sexta-feira, 22 de julho de 2011

Anti-história.

C. telefona histérica dentro de um ônibus (ou metrô) e suas últimas palavras eram pequenos palavrões que esperaram por anos até aqueles 2:05 de conversa numa ligação a cobrar. Do outro lado ele limpava as lentes dos óculos em sua camisa engordurada pelo balcão do bar da família (carinhosamente chamado de restaurante) e pregaria os olhos (sem as lentes) na rua que ali desembocava na porta de entrada (e era uma avenida semi estrada, como muitas coisas naquela cidade, sempre semi, nunca completas).

A sensação de vazio que ia sentido a cada adeus que C. gritava ao telefone (que ele amargamente concordava e pedia para que não desligasse, não agora, diz mais uma vez adeus porque eu não sei, mas diz mais uma vez e continua, por favor) foi preenchido pelo verdadeiro vazio das mesas onde ele, um pouco mais jovem, se imaginava sentado em cada uma com C. e lhe descreveria como imaginava aquele momento, naquele bar semi restaurante, onde ele lhe ofereceria o cardápio e ela poderia escolher qualquer coisa porque, afinal, seria por conta da casa e ele a acompanharia naquela escolha e em todas as outras que ela decidisse, mas não no adeus, que ele concordava necessário (mas pedia para que ela repetisse tantas vezes antes dos palavrões e da ligação cair, de um precipício imaginário, junto com ele.). C. imaginava o encontro em algum bar (também) onde logo após algumas doses ela se inclinaria um pouco para frente dando a entender que ele também poderia se inclinar um pouco mais para frente, e depois dos trâmites óbvios, dividiriam a conta e iriam para qualquer lugar que não fosse dele ou dela e que daquele dia em diante seria dos dois, naquela cidade que não lhes pertenciam. Mas não fora assim e nem deveria. Mas se encontraram num lugar neutro onde ele seria ele, o cara que fica atrás do balcão, e por isso, a afastaria para sempre e aos poucos.

Ele fora demasiadamente pequeno em tudo a ponto de C. não lhe caber, espaço apenas para uma cicatriz que a própria C. insiste para que ele esconda, faça alguma tatuagem ou sobreponha a outras cicatrizes, mas ele não consegue. Insiste na camisa branca engordura e em planejar sua vida sempre após o expediente do bar quase qualquer coisa, onde R. (outro R. como ele & mesmo tão jovem é tão velho e mesmo tendo tanto já não tem nada) lhe dedica "Last Night" no palco improvisado, com sua banda que, bem todos sabem, jamais saírá do perímetro urbano daquela cidade.

Namora B. que mesmo vindo antes de C. não quer dizer absolutamente nada.

sábado, 16 de julho de 2011

Sobre o tudo.

Como foi dito anteriormente, a minha novela "Movimento rápido dos olhos" saíra muito em breve, completa, com seus 10 pragmáticos capítulos. Devido a isso, não lançarei o restante da novela por aqui, como fazia em doses homeopáticas.

A série "Paulistanagens" também não será mais publicada aqui. Recentemente, recebi uma proposta para trabalhar em parceria com o ilustrador/quadrinista Raphael Andrade e iremos transformar o Paulistanagens em quadrinhos. Recebi hoje o primeiro esboço e não consigo esconder a minha ansiedade para que mais esboços povoem minha caixa de entrada e que, obviamente, deixem muito em breve de serem esboços.

Sansão vai bem, obrigada.

Até mais.

Movimento Rápido dos olhos


Para download em breve com seus 10 capítulos, finalmente.
Aguardem ou me esqueçam.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Diário de Bordo.

Com os atrasos sistemáticos das páginas do meu romance, resolvi criar uma espécie de diário de criação, como já fizeram inúmeros autores. É uma maneira prática de organizar idéias e manter prazos, e acima de tudo, no meu caso, de LEMBRAR destes prazos. Manterei duas versões, esta virtual abrigada nesta lata de lixo e uma fisica, num moleskine gracioso que ganhei do meu namorado e onde serei mais específica e detalhada em relação as pesquisas e a elaboração dos perfis das personagens. Lugar de destaque próximo ao monitor, espero me lembrar o motivo pelo qual estarei o deixando tão a vista.

