem da epopéia amorosa, sambinha cretino que toca no rádio & no coração
em noites ilustradas em que a garoa
me molha de você.

(que tranca o universo & joga a chave fora)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A comédia dos erros

Para Hugo, que me cedeu seu apóio logístico.


Para onde vão os trens meu pai?
Para Mahal, Tami, para Camiri, espaços no mapa, e depois o pai ria: Também para lugar nenhum, meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem tu não te moves de ti
( Hilda Hilst)



Dante ardia em febre enquanto descia brincando o inferno & você me queima como se fosse Nero tocando suas canções intermináveis sobre o dia em que o amor pegou suas malas e saiu de férias. Maomé delirava enquanto sua voz desenhava o alcorão e Moisés riu amargamente das leis que nos prenderiam para sempre numa tábua de mármore
e eu tenho dado as mesmas amargas risadas por ter me prendido para sempre dentro de você
que me arranca como parasita, que arrasta meus cândidos sonhos pelo chão até que sobre apenas a intenção de sonhar, mas sonhar tem me cansado muito.

Prefiro a ilusão que provém dessa loucura que percorre minha pele & faz você delirar.
(O último cigarro apagado não é mais especial porque não nos é dado saber ser ele o último ou o primeiro de um maço longinquo
porque interminável)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

A verdadeira causa

Estranhou aquele homem em sua cama, olhando perdido para o teto. Não, seu marido não lhe pediria para ficar de quatro e muito menos pediria que ela lhe chupasse e talvez ela também não seria ela mesma, não teria gostado da idéia de se submeter a uma posição humilhante e não teria jamais gostado do sabor do sêmen do marido. Casada a tanto tempo com ele, já se acostumara ao tradicional pai e mamãe de final de semana, sem muitos pormenores, ele gozava e ela fingia feliz, porque nas revistas se falavam tanto do tal orgasmo piscológico da mulher que chegou um ponto em que acreditara que, ao ver o marido gozando, poderia gozar em simplesmente saber que ele havia gozado, sem nunca ter experimentado a sensação que sentira. Sorriu envergonhada para o marido que retribuíra o sorriso. Antes mesmo que ela comentasse algo sobre o que lhes ocorrera, o marido já procurava os seus lábios, os que escondia com recato sob os lençoís.

Sorriu para a esposa, que pela primeira vez esboçava o sorriso da mulher mais feliz do mundo. Tentou naquela noite tudo o que sempre quisera e jamais tivera o mínimo de coragem para fazer. Não se importou se a esposa se sentiria ofendida, mandaria ela e seu moralismo de merda para o inferno se fosse necessário. Foi até a cozinha e trouxe para o quarto a garrafa de vodka que comprara. Bebeu metade e a outra jogou sobre o corpo da mulher, que olhava extasiada como se Deus tivesse finalmente ouvido suas preces. Nunca imaginaram, ambos, que houvesse tanta luxúria adormecida em quase 20 anos.

Levantou-se, beijou sua mulher nos lábios ofegantes, abriu a gaveta e tirou o maço de cigarros antes que ela percebesse. Olhava meio amargo pro maço em suas mãos, marlboro vermelho, comprou só porque gostava da cor. Nunca havia fumado, mas por indicação dos amigos, queria experimentar a sensação de fumar um após o sexo. Por indicação do médico, ele não deveria ter comprado esse cigarro, deveria se manter longe do alcool e deles. Esforços físicos também, riscados. Nos dedos contou, sem tudo isso 6 meses, com tudo isso uns 3 meses. Um sopro no coração, mas nem sentia nada ventando dentro dele. A mulher que insistira no check up, achava ele meio desanimado prá tudo, desconfiava que fosse vermes, e agora, com o maço em mãos, sabia que não era. Tentou abrir, puxou o lacre, desdobrou as abas. Estavam lá dispostos 20 cigarros do mais exemplar filtro vermelho. Olhou para baixo da varanda, uns 10 andares, crianças jogando bola sob refletores. Puxou um dos cigarros, mas não conseguia o retirar, tentou mais uma vez sem êxito. 6-3= 3 o que dava 91 dias que perdera em apenas 9 horas, e esse cigarro que não quer sair, e dá umas palmadas no fundo da embalagem, os cigarros caem, ele tenta agarrar algum, perde o equílibrio.

As crianças gritam horrorizadas, o homem nu esborrachado no chão tem um sorriso débil. Entre os dedos, um cigarro que não teve tempo de acender.

Até hoje, a mulher culpa os cigarros, foi por causa deles que ele morreu.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Nosso homem em Havana


Quem acha que o melhor de Cuba são seus charutos e seu rum, está completamente enganado. O melhor de Cuba atende pelo nome de Pedro Juan Gutierréz, um senhor já sem cabelos, todo tatuado, viciado em rum, charutos e sexo. Ah, e antes que eu me esqueça, um dos maiores nomes da literatura latina.