A priori, ele é carinhosamente chamado de "Sansão", tem exatos 12 capítulos distribuídos em 62 páginas e 10 personagens. Nasceu entre setembro e outubro do ano passado, num insight a respeito do grande número de amigos jornalistas que possuo e fazem parte ativamente da minha vida (parece um motivo idiota, espero que compreendam que quanto mais jornalistas ao seu redor, mais sua visão sobre o mundo vai se aguçando. Ou não, puro romantismo então). Sim, "Sansão" gira em torno de uma redação de jornal. já posso adiantar aos que nunca receberam (a contragosto) excertos dos capítulos. Há toda uma pesquisa envolvida, desde entrevistas até visitas a redações (no moleskine há uma parte para orçamento, onde inclui gastos para REVISORES, afinal, percebe-se que meu português é falho em diversas ocasiões) mas enfim, aos poucos colocarei a disposição de vocês (parcos leitores) esse meu material.

Até mais.

sábado, 9 de julho de 2011

Movimento Rápido dos olhos - 5º capítulo

Trabalho de segunda a segunda e sorrio dizendo que se Bukowski (que era mediano, quase ruim o coitado) alcançou a glória eterna depois dos 50 (acho), eu ainda tinha tempo, não tinha?
Eu já tinha algumas rugas e muitas dívidas, um ótimo começo para um escritor. Acrescente a isso a incapacidade social de aproximação com o sexo oposto e a falta de prática com o manuseio de copos cheios de álcool. Conversas apócrifas com Dostoievski de bom humor em dias que Deus ex machina dava o ar de sua graça eram tão comuns quanto os insultos imaginados do caminho da padaria até minha casa devido à caixa (aquela vadia) que nunca me sorria .
Os papéis em branco espalhados pela casa eram um lembrete, bem claro, de que eu ainda seria um grande escritor. Mas quem se importa? Eu já era um escritor por QUERER ser um, e ninguém provaria o contrário, mesmo o desânimo e o meu desaparecimento (de mim mesmo) a cada página virada. O novo personagem nunca era eu.


Pra isso a gente dá o nome de determinação

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Movimento Rápido dos olhos - 4º capítulo

Para Guilherme Navarro, Antônio La Carne e Julio Perestrelo

e aos demais leitores.


Escrevo todos os dias para ela, um poema, um conto ou até mesmo uma crônica do meu dia de funcionário público do Estado, mal remunerado e completamente apaixonado por algo, ela, impossível aquisição porque ela, nossa, de todos. Elogia-me sempre e diz que vou longe com aquelas palavras, tão longe quanto possa ser meus sonhos, não digo, mas que são mais baratos que os da padaria. Ela desconfia das batidas escancaras do meu peito, disfarçadas pelas remessas de processos (kafkanianos) sobre a mesa que titubeio em sua presença, com um sorrio e alguns gestos que indicam “é, muito trabalho para pouco resultado”. Escondo dela que sei mais de Shakeaspeare do que as peças que ela já encenou um dia na sua juventude e que Keats sempre fora melhor que Byron, que eu detestava, mas que ela gostava tanto que dera ao seu gato o mesmo nome e jamais saberíamos que amor é aquele que morreria em 12 anos e que ficaria apenas nas lembranças. O nosso?

Eu achava que a amava, essa era a verdade. Mas descobri que era apenas um pretexto para escrever todos os dias alguma coisa a alguém.

Pra isso, a gente dá o nome de disciplina.

Sempre escrevo eu te odeio a lápis, me arrependo e apago, e escrevo a caneta eu te amo.

Um dia eu ainda pretendo não escrever mais nada.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Movimento Rápido dos olhos - 3º capítulo

Gosto de dizer que sou um escritor, olhar ao meu redor e ver sobre a mesa alguns dos meus livros, cada página um não a algo: vida social, televisão, jogos e a internet (em seus primórdios quando não desconfiávamos do monstro que alimentávamos com nossos restos). Alguns livros e alguma solidão, satisfatória para uma vida tranquila e inquieta para um ego que jamais se satisfaz com pequenas notas em jornais, em resenhas feitas sem emoção para revistas, com leitores tímidos que fingem que eu não sou eu, ou que sou eu e não gostaria de um elogio naquela fila do caixa ou entre uma prateleira e outra na livraria.

Confesso que a solidão se tornou satisfatória porque me conformei tão rápido me era necessário enfrenta-la. Não era medo ou fraqueza, mas sou maior que o isolamento que me foi dado em vida, entendem? Falando em vida, há sempre o desejo de se tornar mais do que um best seller ao lado dos romances adolescentes e os de auto ajuda, número um em revistas populares e sites muito acessados. Algo como ter um livro obrigatório nas escolas ou nos vestibulares, resenhas feitas pelos leitores para algum tipo de mídia dos intelectuais. Livros esquecidos em sebos e encontrados por jovens apaixonados, que pagariam qualquer coisa para me terem.

Queria também ser perguntinha de vestibular, essa coisa que decide a vida.

Meu ego é insaciável. Prá isso, a gente dá o nome de ambição

Para estar entre os melhores, antes de mais nada, preciso estar morto.