Gutierrez escreve, sim, livros com altas doses – e muitas páginas – de sexo. Mas sua obra vai além. Revela a realidade escondida sob o véu da prosperidade socialista de Cuba, há muito tempo desmascarada com as denúncias de corrupção e miséria espalhada pelas ruas de Havana e a apenas 150 km do País das Maravilhas, vulgo, EUA. Mas não se define como um crítico e afirma que não tenta denunciar nada em seus livros. Só é verdadeiro, nada mais do que isso.
As contradições de Cuba são inúmeras, o país tem um alto nível de adultos alfabetizados mas seu sistema de ensino é falido, tem industrias estatais mas ainda seu PIB provém da agricultura e exportação de charutos e rum, a população venera Fidel mas odeia o regime socialista. É a partir disso que Gutierrez cria suas histórias imaginárias sobre a mais crua e perversa realidade além das suas janelas. Gutiérrez passa bem longe da cartilha dos companheiros socialistas, a desgraça que ele expõe no que escreve, de certa forma poderia acontecer em boa parte do mundo capitalista e não ter como cenário a esplendorosa Havana.

A verdade é que não é fácil ler Gutierrez. Não que seus livros sejam complexos, pelo contrário, são de uma simplicidade encantadora, mas o que os tornam difíceis é a maneira pela qual ele submete seus leitores. Ele tenta provocar as mais terríveis aversões, para que no final, o leitor acabe se rendendo e pedindo por mais e mais. Outra coisa a se falar, é o seu lirismo. Além de escritor/contista/cronista/jornalista/pintor, Pedro também é poeta, e a todo momento, introduz sua poesia entre as pernas de sua prosa, até que ocorra o mais sublime orgasmo.

Seguinte, resumidamente: Pedro mata a cobra e mostra o pau, com exibicionismo. Cutuca as onças com varas curtas (ou longas, como preferirem) e as hipnotiza (com a vara, se preferirem). Suas putas são as mais fiéis mulheres, as respeitadas mulheres da alta sociedade desejam ser putas, seus charutos causam alucinações, seu rum se torna seu melhor amigo, a política é um cancêr e o sexo é algo totalmente secundário, mas ainda sim, a melhor forma de escape para tudo. Apesar de ser extremamente comparado a Bukowski, do qual ele afirma que só começou a ler depois de ter escrito sua obra prima "Trilogia suja de Havana", ele consegue ser superior a Chinaski em veracidade (mesmo que transforme o homem aranha num heroí preguiçoso e viciado em sexo selvagem, comendo qualquer mulher que passe em sua frente)
Trechos a seguir (roubados) da revista da cultura, em 08/08
Em O Rei de Havana, por exemplo, há cenas de sexo a cada quatro páginas, mas a angústia do protagonista vem de sua condição social, não de sua luxúria. A sexualidade é um componente importante em seu trabalho, mas você não pensa que as análises que colocam o sexo como ponto central de sua obra sejam reducionistas? É exatamente isso. Essa novela é um estudo sobre a miséria, a pobreza extrema e o círculo vicioso a que estamos presos. O sexo é secundário. É tudo o que o personagem principal tem para ele mesmo, é uma forma de exercer algum poder – e ele o faz de modo inconsciente. Não sei bem. Foi uma novela que escrevi de uma maneira estranha, sem pensar. E agora não posso explicar.

Você diz que não escreve sobre política. Mas é impossível não pensar em uma micropolítica do cotidiano quando se lê O Rei de Havana, ou O insaciável homem aranha. Nesse último, a história dos acrobatas que são interrompidos pela polícia é uma metáfora interessante sobre a intervenção do socialismo no âmbito privado, não? Cada um lê o que quer em um livro e faz sua própria leitura! Os antropólogos encontram antropologia em meus livros. Os jornalistas, crônicas da vida cotidiana. Os obsessivos sexuais, luxúria. Os políticos encontram política. Eu vejo histórias interessantes de gente em situação-limite.

E da literatura internacional, quem seriam seus eleitos? Para mim, Franz Kafka e Julio Cortázar são os dois maiores escritores do mundo. Além deles, comparo minha condição de escritor censurado em meu país com a de Fiódor Dostoiévski de Crime e Castigo. Ele escreveu esse romance sob a dominação do czar e vivendo no subúrbio de Moscou. Mesmo assim, em vez de fazer um panfleto político, criou uma novela policial, como eu, que em vez de fazer os personagens sofrerem, os boto para trepar".
Por essas e outras, só me resta bater palmas ao Pedrito (e bateria outras coisas também, porque não sou boba, haha)


Post dedicado a outra amante desse cubano, Dona Adriana Gehlen

domingo, 1 de novembro de 2009

Viva o lado coca cola da vida.

(Arquivo pessoal)

Metaforicamente falando, óbvio.